Miliciano suspeito no assassínio de Marielle é morto em operação policial

O antigo capitão de operações especiais Adriano da Nóbrega disse ao seu advogado que ia haver uma operação policial para o matar. Era apontado como um dos envolvidos no homicídio da vereadora do PSOL. do Rio de Janeiro, e a sua família tem ligações a Flávio Bolsonaro.

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Ainda não se sabe quem ordenou o assassinato da vereadora do PSOL Ricardo Moraes/REUTERS

Há mais de um ano que era um dos homens mais procurados no Brasil e apontado como um dos envolvidos no homicídio da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, em 2018. Adriano Magalhães da Nóbrega, antigo capitão de operações policiais e líder do grupo de assassinos Escritório do Crime, foi este domingo morto numa operação policial na zona rural de Esplanada, na Bahia. O seu advogado revelou que o seu cliente temia ser morto para se apagar o rasto do assassínio.

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Há mais de um ano que era um dos homens mais procurados no Brasil e apontado como um dos envolvidos no homicídio da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, em 2018. Adriano Magalhães da Nóbrega, antigo capitão de operações policiais e líder do grupo de assassinos Escritório do Crime, foi este domingo morto numa operação policial na zona rural de Esplanada, na Bahia. O seu advogado revelou que o seu cliente temia ser morto para se apagar o rasto do assassínio.

“Ele [Adriano] disse que essa operação não seria para prendê-lo, mas para matá-lo”, disse ao El País Brasil o advogado do miliciano Paulo Emílio Catta Preta, que dias antes recebeu uma chamada do seu cliente. Catta Preta aconselhou o antigo capitão a entregar-se à polícia para que não fosse morto e este, em resposta, disse-lhe que não o faria por ter a “certeza que seria morto logo em seguida, por ‘queima de arquivo’”. “Não sei quem poderia querer matá-lo, mas hoje de manhã [domingo] fui surpreendido com a morte.”

A chamada foi o único contacto directo que o advogado teve com o seu cliente, foragido, quando aceitou o caso, há oito meses, por comunicarem por meio dos familiares do antigo polícia militar. “Quando entrei no caso, ele já estava foragido. E eu nunca tive nenhum contacto directo neste período”, disse Catta Preta.

O antigo capitão foi localizado  numa casa propriedade de Gilsinho da Dedé, vereador do PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, em Esplanada, na Bahia, e elementos do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) avançaram. Trocaram-se tiros e Magalhães da Nóbrega foi ferido, acabando acabou por morrer a caminho do hospital, de acordo com a versão das autoridades. Os militares do BOPE encontraram uma pistola e outras três espingardas na casa.

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Adriano Magalhães de Nóbrega foi ferido pela polícia e acabou por falecer a caminho do hospital, de acordo com a versão das autoridades D.R.

Há um ano que Nóbrega era investigado pelas autoridades, que tentavam apurar o seu paradeiro, por liderar o grupo de assassinos Escritório do Crime e a milícia de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro. Ainda que o seu nome não conste no inquérito ao assassínio de Marielle Franco e Anderson Gomes, era apontado pelas autoridades como um dos envolvidos, por um dos supostos assassinos, o ex-polícia militar Ronnie Lessa, ser suspeito de pertencer ao Escritório do Crime.

Lessa é acusado de ter premido o gatilho contra a vereadora e o seu motorista, enquanto o ex-polícia militar Élcio Queiroz, camarada de armas de Nóbrega no 18.º Batalhão da Polícia Militar, é referido como condutor do carro usado no crime. As autoridades, diz a Folha de São Paulo, investigam ligações entre Lessa e o grupo de assassinos de Magalhães da Nóbrega, a que se juntam as ligações entre este último e Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro.

O militar do BOPE foi citado na investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a “rachadinha” (esquema de funcionários-fantasma de assessoria a cargos públicos para desviar dinheiro) no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A mãe e a ex-mulher de Nóbrega eram as funcionárias-fantasma e foram-no pela mão do então assessor de Bolsonaro Fabrício Queiroz. E, anos antes, em 2005, Nóbrega foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes, a mais alta honra da Assembleia Legislativa do Rio.

A morte de Adriano da Nóbrega e as declarações do seu advogado levantaram suspeitas sobre as circunstâncias da operação policial e o PSOL, partido de esquerda pelo qual Marielle Franco foi eleita vereadora do Rio de Janeiro, exigiu uma investigação. O miliciano era uma “peça chave para revelar os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson”, lê-se numa nota divulgada pelo PSOL, mais tarde alterada para deixar de referir o homicídio: “Era peça chave para revelar diversos crimes, incluindo aqueles envolvidos [Fabrício] Queiroz e Flávio Bolsonaro”.