EUA culparam Irão por ataque a petroleiros – e agora?

Há boas razões para duvidar que Teerão tenha sido responsável pelo ataque, diz o jornal israelita Ha’aretz. Mas a rápida afirmação de Washington provoca a pergunta: o que vai fazer a seguir?

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Um dos petroleiros incendiados ao largo de Omã Reuters

O Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu secretário de Estado, Mike Pompeo, foram rápidos em atribuir culpas: não têm dúvidas de que o ataque contra dois petroleiros no golfo de Omã, na quinta-feira, foi levado a cabo pelo Irão.

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O Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu secretário de Estado, Mike Pompeo, foram rápidos em atribuir culpas: não têm dúvidas de que o ataque contra dois petroleiros no golfo de Omã, na quinta-feira, foi levado a cabo pelo Irão.

A afirmação levou a uma rápida e veemente resposta do Irão, que diz nada ter tido que ver com o ataque. “Estamos encarregados da segurança do estreito e socorremos a tripulação o mais depressa possível”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Abbas Mousavi. As acusações americanas “são alarmantes”, concluiu.

Vários analistas questionaram a afirmação de Pompeo. Ali Vaez, do Projecto Irão do International Crisis Group, deu vários argumentos, por exemplo: Pompeo disse ter provas, mas não as apresentou; considerou que só um actor como Irão teria capacidade para lançar um ataque do género, ignorando vários não estatais; argumentou que o Irão está a concretizar uma ameaça de fechar o estreito, mas a promessa foi impedir outros países de exportar, se o próprio Irão não conseguisse exportar o seu petróleo, o que não é o caso.

Também de Israel vieram dúvidas sobre a responsabilização do Irão: no diário Ha’aretz, Zvi Barel comenta que levar a cabo uma acção destas numa altura em que o Irão está a tentar que Europa, China e Rússia possam de algum modo contrariar a retirada dos EUA do pacto sobre o nuclear (e a imposição de sanções), e dar aos EUA um pretexto para atacar não seria a sua primeira prioridade. E a política do Irão é de neutralizar pretextos para um conflito militar no Golfo, não causá-lo, sublinha o analista de Israel (que é um dos países mais preocupados com um aumento de assertividade do Irão na região).

Possibilidades mais credíveis, para o analista israelita, são movimentos apoiados pelo Irão, agindo de modo independente, por exemplo os hutis no Iémen, que já atingiram alvos na Arábia Saudita. Ou grupos terroristas como a Al-Qaeda ou o Daesh, que também têm presença no Iémen.

Barel acrescenta que “na ausência de informação confirmada e fiável sobre a fonte do incêndio, [pode-se] por agora pôr de lado a possibilidade de uma provocação saudita ou americana que foi aflorada pelo Irão, embora este tipo de coisas já tenha acontecido antes”. Mas observa ainda: “Também nos podemos questionar sobre a razão pela qual uma das mais sofisticadas agências de espionagem do mundo está a ter tanta dificuldade em descobrir quem é que levou mesmo a cabo estes ataques.”

Mas se para os EUA a questão é clara, CNN e New York Times dizem que a óbvia questão seguinte é: se o Irão foi responsável, qual é a resposta? Com o aumento de tensão entre Washington e Teerão, a resposta norte-americana tem variado e não é nada claro o que pensa o Presidente, Donald Trump, embora este tenha assumido uma linha assertiva em relação a Teerão.

Na estação de televisão conservadora Fox, Jim Hanson, que dirige um centro de estudos (acusado de ser antimuçulmano depois de dizer que um relógio de um aluno muçulmano era “meia bomba”), concluía que “parece que o regime iraniano ou pensa que os EUA não vão agir militarmente, ou quer ver até onde pode ir antes de provocar uma resposta militar”. Qualquer que seja o caso, “estão a meter-se em sarilhos”. Trump deveria considerar uma acção punitiva ou arriscar-se a não ser levado a sério, defendeu.

Numa análise na CNN, o correspondente da Casa Branca Stephen Collinson diz que a decisão de Pompeo “não deixar passar alguns dias antes de uma investigação completa não deixa dúvidas sobre as intenções americanas”.

Em todo o caso, o jornalista sublinha que “não há sinais de que Washington esteja a preparar uma resposta militar aos ataques – é mais provável que os use para fortalecer a sua tese sobre o mau comportamento do Irão”.