É bom ter os jovens nas ruas

Discuta-se o que Greta diz, sem nos desviarmos do essencial: goste-se ou não da forma ou até de parte do conteúdo, o que ela diz não pode ser ignorado. E a onda que ela promove deve merecer o nosso aplauso

É reconfortante saber que o presidente da Associação dos Directores das Escolas de Portugal, Filinto Lima, apoia a greve climática que ontem levou às ruas de 30 cidades milhares de jovens. Porque, explicou na Antena 1, essa greve revela uma “atitude cívica” positiva e propicia uma experiência que, sob todos os pontos de vista, “vale mais do que um dia dentro da escola”. Quando, um pouco por todo o lado, se acentuam as críticas à activista sueca Greta Thunberg e a tudo o que ela representa, é bom que não se venha agora atacar os jovens por se mobilizarem quando, no passado, se criticavam pela sua anomia cívica. Entre uma multidão amorfa e desligada dos problemas do mundo e a energia juvenil das greves climáticas, é fácil escolher.

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É reconfortante saber que o presidente da Associação dos Directores das Escolas de Portugal, Filinto Lima, apoia a greve climática que ontem levou às ruas de 30 cidades milhares de jovens. Porque, explicou na Antena 1, essa greve revela uma “atitude cívica” positiva e propicia uma experiência que, sob todos os pontos de vista, “vale mais do que um dia dentro da escola”. Quando, um pouco por todo o lado, se acentuam as críticas à activista sueca Greta Thunberg e a tudo o que ela representa, é bom que não se venha agora atacar os jovens por se mobilizarem quando, no passado, se criticavam pela sua anomia cívica. Entre uma multidão amorfa e desligada dos problemas do mundo e a energia juvenil das greves climáticas, é fácil escolher.

Num tempo sem personalidades carismáticas à escala global, com os intelectuais demissionários ou envolvidos em causas que geram mais atrito do que progresso, e com os líderes políticos sujeitos a desgaste, os jovens conseguiram inventar a sua própria terapia de substituição. Com Malala Yousafzai, na luta pela educação universal, ou com Emma González, no combate em favor do controlo de armas. Ou com a mais proeminente e mais influente líder juvenil da actualidade, Greta Thunberg, em defesa de mudanças radicais para salvar o mundo da catástrofe ambiental.

Mas se é positivo assistir a essa vontade de intervir e mudar, é também positivo fazê-lo com consciência crítica. A apologia de um mundo descarbonizado a todo o vapor impõe mudanças civilizacionais drásticas que exigem ponderação, discussão e compromisso. Como escreveu no PÚBLICO Pedro Almeida Vieira, “a ‘salvação’ do planeta não se fará com um herói nem um punhado de semideuses, mas sim com homens e mulheres comuns”. Nesse caminho, precisamos, em simultâneo, da energia e da combatividade de Greta Thunberg e dispensamos o radicalismo utópico que acha possível abdicar de aviões ou a linguagem confrontacional que divide o mundo entre mártires e algozes, como, de resto, já aqui defendemos.

Podem questionar-se alguns dos propósitos de Greta. Mas não se deve deixar de apoiar o seu activismo. É excelente ver jovens a participar na vida pública e é inevitável que encaremos os desafios das alterações climáticas como a grande batalha desta e das próximas gerações. Querer atacar a mensageira com acusações por vezes vis e absurdas serve apenas para cobrir o debate com nevoeiro. Discuta-se o que ela diz, sem nos desviarmos do essencial: goste-se ou não da forma ou até de parte do conteúdo, o que ela diz não pode ser ignorado e a onda que ela promove deve merecer o nosso aplauso.

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