Sócrates saúda saída de Lula da prisão e critica “indiferença” de um PS “grávido de Estado”

Num texto que escreveu na revista brasileira Carta Capital, o antigo primeiro-ministro congratula-se com a libertação de Lula da Silva e denuncia a “indiferença” do PS, afirmando que “já nada o impressiona nesta história de direitos constitucionais”.

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José Sócrates considera que a saída de Lula da Silva da prisão representou uma "reentrada no mundo" LUSA/RODRIGO ANTUNES

O antigo primeiro-ministro José Sócrates considera que a saída de Lula da Silva da prisão representou uma “reentrada no mundo” do ex-chefe de Estado brasileiro, acontecimento em relação ao qual o PS, “grávido de Estado”, manifestou “indiferença”.

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O antigo primeiro-ministro José Sócrates considera que a saída de Lula da Silva da prisão representou uma “reentrada no mundo” do ex-chefe de Estado brasileiro, acontecimento em relação ao qual o PS, “grávido de Estado”, manifestou “indiferença”.

Estas posições foram assumidas por José Sócrates num artigo publicado esta sexta-feira na revista brasileira Carta Capital, ao qual a agência Lusa teve acesso, e que é dedicado ao líder histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil, tendo como título “Sei que estás em festa, pá”.

“Não foi uma saída da prisão, mas uma reentrada no mundo. No mundo, literalmente: Televisões em directo e primeiras páginas dos jornais. Um simbolismo extraordinário. Regressado da provação, Lula da Silva entra em palco com firmeza e de coração limpo. O que mais impressiona é a energia - vem para lutar, não para se reformar. Vem sem ressentimento, mas sabe também o que não pode voltar a acontecer”, escreve José Sócrates.

No artigo, o antigo secretário-geral do PS entre 2004 e 2011 refere-se às reacções em Portugal na sequência da saída de Lula da prisão, afirmando que em Portugal, “o tom dominante foi de regozijo”, até porque, na sua opinião, “muitos portugueses já conhecem a fraude judicial e a miserável conduta de um juiz [Sérgio Moro] que, para chegar a ministro, instrumentalizou a sua função, colocando-a ao serviço de uma caçada política”.

“Na política institucional, o costume: O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda saudaram a libertação, a direita institucional calou-se e o PS mostrou indiferença”, descreve o antigo líder socialista, frisando que para o PS, “grávido de Estado, já nada o impressiona nesta história de direitos constitucionais”.

Ainda no panorama político nacional, Sócrates lança um duro ataque ao eurodeputado social-democrata Paulo Rangel pela posição que adoptou na sequência da saída prisão do antigo Presidente brasileiro. “Pelo caminho ainda vi na televisão um deputado europeu vomitando ódio contra Lula, dizendo que este é, sem dúvida, corrupto - só que não têm provas. Parece que é jurista. Como vêem, não são só os brasileiros que tem que lidar com pulhas”, afirma.

José Sócrates defende ainda no artigo que “a grandeza” do momento em que Lula da Silva abandonou a prisão “fez-se de muitas iniquidades”.

“Vem da história do golpe, da Presidenta [Dilma Roussef] destituída sem crime de responsabilidade, como se o regime fosse parlamentar e não presidencial. Vem da história da Lava Jato, operação judiciária que se revelou ser o instrumento e a oportunidade para criminalizar todo um partido e perseguir o seu líder histórico. Vem da história da singular condenação de corrupção por factos indeterminados e da prisão em violação da Constituição”, advoga o antigo primeiro-ministro.

José Sócrates condena depois “a história da cassação dos direitos políticos, rasgando com petulância o direito internacional e a determinação do comité de direitos humanos das Nações Unidas para que o antigo presidente fosse candidato”.

“A emoção do instante é também o resultado da memória de violência e de humilhação destes últimos anos e em particular da disputa eleitoral. De um lado toda a direita unida, a moderada e a extremista, a que se juntou a agressividade da imprensa e a vergonhosa parcialidade do aparelho judiciário. Por detrás deles surgiu ainda a sombra do partido militar que, passo a passo, em aproximações sucessivas, ganhou rosto e visibilidade na vida pública”, salienta.

Do outro lado, segundo José Sócrates, “rodeados de uma linguagem ameaçadora e belicista e com o antigo presidente preso, os dirigentes e militantes do partido lutaram e lutaram e lutaram para defender o seu património de governação e a ímpar transformação social conseguida na economia, na distribuição de riqueza, nas oportunidades educativas, na redução das desigualdades, na inclusão social, na afirmação do Brasil como uma nova e jovem voz na cena da política internacional”.

“Agora que o seu líder histórico dá um pequeno passo para a liberdade, tudo muda e o país parece outro. Fico contente”, acrescenta.

O antigo Presidente do Brasil e líder histórico do Partido Trabalhista foi libertado no dia 8 de Novembro.