Classicismo para iniciantes e especialistas

A turma dos copinhos de leite (mas só mesmo na melanina) comandada por Durand Jones está no seu topo de boa forma — ou seja, nos anos 70. Soul Power!

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Já se sabia que a banda fazia soul como os antigos, mas agora também lhes ficamos a conhecer uma voz própria Rosie Cohe

Aqui há umas semanas, quando questionávamos Carlton Jumel Smith sobre se, no processo de gravação do seu último álbum (1634 Lexington Ave.), nunca tinha receado que o produto final soasse “demasiado” clássico e, por conseguinte, confinado a um padrão meramente vintage, o americano dizia-nos que não senhor: se passamos a vida inteira a ver o Muhammad Ali a combater e depois vamos para o ringue treinar, havíamos de nos querer parecer com quem (mutatis mutandis, um campo de futebol e Cristiano Ronaldo)?! Por isso, continuava ele docemente, humildemente: “Se alguém me disser ‘Ei, isto soa demasiado a Al Green’, eu vou dizer ‘Obrigado, fiz o meu trabalho!’”. Se recuperamos as suas palavras, é porque o segundo álbum dos Durand Jones & The Indications nos relança novamente para essa magna questão (transplantável, de resto, para outros géneros historicamente sedimentados e com uma ou mais eras douradas no passado): como pode uma banda fazer, em 2019, um disco de soul absoluta e assumidamente clássico, abstendo-se voluntariamente de experimentar novos trilhos ou hipóteses, sem que ele redunde ora num nado-morto, objecto esgotado e perfeitamente anódino; ora, nos piores casos, num pastiche boçal, pobre e sem graça (quando não kitsch)?

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Aqui há umas semanas, quando questionávamos Carlton Jumel Smith sobre se, no processo de gravação do seu último álbum (1634 Lexington Ave.), nunca tinha receado que o produto final soasse “demasiado” clássico e, por conseguinte, confinado a um padrão meramente vintage, o americano dizia-nos que não senhor: se passamos a vida inteira a ver o Muhammad Ali a combater e depois vamos para o ringue treinar, havíamos de nos querer parecer com quem (mutatis mutandis, um campo de futebol e Cristiano Ronaldo)?! Por isso, continuava ele docemente, humildemente: “Se alguém me disser ‘Ei, isto soa demasiado a Al Green’, eu vou dizer ‘Obrigado, fiz o meu trabalho!’”. Se recuperamos as suas palavras, é porque o segundo álbum dos Durand Jones & The Indications nos relança novamente para essa magna questão (transplantável, de resto, para outros géneros historicamente sedimentados e com uma ou mais eras douradas no passado): como pode uma banda fazer, em 2019, um disco de soul absoluta e assumidamente clássico, abstendo-se voluntariamente de experimentar novos trilhos ou hipóteses, sem que ele redunde ora num nado-morto, objecto esgotado e perfeitamente anódino; ora, nos piores casos, num pastiche boçal, pobre e sem graça (quando não kitsch)?