No maior cemitério da América Latina, cresceram as exumações para dar espaço aos mortos da covid-19

Desde Janeiro, já foram feitas cerca de 6500 exumações no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo. Entre mortes confirmadas e suspeitas, pelo menos dez mil pessoas morreram desde o início da pandemia.

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Coveiros do cemitério de Vila Formosa exumam restos mortais para abrir espaço para as vítimas de covid-19 Sebastiao Moreira/Lusa

No cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, estão a ser feitas exumações sem precedentes, para abrir espaço para as vítimas de covid-19 que não param de chegar ao maior cemitério da América Latina, onde estão enterrados os restos mortais de mais de 1,5 milhões de pessoas.

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No cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, estão a ser feitas exumações sem precedentes, para abrir espaço para as vítimas de covid-19 que não param de chegar ao maior cemitério da América Latina, onde estão enterrados os restos mortais de mais de 1,5 milhões de pessoas.

Nas últimas 24 horas, segundo os dados do Governo brasileiro, o Brasil registou 627 mortes por covid-19 e 20.647 novas infecções, totalizando 43.959 mortos e 888.271 infectados. São Paulo, a cidade mais afectada, ultrapassou a barreira das 100 mil infecções e há registo de 5474 mortes confirmadas e 4847 suspeitas.

Perante este cenário, que não dá sinais de abrandar, os coveiros de Vila Formosa não têm tido descanso. Segundo a agência Efe, antes da pandemia, realizavam-se 30 enterros por dia. Com a covid-19, o número mais que duplicou, uma tendência que se tem mantido nas últimas semanas e que está a causar enorme pressão sobre os trabalhos de exumação.

“O número de exumações aumentou por causa da necessidade de enterros, para desocupar espaço”, disse à Efe Wilker Costa, coveiro de 44 anos. Segundo o coveiro, antes da pandemia eram feitos 30 a 35 enterros diários e dez a 15 exumações. Com a covid-19, os enterros passaram para uma média de 70 por dia e as exumações aumentaram para 15 a 20 diárias.

De acordo com os dados revelados pela prefeitura de São Paulo, entre Janeiro e Maio foram realizadas 6469 exumações nos cemitérios municipais de São Paulo. Quanto aos enterros, aumentaram 37% relativamente ao mesmo período do ano passado, num total de 37.555 nos primeiros cinco meses deste ano.

Para dar resposta à elevada procura e evitar um colapso, como aconteceu em Manaus, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, ordenou a compra de 12 contentores, que deverão chegar nas próximas duas semanas, para aumentar ainda mais a capacidade de exumações, segundo o portal UOL.

Apesar da pressão colocada sobre os cemitérios, em Vila Formosa os prazos legais para as exumações estão a ser cumpridos. Conforme explica o G1, a exumação apenas pode ser feita três anos após o enterro. Quanto se procede a uma exumação, por norma, os familiares acompanham o processo e os restos mortais são colocados num ossário, com a devida identificação. Nos casos em que nenhum familiar reclama os restos mortais, o poder público pode proceder à exumação, desde que o prazo legal seja cumprido.

O Brasil é o segundo país mais afectado pelo SARS-Cov-2, atrás dos Estados Unidos. A curva pandémica mantém-se em crescendo, com as autoridades e os especialistas a esperarem que o pico seja alcançado nas próximas semanas.

No entanto, a economia do país já começou a reabrir. Em São Paulo, na semana passada, o comércio abriu com horários limitados. Um dos argumentos apresentados foi a redução da taxa de ocupação de camas nas unidades de terapia intensiva, que, neste momento, é de 59%.

Durante o fim-de-semana, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, foi diagnosticado com covid-19. Está assintomático, isolado e a participar em reuniões por videoconferência.