Mais um semestre...

Antes, com as regras normais de funcionamento da universidade, se um exame tinha 1h30, eu, normalmente, poderia usar esse tempo nas perguntas que quisesse. Agora não. A minha autonomia não existe.

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Sinto que é necessário mais uma reflexão sobre o meu semestre académico. Mais uma para acrescentar a muitas. E não venho debruçar-me sobre os perigos e benefícios de certos caminhos que certas propostas académico-políticas podem encaminhar. Para isso existem muitos outros que o fazem melhor do que eu. Hoje, parto de um simples limiar: terminei as aulas do semestre — restando-me os famosos exames e um ou outro trabalho — e gostaria de partilhar a visão de aluno sobre toda esta marcha.

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Sinto que é necessário mais uma reflexão sobre o meu semestre académico. Mais uma para acrescentar a muitas. E não venho debruçar-me sobre os perigos e benefícios de certos caminhos que certas propostas académico-políticas podem encaminhar. Para isso existem muitos outros que o fazem melhor do que eu. Hoje, parto de um simples limiar: terminei as aulas do semestre — restando-me os famosos exames e um ou outro trabalho — e gostaria de partilhar a visão de aluno sobre toda esta marcha.

Recapitulando: as aulas são online. Os alunos pouco participam. As aulas são mais céleres. As partilhas de ecrã funcionam. Os áudios dos microfones operam quando estão ligados. As câmaras ligam-se para os que quiserem. A quantidade de trabalhos aumentou. Os testes continuam lá... Na verdade, tudo se mantém igual. Só que não.

Os testes agora têm tempo para cada pergunta. Na verdade, nem podes rever o que fizeste há dez minutos. Em que ambiente profissional isto acontece? Um local onde não podes rever os resultados que geraste, onde a tua resposta é definitiva, simplesmente porque não tiveste tempo para mais nada. É isto que se espera de um profissional? Que tenha os melhores resultados em 10 minutos ou que seja capaz de obter as melhores respostas em uma hora, sendo para isso capaz de analisar as muitas variáveis associadas ao problema?

Talvez seja eu mal-habituado. Antes, com as regras normais de funcionamento da universidade, se um exame tinha 1h30, eu, normalmente, poderia usar esse tempo nas perguntas que quisesse. Agora não. A minha autonomia não existe. Limito-me a seguir os tempos definidos. Certamente que deve ser esta falta de autonomia que uma empresa requer. Quando entrar no mercado de trabalho vou esperar que as soluções me apareçam à frente.

E tudo isto porquê? Porque se quer, naturalmente, garantir que os alunos adquiram os conhecimentos e que a sua avaliação corresponda à aprendizagem obtida. Toda esta bonita frase é inspiradora de uma academia perfeita. Tal não é possível, lamento. Não era nos antigos modelos. Não é, garantidamente, nos actuais modelos pandémicos. Agravou-se na avaliação à distância, pelo facto de os professores terem os receios de os alunos copiarem. Nem mesmo com programas de bloqueamento de ecrãs e câmaras e áudios ligados obrigatoriamente apontados para o aluno e para o computador impedem toda a criatividade dos mesmos. Saem beneficiados os que tem vários computadores ou pessoas externas para os ajudar.

Apresento duas simples possíveis soluções. Se querem continuar com estes modelos de exames de duas horas para avaliar conteúdos de quatro meses e em que não conseguem controlar “copianços”, deixo a sugestão de elaborar exames em que não se consiga copiar (sem que a incógnita do tempo seja a equação mais complicada de resolver), promovendo questões de maior raciocínio e de respostas mais abertas. Eu sei, amigos professores, dá trabalho. A cadeira tão prestigiada que envergam é tão pesada que as capacidades de mudança são próximas de nulas. Eu sei, fazer um exame de escolha múltipla em que a classificação aparece no fim é óptimo para toda a gente, excepto para a qualidade do ensino. Outra solução? Avaliação por modelos de projecto. Dá trabalho, eu sei...

Nem aqui debato outros grandes pormenores da protecção de dados, da utilização de imagens (câmaras e áudio), o espaço adequado à actividade de aula e exame, se temos todos as mesmas condições em casa para elaborar o exame. É certamente igual eu estar a realizar um exame sozinho em casa e estar a realizá-lo com dois filhos ao lado. No meio disto acentuaram-se as desigualdades. E como em todo o lado, há professores flexíveis e outros não tanto.

Ainda assim, e parecendo contraditório, não posso deixar de elogiar todo o caminho realizado, que não pode ser parado agora. Interessa-nos agora perceber como podemos usar o que aprendemos agora no nosso sistema de ensino.