Operação mundial leva à recuperação de 19 mil relíquias culturais roubadas

Desencadeada em Julho do ano passado, envolveu a Interpol, Europol, Organização Mundial das Alfândegas e polícias de vários países. Os responsáveis da operação deixam o alerta: o combate ao tráfico de bens culturais deve estar a par do combate ao tráfico de drogas e armas. Os grupos envolvidos são os mesmos.

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As 242 peças apreendidas na Colômbia representam o maior resgate de bens culturais na história do país Interpol

Uma raríssima máscara de ouro pré-colombiana dos Tumaco, habitantes da actual Colômbia. Milhares de moedas romanas, bem como um friso, uma escultura de um leão em calcário e três colunas datadas dos séculos I e II a.C. São apenas algumas das 19 mil relíquias recuperadas numa operação conjunta da Interpol, Europol, Organização Mundial das Alfândegas e polícias nacionais de vários países — de Espanha à Roménia, da Argentina à Colômbia, da Letónia ao Afeganistão — que resultou na prisão de 101 pessoas em todo o mundo.

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Uma raríssima máscara de ouro pré-colombiana dos Tumaco, habitantes da actual Colômbia. Milhares de moedas romanas, bem como um friso, uma escultura de um leão em calcário e três colunas datadas dos séculos I e II a.C. São apenas algumas das 19 mil relíquias recuperadas numa operação conjunta da Interpol, Europol, Organização Mundial das Alfândegas e polícias nacionais de vários países — de Espanha à Roménia, da Argentina à Colômbia, da Letónia ao Afeganistão — que resultou na prisão de 101 pessoas em todo o mundo.

Nomeada Pandora IV-Athena II, a operação, cuja conclusão foi revelada esta quarta-feira, foi desencadeada em Julho de 2019 e envolveu 103 países. O comunicado da Guardia Civil espanhola detalha que, só em Espanha, foram inspeccionados 271 locais relacionados com o mercado de arte, tendo sido levadas a cabo mais de 750 acções em locais de interesse histórico e sítios arqueológicos. A máscara de ouro Tumaco, bem como várias outras relíquias de civilizações pré-colombianas, foram recuperadas no aeroporto de Barajas, em Madrid, adquiridas ilegalmente na sequência da sua pilhagem na Colômbia. As três colunas romanas, por sua vez, encontravam-se a decorar o jardim de um palacete em Sevilha. Em Bogotá, a recuperação de 242 artefactos pré-colombianos representa o maior resgate de bens históricos na história do país.

Combater um “fenómeno global"

Catherine de Bolle, directora-executiva da Europol, declarou, citada pelo Guardian, ser imperativo que o mundo trabalhe em conjunto para combater um “fenómeno global” com ramificações bem mais profundas que o simples tráfico de arte. “O crime organizado tem muitos rostos. O tráfico de bens culturais é um deles: não é um negócio glamoroso gerido por cavalheiros falsificadores extravagantes, mas por redes criminosas internacionais”. 

Além do trabalho no campo, a investigação dedicou especial atenção aos mercados de arte online. A polícia italiana, em articulação com a Interpol, recolheu aí dados que permitiram a recuperação de quase 9 mil relíquias disponibilizadas para venda. As redes criminosas dispersam as suas atenções pelos locais óbvios, como museus e sítios arqueológicos, e aproveitam-se especialmente de locais que, devido a conflitos armados ou a fortes tensões sociais, não tenham capacidade para proteger devidamente os bens culturais a seu cargo.

“O número de prisões e de objectos [recuperados] mostra a escala e o alcance global do comércio ilícito de relíquias culturais. Qualquer país com um património rico é um alvo potencial”, afirmou Jürgen Stock, secretário-geral da Interpol, acentuando o mesmo ponto realçado pela sua congénere na Europol. Tendo em conta as elevadas quantias de dinheiro envolvido, bem como o “secretismo” com que as transacções são feitas naquele mercado, “isto representa também uma oportunidade para lavagem de dinheiro e fraude, bem como para o financiamento de redes de crime organizado”.