Morreu David Koch, o bilionário que influenciou profundamente a política dos EUA

Criou, com o irmão Charles, uma rede de milionários empenhados em impor a agenda conservadora. O seu dinheiro foi a incubadora de uma geração política que inclui o vice-presidente, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo.

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David Koch Carlo Allegri/Reuters

David Koch, o industrial libertário que usou a sua fortuna para transformar a política dos Estados Unidos, doando mais de mil milhões de dólares a causas filantrópicas, morreu aos 79 anos, anunciou o irmão Charles nesta sexta-feira. 

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David Koch, o industrial libertário que usou a sua fortuna para transformar a política dos Estados Unidos, doando mais de mil milhões de dólares a causas filantrópicas, morreu aos 79 anos, anunciou o irmão Charles nesta sexta-feira. 

Com uma fortuna avaliada pelo Bloomberg Billionaires Index em 59 mil milhões de dólares, era, ex aequo com o irmão, a 11.ª pessoa mais rica do mundo. Detinha 42% das indústrias Koch, sediadas no Texas, que têm lucros anuais de 100 mil milhões de dólares. É uma das maiores empresas dos EUA e o seu espectacular crescimento incluiu a aquisição, em 2005, da Georgia Pacific (pasta de papel, materiais de construção e químicos associados), por 21 mil milhões. O conglomerado tem interesses no petróleo, agricultura e componentes eléctricos.

Residente no Upper East Side de Manhattan, David Koch era a pessoa mais rica da ilha de Nova Iorque.

David e Charles Koch, de 83, tornaram-se conhecidos do grande público mais pela sua influência política do que pela actividade empresarial, injectando milhões de dólares em causas e candidatos conservadores. Criaram uma rede de 700 doadores que contribuíram cem mil dólares ou mais por ano e um grupo denominado Americanos pela Prosperidade com filiais em 35 estados americanos. Na missão de impulsionarem a agenda conservadora nos EUA só rivalizavam com o próprio Partido Republicano.

Os irmãos Koch e outros doadores ricos conseguiram expandir a sua influência em eleições depois da decisão de 2010 do Supremo Tribunal que abriu caminho a financiamentos sem controlo em campanhas, feitos directa e indirectamente, por grupos extrapartidários.

“A influência de David Koch na política americana vai perdurar no futuro”, disse Daniel Schulman, que escreveu Sons of Wichita: How the Koch Brothers Became America’s Most Powerful and Private Dynasty, publicado em 2014. “Os Kochs ajudaram a abrir caminho à era dos megadoadores, uma era sem precedentes no investimento na política dos muito ricos e das empresas, que influenciam as políticas como nunca antes. A sua herança política é imensa.”

O dinheiro de Koch foi a incubadora de uma geração política que inclui o vice-presidente Mike Pence, o secretário de Estado Mike Pompeo,  Scott Pruitt e Rick Perry – todos trabalharam ou trabalharam para o Presidente Donald Trump, sobretudo em comércio e imigração. Mas os irmãos não apoiaram Trump na campanha de 2016, apesar de terem elogiado os seus esforços para reduzir os impostos.

David Koch foi candidato à presidência pelo Partido Libertário em 1980. Charles Koch tornou-se, depois deste desaire, o líder mais filosófico, e o que aparecia para os apertos de mão, enquanto David era presidente da fundação que supervisiona a agência noticiosa AFP, o seu principal órgão político.

Em Junho de 2018, Charles Koch anunciou à empresa que o irmão se afastava devido a problemas de saúde. Koch tinha sido diagnosticado com cancro na próstata há mais de duas décadas. Através de doações particulares da sua fundação, deu mais de mil milhões de dólares para investigação ao cancro, centros médicos, universidades, arte e instituições culturais.

Considera-se que os irmãos Koch ajudaram a lançar o movimento ultraconservador Tea Party, que ajudou os republicanos a recuperarem a maioria no Congresso em 2010. “Eles ajudaram a libertar uma revolta política que preparou terreno para a actual extrema polarização, um resultado que penso que não esperavam ou desejassem”, disse Schulman.

Os irmãos Koch defenderam a eliminação do salário mínimo, o fim da chamada “Segurança Social das empresas” e apoiaram leis para enfraquecer os sindicatos. A AFP permite-lhes manter uma presença não apenas em Washington, mas também nos estados e a nível local, incluindo na sua guerra contra o aumento dos impostos sobre o gás e na promoção de referendos sobre projectos locais.

No campo das políticas sociais, David Koch era pró-aborto e defendia o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Era contra o chamado Obamacare e era contra a intervenção do Governo no combate às alterações climáticas, dando dinheiro a grupos que rejeitam o consenso científico sobre o aquecimento global. Em 2011 disse que Barack Obama foi “o Presidente mais radical” que alguma vez esteve na Casa Branca, devido ao que considerava ser os prejuízos que causou à livre iniciativa. 

Em 1996, aos 56 anos, David Koch casou-se com Julia Flesher, que trabalhava em moda. Tiveram dois filhos, David Jr., Mary e John.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post