Aqui há umas semanas, quando questionávamos Carlton Jumel Smith sobre se, no processo de gravação do seu último álbum (1634 Lexington Ave.), nunca tinha receado que o produto final soasse “demasiado” clássico e, por conseguinte, confinado a um padrão meramente vintage, o americano dizia-nos que não senhor: se passamos a vida inteira a ver o Muhammad Ali a combater e depois vamos para o ringue treinar, havíamos de nos querer parecer com quem (mutatis mutandis, um campo de futebol e Cristiano Ronaldo)?! Por isso, continuava ele docemente, humildemente: “Se alguém me disser ‘Ei, isto soa demasiado a Al Green’, eu vou dizer ‘Obrigado, fiz o meu trabalho!’”. Se recuperamos as suas palavras, é porque o segundo álbum dos Durand Jones & The Indications nos relança novamente para essa magna questão (transplantável, de resto, para outros géneros historicamente sedimentados e com uma ou mais eras douradas no passado): como pode uma banda fazer, em 2019, um disco de soul absoluta e assumidamente clássico, abstendo-se voluntariamente de experimentar novos trilhos ou hipóteses, sem que ele redunde ora num nado-morto, objecto esgotado e perfeitamente anódino; ora, nos piores casos, num pastiche boçal, pobre e sem graça (quando não kitsch)?
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Aqui há umas semanas, quando questionávamos Carlton Jumel Smith sobre se, no processo de gravação do seu último álbum (1634 Lexington Ave.), nunca tinha receado que o produto final soasse “demasiado” clássico e, por conseguinte, confinado a um padrão meramente vintage, o americano dizia-nos que não senhor: se passamos a vida inteira a ver o Muhammad Ali a combater e depois vamos para o ringue treinar, havíamos de nos querer parecer com quem (mutatis mutandis, um campo de futebol e Cristiano Ronaldo)?! Por isso, continuava ele docemente, humildemente: “Se alguém me disser ‘Ei, isto soa demasiado a Al Green’, eu vou dizer ‘Obrigado, fiz o meu trabalho!’”. Se recuperamos as suas palavras, é porque o segundo álbum dos Durand Jones & The Indications nos relança novamente para essa magna questão (transplantável, de resto, para outros géneros historicamente sedimentados e com uma ou mais eras douradas no passado): como pode uma banda fazer, em 2019, um disco de soul absoluta e assumidamente clássico, abstendo-se voluntariamente de experimentar novos trilhos ou hipóteses, sem que ele redunde ora num nado-morto, objecto esgotado e perfeitamente anódino; ora, nos piores casos, num pastiche boçal, pobre e sem graça (quando não kitsch)?