As “necessidades ligeiramente suplementares” do Novo Banco

Parece que o desejo de António Ramalho não será atendido, mas a história do Novo Banco é suficientemente negra para que o cidadão comum não se sinta sossegado.

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Daniel Rocha

É provável que estejamos numa espécie de estado de choque enquanto comunidade, a começar a sofrer de stress pós-traumático do confinamento enquanto fazemos contas à vida que nos reserva a iminente crise financeira – o Banco de Portugal veio ontem prever uma recessão de 9,5% do PIB. Não vai ficar tudo bem, ao contrário do que o mantra que procurou alegrar os dias cinzentos dizia. Se não ficar tudo mal, fica tudo pior do que era.

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É provável que estejamos numa espécie de estado de choque enquanto comunidade, a começar a sofrer de stress pós-traumático do confinamento enquanto fazemos contas à vida que nos reserva a iminente crise financeira – o Banco de Portugal veio ontem prever uma recessão de 9,5% do PIB. Não vai ficar tudo bem, ao contrário do que o mantra que procurou alegrar os dias cinzentos dizia. Se não ficar tudo mal, fica tudo pior do que era.

Num país em que o Presidente da República e o primeiro-ministro mostram o seu terror perante o que espera o sector do comércio e turismo desdobrando-se a fazer compras – ou a passear em centros comerciais –, o presidente executivo do Novo Banco, o gestor António Ramalho, vem dizer que o Estado tem de injectar mais dinheiro no poço sem fundo que dirige por causa da covid-19. “Necessidades de capital ligeiramente suplementares”, diz António Ramalho, com a simplicidade desarmante de quem vai ali e já vem. É demasiadamente escandaloso.

Vá lá, houve clamor nacional. O Presidente da República declarou-se “estupefacto”, o líder da oposição secundou a estupefacção, o novo ministro das Finanças mandou o gestor concentrar-se na gestão e disse que não haveria mais dinheiro do que o previsto. O Banco de Portugal também disse que não. Parece que o desejo de António Ramalho não será atendido, mas a história do Novo Banco é suficientemente negra para que o cidadão comum não se sinta sossegado.

Um processo é tudo menos transparente quando o contrato com o Estado não é conhecido durante séculos – finalmente chegou ao Parlamento o papel que há muito devia estar lá e ter sido escrutinado. Catarina Martins tem razão quando diz que “é inaceitável que um contrato seja escondido do país”. Não são admissíveis “estados de excepção” na relação do Estado com os bancos, como tem sido má prática em vários casos dos últimos anos, de que o Novo Banco é o mais recente exemplo.

Agora, finalmente, a Assembleia da República pode saber aquilo que deveria ter sabido desde o primeiro dia. A divulgação – ainda que tardia – é uma boa notícia. A forma como o ministro das Finanças lidou com “as necessidades de capital ligeiramente suplementares” anunciadas por António Ramalho, também.