Monda cruzam cante e folk, levando os sons do Alentejo a outras fronteiras

Os alentejanos Monda apresentam ao vivo no Teatro Capitólio, em Lisboa, o seu mais recente disco, Cal, com convidados e “algumas surpresas.” Esta sexta-feira, às 21h30.

Foto
Os Monda fotografados para a capa de Cal: Pedro Zagalo, Jorge Roque e Herlander Medinas RITA CARMO

Três anos após o seu primeiro disco, os Monda voltaram a estúdio e gravaram Cal, onde antigas modas alentejanas revivem em roupagens instrumentais de folk contemporânea. Esta sexta-feira vão apresentá-lo ao vivo no Teatro Capitólio, em Lisboa, às 21h30.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Três anos após o seu primeiro disco, os Monda voltaram a estúdio e gravaram Cal, onde antigas modas alentejanas revivem em roupagens instrumentais de folk contemporânea. Esta sexta-feira vão apresentá-lo ao vivo no Teatro Capitólio, em Lisboa, às 21h30.

Formados por Jorge Roque (guitarra e voz), Herlander Medinas (contrabaixo, baixo eléctrico e voz), ambos nascidos em 1977, e Pedro Zagalo (piano e outros teclados), este nascido em 1983, todos eles alentejanos mas de áreas musicais distintas, da clássica ao jazz, os Monda concretizaram logo no primeiro disco (Monda, 2016) o seu propósito inicial, como diz ao PÚBLICO Jorge Roque: “A nossa ideia é fazer um trabalho conjugado em duas linguagens. Levar esta música, esta nossa raiz tradicional, popular, para outras fronteiras; mas levá-la com a música que conseguimos fazer com as nossas influências contemporâneas. É uma mistura entre o tradicional e o folk contemporâneo.”

A atmosfera do cante está lá, mas cruzada com uma sonoridade instrumental mais refinada. E isso levou-os a trabalhar com outros músicos. Em Cal, além dos que já haviam gravado com eles no primeiro, como Ruben Alves (piano, acordeão e produtor dos dois discos), Pedro Vidal (Lap Steel) ou João Tiago Oliveira (guitarra clássica), agora juntam-lhes David Piçarra, Layth Sidiq e José Manuel Neto. “David Piçarra é um grande guitarrista que está há algum tempo no mercado internacional, acompanha vários músicos em Portugal e tocou todas as guitarras de aço do disco. Tivemos também a participação de um violinista iraquiano que vive nos Estados Unidos, Layth Sidiq, que apreciou muito o nosso trabalho e acabou por entrar neste disco.” Já a participação de José Manuel Neto teve a ver com uma ideia que vinha de trás: “Há alguns trabalhos do Vitorino com o Pedro Caldeira Cabral, onde a guitarra portuguesa tem sentido, não como instrumento de fado mas como instrumento de portugalidade, numa abrangência maior do cante. E o José Manuel Neto foi a primeira pessoa em que pensámos.”

Maro e Maria Emília

Nas vozes, surgem também duas cantoras convidadas, Maro e Maria Emília. “Nós tínhamos gravado no disco anterior com o Rui Veloso e a Katia Guerreiro, dois nomes incontornáveis da música nacional. Por isso achámos que fazia sentido para este disco ir buscar pessoas mais contemporâneas, que tivessem outra linguagem, que o grande público não reconheça automaticamente. A Maro é um desses casos, uma música fantástica, com uma linguagem interessantíssima. Não é muito conhecida em Portugal, embora os críticos obviamente conheçam o trabalho dela.” Maria Emília foi escolhida com o mesmo espírito: “Vimo-la cantar em Évora e eu fiquei impressionado com a voz dela, que é de uma grande clareza a interpretar os fados tradicionais. E faria sentido no disco, junto com outro instrumento que queríamos trazer para o cante, que é a guitarra portuguesa. E conjugámos a voz da Maria com a guitarra do José Manuel Neto.”

A quase totalidade dos nove temas do disco é de origem popular, letra e música, com arranjos do grupo. Mas há também dois originais. A recolha das modas seguiu o mesmo já antes adoptado: “Fomos recolher alguns temas do cancioneiro popular alentejano. A diferença é que incluímos neste disco dois temas originais: Moreninha, com música dos Monda, e Passo a passo, pedra a pedra, com música de João Gil e letra de Paulo Abreu Lima.” Esta última foi pedida expressamente para o disco. “Tivemos alguns concertos em que o João Gil estava presente e tocou connosco e fizemos-lhe esse convite, uma vez que ele é também conhecedor do que tem sido o percurso dos músicos do Alentejo.”

Um cancioneiro “muito forte”

No palco do Teatro Capitólio, no espaço do Parque Mayer, estarão com os Monda alguns dos músicos que participaram no disco: João Tiago Oliveira (guitarra clássica) e David Piçarra (guitarra de aço), Maria Emília (voz) e José Manuel Neto (guitarra portuguesa), caso chegue a tempo, porque vem nesse dia de uma digressão no Brasil. Na bateria estará Jaume Pradas, substituindo João Ferreira (que está com Rui Veloso em Angola). Maro, embora gostasse de participar, vive em Los Angeles e é-lhe impossível estar presente. Fora estes, diz Jorge Roque, haverá ainda “algumas surpresas”.

A experiência que os Monda têm tido nas suas digressões é gratificante, pela forma como as pessoas reagem à música. “O cancioneiro alentejano é emocionalmente muito forte, mesmo que não se perceba as letras [o que acontece no estrangeiro], é um canto muito dado a esse encontro entre quem ouve e quem faz.” Os arranjos dos Monda fazem o resto: “O nosso registo musical espelha muito as nossas origens. Uma coisa que nos dá muito gozo fazer, mais até do que gravar, é fazer essa aproximação, essa recolha, essa mistura para a canção, que é bem mais rica que a própria gravação do disco.”