Facebook acusado de difundir “desinformação” sobre medicamento contra o VIH

Algumas organizações e activistas LGBTI garantem que os anúncios não têm base científica e acusam o Facebook de contribuir para “desinformação”.

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Sebastião Almeida/arquivo

Chama-se Truvada e é um medicamento da farmacêutica Gilead, indicado para a profilaxia pré-exposição (PrEP) que reduzirá drasticamente a probabilidade de transmissão do VIH em populações de risco, como parceiros de pessoas seropositivas. Ao longo das últimas décadas, tem sido usado como uma importante estratégia de prevenção do VIH até que, nos últimos meses, vários anúncios começaram a circular no Facebook e Instagram dando conta de alegadas contra-indicações do medicamento.

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Chama-se Truvada e é um medicamento da farmacêutica Gilead, indicado para a profilaxia pré-exposição (PrEP) que reduzirá drasticamente a probabilidade de transmissão do VIH em populações de risco, como parceiros de pessoas seropositivas. Ao longo das últimas décadas, tem sido usado como uma importante estratégia de prevenção do VIH até que, nos últimos meses, vários anúncios começaram a circular no Facebook e Instagram dando conta de alegadas contra-indicações do medicamento.

Os anúncios incluem mensagens alertando para os “efeitos secundários de tomar um medicamento para o VIH”. Outro anúncio chega mesmo a insinuar, cita o Guardian, que “os fabricantes dispunham de um medicamento mais seguro e mantiveram-no em segredo”. Entre os efeitos secundários mencionados está a suposta perda de densidade óssea e problemas renais. Segundo o Guardian, um dos anúncios é financiado pelo escritório de advogados KBA Attorneys, com sede no estado norte-americano da Virgínia. O objectivo será direccionar a publicidade a membros da comunidade LGBTI, de forma a angariar potenciais clientes que tenham sido vítimas de tais efeitos secundários.

Algumas organizações e activistas LGBTI garantem que os anúncios não têm base científica ou clínica e acusam o Facebook de contribuir para a “desinformação”. Tais anúncios, dizem, poderão levar a um alarmismo injustificado e reverter décadas de progresso no combate ao VIH.

“A PrEP é segura e, no geral, bem tolerada [pelos doentes]”, garante ao Guardian o sociólogo e especialista em sexualidade, medicina e direito Trevor Hoppe. “Qualquer desinformação contrária poderá ser prejudicial para a saúde pública, especialmente para as comunidades mais afectadas [pelo VIH] como os homens homossexuais nos Estados Unidos”, sublinha.

Já a organização norte-americana San Francisco Aids Foundation explica que os efeitos secundários do Truvada “não são clinicamente significativos”, destacando que os estudos demonstraram que este medicamento “causa uma diminuição de 1% da densidade mineral óssea”, condição que é imediatamente revertida quando se procede à interrupção do tratamento.

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Por sua vez, a organização não-governamental Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD) publicou, na passada segunda-feira, uma carta aberta, assinada por mais de 50 organizações LGBTI e de saúde pública e por políticos como o governador de Nova Iorque Andrew Cuomo e a senadora pelo estado de Massachusetts Elizabeth Warren. A carta apela ao Facebook que remova os anúncios “enganosos” e que se comprometa a levar a cabo “uma revisão e possível actualização das políticas de publicidade actuais para impedir que declarações falsas e enganosas cheguem aos utilizadores”, salientando que esta é uma questão de “saúde pública”.

Rich Ferraro, director de comunicação da GLAAD, revela ao Guardian que existem vários anúncios semelhantes, que chegam a ter milhões de visualizações, financiados por escritórios que tentam dar resposta legal a pessoas que sofreram danos pessoais (personal-injury law firms, na expressão em inglês). Através da Biblioteca de Anúncios do Facebook, o Washington Post verificou que estão disponíveis seis anúncios anti-PrEP, financiados por empresas como a Lawsuit Watch e a Advocate Alliance Group.

“Chegar a zero”

Uma das primeiras conquistas foi transformar uma sentença de morte numa doença crónica, controlável com o tratamento adequado. O próximo objectivo tem sido, ao longo das últimas décadas, atingir o zero: zero novas transmissões, zero mortes por complicações derivadas do VIH e zero estigma.

Porém, de acordo com as associações LGBTI, tais publicidades podem ter impacto negativo junto da população em geral, mas também junto de comunidades mais desprotegidas, como é o caso dos profissionais do sexo e utilizadores de drogas.

Quando a GLAAD tentou contactar a equipa responsável pelas políticas da empresa, o Facebook redireccionou a organização para uma página pública sobre as políticas de publicidade, que lista várias razões pelas quais a rede social poderá remover anúncios, incluindo “desinformação”. No entanto, segundo Ferraro, para tal acontecer é necessário haver uma intervenção por parte de um especialista ou de uma agência de verificação de conteúdos externa.

Até agora, o Facebook não alterou a sua política nem eliminou os anúncios.