Assembleia do Livre critica atitude de Joacine, mas não aplica qualquer sanção

As recomendações são feitas pela Assembleia do partido que esteve reunida nos dois últimos dias para discutir o parecer da Comissão de Ética e de Arbitragem. Não foram decididas sanções, mas partido diz que vai trabalhar para evitar a pessoalização da mensagem política.

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Joacine Katar Moreira (Livre) daniel rocha

Trabalhar a comunicação e privilegiar a apresentação e debate das propostas políticas do partido, em detrimento da pessoalização da mensagem política. Estas são duas das nove recomendações feitas pela assembleia do Livre depois de dois dias de “debate construtivo” e dos recados enviados pelo partido à deputada eleita. 

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Trabalhar a comunicação e privilegiar a apresentação e debate das propostas políticas do partido, em detrimento da pessoalização da mensagem política. Estas são duas das nove recomendações feitas pela assembleia do Livre depois de dois dias de “debate construtivo” e dos recados enviados pelo partido à deputada eleita. 

Na base destas considerações e recomendações, na sequência das quais não há “repercussões disciplinares”, está o conflito entre a direcção do Livre (o chamado grupo de contacto) e a deputada Joacine Katar Moreira sobre a polémica de há duas semanas em torno do voto sobre a Palestina e os comunicados e declarações cruzadas​ que geraram uma tensão interna no partido fundado por Rui Tavares.

Para evitar que o desencontro se repita, a assembleia do Livre apela à direcção e a Joacine Katar Moreira que trabalhem a sua confiança “ultrapassando o clima de desentendimento decorrente de mal entendidos e divergências” passadas.

Além da confiança e compromisso em trabalhar a comunicação do partido e do gabinete parlamentar, a assembleia do Livre apela a uma mudança no discurso que tem sido feito, vincando que “deve privilegiar a apresentação e debate das propostas políticas do partido, em detrimento da pessoalização da mensagem política”, no que parece ser um recado dirigido à deputada eleita.

Depois de dois dias a ouvir os protagonistas da polémica, a assembleia considerou que Joacine Katar Moreira não explicou cabalmente os factos relativos às falhas de comunicação na votação e na troca de comunicados e acusações com a direcção. A assembleia vinca por isso “que não se revê nas declarações efectuadas pela deputada à comunicação social relativamente a uma suposta falta de apoio do grupo de contacto e da direcção de campanha”.

E acusa o gabinete parlamentar de não ter adoptado uma postura de reserva” para salvaguarda dos envolvidos e do partido e de não ter conseguido gerir da melhor forma a sua relação com a comunicação social.

Explicações da direcção foram “satisfatórias”, as de Joacine nem por isso

Por outro lado, sobre a direcção, a avaliação é outra. A assembleia “considera satisfatórias as explicações e declarações do grupo de contacto” com Joacine Katar Moreira. Não obstante, tece alguns apontamentos negativos: a emissão do comunicado sobre o voto sobre a Palestina foi “precipitada” e “lamenta não ter sido informada pelo grupo de contacto [direcção] dos problemas que foram surgindo durante a campanha eleitoral​”.

Ainda assim, a assembleia “reafirma a confiança política no grupo de contacto” e pede à direcção do partido que “faça a partir daqui o acompanhamento de toda a matéria relativa a esta resolução”.

No comunicado, diz ainda que as declarações prestadas por Joacine Katar Moreira ao Observador e ao Notícias ao Minuto - nas quais a deputada se queixou da alegada falta de apoio da direcção do partido e disse estar a ser vítima de um “golpe” - foram “gravosas para a honra e dignidade do partido, dos seus membros, apoiantes e simpatizantes, assim como dos seus órgãos”. A assembleia lamenta ainda “profundamente” não só as declarações como a inexistência de um “pedido de desculpas” e por isso espera “que esta situação não se venha a repetir”.

Ainda neste ponto, a assembleia do Livre reafirmou “o voto de agradecimento, o empenho e apoio dos membros e apoiantes do Livre, da direcção de campanha e do grupo de contacto durante a campanha eleitoral”, desmentindo as declarações da deputada acerca da alegada falta de apoio da máquina partidária.

​No parecer da comissão de ética e arbitragem, lê-se que “não cabe a esta comissão (...) avaliar se os pontos de clivagem ocorridos, apesar de não terem relevância disciplinar, terão ou não consequências em termos de perda de confiança política nas relações entre a deputada Joacine Katar Moreira e o Livre. No que respeita ao Livre, essa é uma avaliação que tem de ser feita pelo órgão competente do partido, ou seja, pela assembleia”.

No entanto, nas suas considerações, a comissão de ética e arbitragem envia alguns recados: “a articulação política com os eleitos pelo partido, nomeadamente entre o grupo de contacto [direcção do partido], a deputada do Livre [Joacine Katar Moreira] e o seu grupo parlamentar, tem de ser melhorada”. No mesmo parágrafo, o órgão ressalva que “a matriz ideológica do Livre não foi afectada”. 

Ao longo da última semana, a comissão de ética e arbitragem analisou todos os documentos (sobretudo troca de emails) que foram enviados para análise da situação, ouviu os membros do grupo de contacto, a deputada e dois elementos do seu gabinete parlamentar.

Sem se referir às declarações do assessor de Joacine Katar Moreira e à escolta da GNR para que Joacine Katar Moreira não respondesse aos jornalistas, a assembleia do Livre lembra que “privilegia um relacionamento cordato com os órgãos de comunicação social, respeitando o trabalho dos jornalistas, sem o prejuízo da normal crítica cívica e democrática”.