Covid-19: Wuhan foi reaberta depois de 76 dias de isolamento, e 65 mil pessoas deixaram a cidade

Os 11 milhões de habitantes da cidade chinesa já podem sair de comboio, avião e carro, desde que não estejam infectados ou não tenham estado em contacto com quem está. Mais de 65 mil pessoas saíram de Wuhan nas primeiras horas depois do levantamento das restrições.

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Isolada há mais de dois meses, Wuhan, na província chinesa de Hubei, deu nesta quarta-feira mais um passo no regresso à possível normalidade. As autoridades levantaram as restrições à circulação dos seus habitantes abrindo auto-estradas, pontes e túneis, e permitiram a circulação de comboios, autocarros e voos domésticos. 

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Isolada há mais de dois meses, Wuhan, na província chinesa de Hubei, deu nesta quarta-feira mais um passo no regresso à possível normalidade. As autoridades levantaram as restrições à circulação dos seus habitantes abrindo auto-estradas, pontes e túneis, e permitiram a circulação de comboios, autocarros e voos domésticos. 

Quem quiser sair da cidade de comboio ou avião é obrigado a mostrar na porta de embarque um código de barras (QR) das aplicações WeChat ou Alipay, para provar não estar infectado e que não esteve com pessoas infectadas, e a medir a temperatura – medida que as autoridades de saúde de vários países têm dúvidas sobre a sua eficácia, por a febre poder ser indicativa de outro problema de saúde e não necessariamente de se estar infectado. 

As restrições são mais duras para quem quiser viajar para Pequim. Neste caso, os cidadãos têm de se submeter a um teste ao coronavírus e apenas são autorizados a seguir viagem se der negativo, diz o Beijing Daily

Mais de 65 mil habitantes abandonaram a cidade de comboio ou avião nas primeiras horas depois do levantamento das restrições, de acordo com a Associated Press. As auto-estradas e pontes também foram abertas, facilitando ainda mais a saída da cidade. 

“Estou muito feliz, estou a ir para casa”, disse à Reuters a trabalhadora migrante Liu Xiaomin ao entrar na estação de comboios de Wuhan para regressar à cidade de Xiangyang. “Estávamos tão aborrecidos em casa, mas compreendemos finalmente e vamos cooperar”, disse ao South China Morning Post Zhang Jinyu, de 58 anos, sublinhando que apenas quer que o “surto passe para se poder circular livremente”. 

Os 11 milhões de habitantes da cidade onde o primeiro caso de coronavírus foi detectado, em Dezembro, viveram isolados do resto da China por 76 dias, a partir de 23 de Janeiro. As autoridades perceberam que o vírus era altamente contagioso e que eram necessárias medidas drásticas para se evitar a propagação ao resto do país – houve 81.600 casos e 3322 mortes só na província de Hubei, havendo dúvidas sobre se são o número total

O levantamento das restrições à circulação marca o “recomeço completo” das actividades económicas e sociais na China, disse Luo Ping, responsável de controlo epidemiológico de Wuhan. “Depois de o trabalho e a produção recomeçarem, o movimento de pessoas e risco de contágio em ajuntamentos em massa vão aumentar. Alguns residentes baixaram a guarda e não estão a usar máscara quando vão para a rua”, disse o responsável ao canal chinês CCTV, citado pela CNN, salientando que “a reabertura de Wuhan não significa que esteja tudo bem, nem que as medidas de prevenção e controlo da epidemia devam ser relaxadas”. 

Algumas das medidas mais duras foram gradualmente levantadas nas últimas semanas, mas a saída de Wuhan continuou proibida até esta quarta-feira. As pessoas já podiam circular pela cidade e regressar ao trabalho, mas apenas sob fortes medidas de seguranças, e aquelas que, segundo as aplicações, não estejam infectadas ou não tenham estado em contacto com infectados. A China foi pioneira no uso de aplicações de telemóvel para rastrear a propagação do vírus, sendo seguida por muitos outros países, como Israel.

A reabertura da cidade acontece num momento em que as autoridades chinesas estão preocupadas com a possibilidade de um segundo surto em Wuhan ou noutras partes do país. Uma vez controlado o surto inicial, a maioria dos casos detectados nas últimas semanas foram importados de outros países, obrigando Pequim a suspender a entrada a estrangeiros, e nos últimos oito dias quase um terço dos casos (601 em 885, 68%) é de pessoas assintomáticas, de acordo com a Comissão Nacional de Saúde. E do total das assintomáticas, 279 foram identificadas em Hubei, depois de não ter relatado, por mais de uma semana, qualquer caso, suscitando dúvidas

Apesar de o número de assintomáticos ser elevado, Leo Poon Lit-man, director do laboratório de saúde pública da Universidade de Hong Kong, salienta que a amostra ainda é pequena, não se podendo retirar, por enquanto, grandes conclusões. “Não sabemos o que estes números significam sem ter as mesmas informações [de paciente assintomáticos] para os últimos três meses”, disse ao South China Morning Post. “Mas o que sabemos é que estes pacientes podem estar pré-sintomáticos ou infectar [outras pessoas] apesar de não terem sintomas.” 

Os pacientes assintomáticos são os mais difíceis de identificar e, de acordo com a revista científica Science, os casos não detectados foram “em grande parte” responsáveis pela disseminação da covid-19 na província de Hubei.