Ordem diz que norma da DGS sobre rastreio de contactos pode contribuir para aumento de casos

DGS desmente que norma leve à restrição de testes, explicando que “a possibilidade da realização de testes a contactos de casos confirmados de covid-19 sempre dependeu, e continua a depender”, da avaliação das autoridades de saúde.

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Miguel Manso

A Ordem dos Médicos advertiu este sábado que a norma da Direcção-geral de saúde (DGS) sobre o rastreio de contactos por covid-19 poderá contribuir para um aumento de casos, porque deixa de ser obrigatório realizar testes aos contactos de alto risco com infectados.

A posição da OM surge no dia em que o Expresso noticia que “os contactos de alto risco deixam de ser testados” com esta norma, uma situação que a Direcção-Geral da Saúde já negou em comunicado, assegurando que “não é verdade” que “Portugal vá reduzir o número de testes” e que a norma “exclua ou restrinja o universo de pessoas sujeitas à realização de testes”, tratando-se antes da formalização de procedimentos que já estavam a ser realizados pelas autoridades de saúde.

Apesar do esclarecimento da DGS, enviado na madrugada desde sábado, uma fonte da Ordem dos Médicos (OM) disse à agência Lusa que mantém a posição e defende que a norma deve ser revogada.

A OM diz que constatou “com preocupação que nos contactos de alto risco com casos de covid-19 deixa de ser obrigatória a realização de teste de diagnóstico laboratorial, ficando essa decisão ao critério da avaliação de risco feita pelas autoridades de saúde”.

“Não existindo limitação de recursos de diagnóstico, que seja do nosso conhecimento, devemos aproveitar esta fase e insistir para resolver os actuais surtos e preparar o país para uma segunda vaga, garantindo a retoma económica em pleno”, defende.

Para a OM, esta decisão vai em sentido oposto às boas práticas de “testar, testar, testar”, que têm vindo a ser defendidas por várias estruturas, nomeadamente pela própria Organização Mundial de Saúde. “Esta norma poderá contribuir para um aumento do número de casos no nosso país, mesmo que não identificados como tal, uma vez que atrasa a possibilidade de travar novas cadeias de transmissão secundárias geradas por doentes assintomáticos, mas que ainda não estão registados como “positivos” por não terem feito nenhum teste de diagnóstico, adverte.

DGS desmente alterações nos procedimentos

A DGS assegura, no comunicado, que não estão a ser violadas quaisquer indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Pelo contrário, as autoridades de saúde portuguesas continuam firmemente empenhadas na aplicação da estratégia de “testar, testar, testar”, o que já conduziu à realização em Portugal de mais de 1,6 milhões de testes, cuja percentagem de testes positivos vindo a diminuir de forma consistente ao longo das últimas semanas (2,9% na quarta-feira).

“A norma publicada nada altera a este respeito”, prevendo “justamente a realização de teste a contactos de alto risco, de acordo com a avaliação de risco pelas autoridades de saúde”, assegura a DGS. “A possibilidade da realização de testes a contactos de casos confirmados de covid-19 sempre dependeu, e continua a depender, da estratificação de risco efectuada pelas autoridades de saúde”, sublinha a DGS em comunicado.

A autoridade de saúde menciona que em países como a Austrália e Reino Unido “a realização de testes a
contactos de alto risco assintomáticos não está recomendada, excepto em situações específicas,
como situações de surto, dependendo sempre da avaliação das autoridades competentes” - à semelhança do que está previsto nesta norma que oficializa práticas que, de acordo com a DGS, já estão a ser realizadas a nível local. 

Acrescenta ainda que a posição do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) “é também neste sentido, ao enfatizar que relevante é o isolamento destes contactos”.

“Interesses políticos”

A OM afirma estranhar “a coincidência temporal da publicação desta norma, que surge numa altura em que o número de novas infecções no país estava a ter impacto externo ao nível do turismo”.

No seu entender, “é absolutamente inaceitável, e sobretudo muito perigoso para a saúde pública, que uma norma técnica de uma autoridade de saúde se subjugue aos interesses políticos”.

“Esta mudança na estratégia para responder a necessidades de curto prazo pode impedir-nos de concretizar um verdadeiro esmagamento da curva epidemiológica, prolonga a necessidade de manter circuitos covid-19 em toda a estrutura de saúde, com impacto negativo nos doentes não covid-19 que ficam com a resposta comprometida, e coloca-nos numa situação pior para o inverno”, alerta a OM.

Defende ainda ser essencial continuar “a conhecer as múltiplas dimensões do problema, caracterizando correctamente a realidade epidemiológica” para poder actuar em “conformidade e evitar o arrastar permanente desta primeira onda, com impacto na retoma clínica e também económica”.

Portugal contabiliza pelo menos 1737 mortos associados à covid-19 em 51.310 casos confirmados de infecção, segundo o boletim deste sábado da Direcção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com a DGS, em Portugal já foram realizados mais de 1,6 milhões de testes laboratoriais para SARS-CoV-2, “tendo a percentagem de testes positivos vindo a diminuir de forma consistente ao longo das últimas semanas (2,9% no dia 29 de Julho)”.

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