Quem foram as primeiras mulheres portuguesas “a abrir caminho”?

São 59 pioneiras desde o século XVI até aos dias de hoje. Luísa de Paiva Boléo e Margarida Pereira-Müller consideram que “o mundo ainda está desigual”.

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A ilustração da capa é da autoria de Isa Silva DR

Sabe quem foi a primeira pára-quedista, a primeira submarinista, a primeira calceteira, a primeira jornalista ou a primeira mulher a tirar carta de pesados? O novo livro de Luísa de Paiva Boléo e Margarida Pereira-Müller, As Primeiras, dá a conhecer as pioneiras portuguesas num mundo de homens. São 59 mulheres revolucionárias, desde o século XVI à actualidade. O título da Esfera dos Livros é apresentado na tarde desta quinta-feira, na Fnac do Colombo, em Lisboa.

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Sabe quem foi a primeira pára-quedista, a primeira submarinista, a primeira calceteira, a primeira jornalista ou a primeira mulher a tirar carta de pesados? O novo livro de Luísa de Paiva Boléo e Margarida Pereira-Müller, As Primeiras, dá a conhecer as pioneiras portuguesas num mundo de homens. São 59 mulheres revolucionárias, desde o século XVI à actualidade. O título da Esfera dos Livros é apresentado na tarde desta quinta-feira, na Fnac do Colombo, em Lisboa.

Luísa de Paiva Boléo, historiadora, sonha com este livro há muitos anos. Quando conheceu a jornalista Margarida Pereira-Müller, numa feira do livro em Lisboa, soube que tinha encontrado a parceira de escrita ideal, conta ao PÚBLICO. Tudo começou na infância da historiadora, quando guardava recortes de jornais para o pai. Mais tarde, durante os 11 anos que esteve na Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres, começou a coleccionar recortes sobre mulheres pioneiras nas suas profissões. “Isto foi uma coisa que fui fazendo sempre na esperança de um dia este livro sair”, confessa.

Durante um ano, as autoras escreveram pequenas biografias de 59 mulheres pioneiras, as primeiras a dedicarem-se a uma profissão até então masculina. Na primeira fase do trabalho, reuniram uma lista de profissões e mais tarde dedicaram-se à pesquisa: entrevistas com as famílias, com as próprias pioneiras, visitas às autarquias e muitas tardes na Biblioteca Nacional.

Margarida Pereira-Müller conta que chegar às “primeiríssimas” foi um desafio. “Foi um trabalho que muitas vezes andou para a frente e para trás. Quando pensávamos que tínhamos chegado à primeira, descobríamos que afinal já tinha havido outra”, recorda a jornalista freelancer. “Houve pioneiras que depois acabaram por não ser primeiras”, reconhece Luísa de Paiva Boléo.

Do século XVI ao XXI: “o mundo ainda está desigual”

Chamava-se Brites de Albuquerque, nasceu em 1517 e foi a primeira capitoa numa capitania do Brasil. É a mulher mais antiga do livro As Primeiras, com “uma vida extraordinária”, recorda Luísa de Paiva Boléo. Depois do marido, responsável pela capitania de Pernambuco, abandonar o Brasil, Brites ficou responsável pelo governo da região. “Ela assume completamente a gestão de tudo aquilo, completamente diferente do que seria o seu mundo na corte”, conta a historiadora.

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A autora recorda uma das suas pioneiras preferidas: Isabel Rilvas, a primeira pára-quedista portuguesa. “Além de ter lutado contra a família, por terem achado que era um disparate uma menina querer voar, quis ser pára-quedista. [Naquele tempo,] nem havia homens pára-quedistas, recorda com carinho a historiadora.

O livro viaja do Brasil do século XVI ao Portugal do século XXI, revelando que todos os dias existem novas pioneiras como, por exemplo, Noémie Freire, a primeira submarinista, que recebeu diploma em Janeiro deste ano. “Não precisamos de falar do século XVI. Não precisamos ir tão longe para ver que ainda há profissões onde não há mulheres”, lamenta Margarida Pereira-Müller.

A jornalista recorda as conversas com a primeira maquinista de comboios ou a primeira a conduzir o metro do Porto: ambas relataram episódios de passageiros que não embarcaram por serem mulheres. “Não estamos a falar do século XIX, mas do século XXI”, sublinha Pereir-Müller. “O mundo ainda está muito desigual”, concorda Luísa de Paiva Boléo.

Ser pioneira é por vezes ter consciência de que se está a “abrir um caminho”, defende a historiadora, que recorda, por exemplo, Maria de Lurdes Pintassilgo. “Quando aceitou ser primeira-ministra, sabia que estava a abrir uma via. Estou convencida que as mulheres da engenharia ou da medicina deviam ter consciência que estavam a abrir um caminho.”

Também é esse o objectivo do livro: ajudar a abrir caminho, num incentivo para as jovens mulheres. “Há uma submarinista aqui. Eu acredito que as raparigas de 17 ou 18 anos pensem seriamente em ir para um dos ramos das Forças Armadas. É essa a função que nós gostaríamos que o livro tivesse”, sublinha Luísa de Paiva Bóleo. E porque não faltam pioneiras, já faz parte dos planos das autoras avançar para o segundo volume deste título, para o qual já reuniram perto de 50 histórias.

Texto editado por Bárbara Wong