Portugal vai emitir mais dívida. Emissão sindicada já está a ser preparada

Com o Estado a precisar de se financiar mais para responder à crise, o Tesouro português reviu em alta os montantes de dívida que planeia emitir nos mercados durante os próximos meses

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Cristina Casalinho, presidente do IGCP Nuno Ferreira Santos

As maiores necessidades de financiamento que o Estado português vai ter devido à crise trazida pelo coronavírus forçaram o Tesouro a rever a sua estratégia de emissão de dívida, reforçando os montantes colocados no mercado. Esta quarta-feira deverá já ser realizada uma emissão sindicada de dívida a sete anos.

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As maiores necessidades de financiamento que o Estado português vai ter devido à crise trazida pelo coronavírus forçaram o Tesouro a rever a sua estratégia de emissão de dívida, reforçando os montantes colocados no mercado. Esta quarta-feira deverá já ser realizada uma emissão sindicada de dívida a sete anos.

De acordo com a agência Reuters, que obteve esta informação junto de uma das entidades mandatadas pelo Tesouro para realizar a operação, Portugal está a preparar para muito breve (normalmente no dia seguinte a este anúncio) a realização de uma emissão de dívida a sete anos, recorrendo a um sindicato bancário.

Geralmente, a utilização deste tipo de emissão acontece quando são lançadas novas séries de obrigações do tesouro. Ao contrário de um simples leilão de dívida, o conjunto de bancos mandatado para fazer a operação avalia junto dos investidores os níveis de procura existente, uma forma de assegurar o sucesso de uma operação que normalmente envolve montantes bastante mais elevados do que os leilões regulares de dívida que se realizam depois.

No caso desta emissão sindicada, os bancos mandatados são, de acordo com a Reuters, o Caixa BI, Barclays, BBVA, Crédit Agricole CIB, JP Morgan e Morgan Stanley.

A notícia da preparação desta emissão sindicada de dívida acontece no mesmo dia em que a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP anunciou um reforço dos volumes de dívida que planeia emitir “em resposta ao acréscimo de financiamento necessário para 2020, causado pela pandemia da covid-19”.

Deste modo, durante o segundo trimestre do ano, o IGCP irá aumentar em 250 milhões de euros o montante de dívida que irá emitir em cada leilão de obrigações de tesouro (títulos de dívida de longo prazo), operações que podem ocorrer de quinze em quinze dias.

O comunicado do IGCP – entidade liderada por Cristina Casalinho – diz que no próximo trimestre prevê realizar emissões de OT “através da combinação de sindicatos e leilões, sendo esperadas colocações de 1250 a 1500 milhões de euros por leilão”.

E no que diz respeito às emissões de Bilhetes de Tesouro (títulos de dívida de curto prazo), o valor que se espera emitir em 2020 passa de 1300 milhões de euros para 3100 milhões de euros.

Portugal, tal como acontece com a generalidade dos países, deverá, como consequência da crise económica resultante da pandemia, ver as contas públicas caminharem para uma situação de maior desequilíbrio, com um aumento previsível dos níveis de dívida pública. Para além do aumento da despesa pública relacionada com as medidas adoptadas de combate à crise, a contracção económica prevista deverá ainda conduzir a uma diminuição automática da receita fiscal e a um aumento das despesas de carácter social, como o subsídio de desemprego.

Neste momento, Portugal beneficia, nas colocações de dívida que realiza nos mercados, de taxas de juro bastante mais baixas do que as habitualmente praticadas no passado. Esta terça-feira, as transacções de dívida realizadas entre investidores no mercado secundário estão a ser realizadas, no prazo de 10 anos, a uma taxa de juro ligeiramente acima de 0,8% (a sete anos, as taxas estão perto de 0,56%).

No entanto, este valor regista-se após um período de variações muito fortes nas últimas semanas. Imediatamente antes do início da crise, os valores praticados eram ainda mais baixos, com as taxas de juro a 10 anos em valores próximos de 0,3%.

As taxas depois subiram, em sintonia com o que aconteceu noutros países do sul da Europa, como a Itália e a Espanha, e chegaram a estar acima dos 1,2%.

Na semana passada, a intervenção decidida do BCE, anunciando a realização quase ilimitada de compras de dívida dos países da zona euro, voltou a trazer as taxas de juro para baixo, até aos níveis actuais.