Há cada vez mais (e melhores) jogadores portugueses de FIFA

Videojogo ganha cada vez mais “estrelas” e, aos poucos, aproxima-se “das decisões”. “Há cada vez mais gente a jogar e a tentar chegar ao topo”, diz Francisco “Quinzas” Cruz, o único campeão do mundo de FIFA português.

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O nível competitivo do videojogo FIFA em Portugal, no que toca a equipas e competições organizadas no mercado de esports, vai crescendo e alguns jogadores aproximam-se “das decisões” e do topo mundial, apontam à Lusa membros da comunidade.

À Lusa, o primeiro e único campeão do mundo de FIFA português, em 2011, Francisco “Quinzas” Cruz, destaca o papel de alguns jogadores que têm conseguido resultados extraordinários, como Gonçalo “RastaArtur” Pinto e Diogo “Tuga810” Pombo, ambos na TS Warrior Player, que no Mundial de selecções de 2019 chegaram às meias-finais, ficando no top 8 do FIFA eWorld Cup.

Há cada vez mais gente a jogar e a tentar chegar ao topo, e termos dois jogadores no campeonato do mundo — e este ano teríamos pelo menos um [Diogo Mendes] — é algo de louvar, porque estamos muito atrás no que diz respeito a investimento das organizações, olhando para os outros países”, explica o treinador do Sporting, ainda hoje detentor do recorde de campeão mundial mais jovem de sempre, então com 16 anos.

O treinador natural da Trofa diz que embora a noção de que “com menos investimento, menos resultados” aparecem, Portugal tem contrariado essa tendência, “muito por mérito de três ou quatro jogadores que têm levado a nossa bandeira pelo mundo fora”.

O seleccionador nacional de futebol virtual, chamado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para apoiar os jogadores que representem o país em competições, diz mesmo que Portugal é por estes dias “das melhores selecções a nível mundial”.

“O ano passado provámos isso, com a chegada às meias-finais da eNations. Foi um marco muito bom para posicionar a selecção portuguesa de futebol virtual, mas o nível competitivo tem vindo a aumentar, porque há mais investimento por parte de entidades e clubes sérios que fazem bom trabalho, pelo aparecimento da FPF, pelas rotinas que trouxeram, também a Liga de futebol”, lembra Armando Vale.

O treinador, que trabalha ainda com uma empresa de produção e organização de eventos da área, lembra que as novas competições “trouxeram um ano de competição”, ao contrário de existirem apenas “algumas competições esporádicas”, o que “deu nova dinâmica ao ano competitivo”.

Na opinião do seleccionador, “Portugal vai continuar a evoluir”, mesmo que o feito de “Quinzas” “dificilmente se vá repetir”, deixando ainda assim a garantia de que os portugueses vão continuar “mais perto das decisões”.

Vale destaca nomes, como Diogo Mendes, que chegou ao quarto lugar do ranking mundial Xbox e em 31 de Julho ficou livre, e Bruno Rato, do Sporting, a JOliveira10, com outros valores emergentes, como o recentemente coroado campeão nacional, TiagoAraujo10, da FTW.

Esta variedade “era impensável há dois anos no cenário competitivo de FIFA”, algo potenciado pelo maior calendário competitivo, que fica mais enquadrado “com o internacional” e prepara os jogadores “muito melhor do que anteriormente”. “Grande parte deles precisa é de competição. Com esse ritmo competitivo, estão em muito melhor forma para quando têm de tentar a sua sorte internacionalmente”, sentencia o seleccionador.

Armando Vale menciona uma “conjuntura de vários factores” para o “salto” português, num videojogo em que a evolução parecia ter estagnado: o posicionamento “de alguns jogadores como estrelas”, a profissionalização de algumas competições, as “empresas de produção que criam em volta do espectáculo e dão as condições necessárias” e o inevitável “investimento dos stakeholders”, além da aposta de vários clubes.

Um exemplo do olhar do futebol “tradicional” para o mercado é a própria TS Warrior Player, que foi criada pelo argentino ex-Benfica Eduardo “Toto” Salvio, que contratou prontamente os dois semifinalistas do Mundial de 2019, mas também a aposta de Sporting, mais antiga, ou de Benfica, que entrou mais recentemente no mercado.

No entanto, dezenas de clubes de futebol de Norte a Sul do país, e dos mais variados graus de competição, dos profissionais às distritais amadoras, apostaram na secção, procurando o novo talento que possa trazer mais visibilidade — e receitas — para os orçamentos.

Estes méritos, avança Francisco Cruz, são “ainda mais de louvar” devido aos problemas que o agora “team manager” vê no FIFA, que na sua opinião tem um problema com “skill gap”, isto é, com a incapacidade em permitir aos jogadores demonstrarem a diferença de habilidades entre eles. “Se fizermos, por exemplo, o Mundial do ano passado dez vezes, vamos ter seis, sete, oito campeões diferentes. Ainda existe muita variabilidade. Aspectos psicológicos como a confiança, a concentração contam ainda mais”, refere.

Assim, e apesar de o jogo “envolver cada vez valores maiores”, o “progresso da habilidade não acompanha o dinheiro envolvido”, com demasiada inteligência artificial programada nos confrontos para que os jogadores possam demonstrar melhor o seu valor. “Outra das coisas de que nos queixamos muito são os servidores da EA, que para a quantidade de pessoas que joga o jogo e põe dinheiro no jogo, são muito, muito fracos, e por vezes interferem com a qualidade do jogo”, aponta ainda “Quinzas”.

O campeão do mundo refere que a possibilidade de garantir mais visualizações durante o período de confinamento devido à pandemia de covid-19, que aconteceu a nível global, acabou por ser gorada devido à incapacidade de organizar competições de alto nível online, por receios com a qualidade do jogo.

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