Como quatro jovens conseguiram furar esquema de segurança de Costa

Jovens activistas pelo ambiente entraram no Centro de Congressos de Lisboa como estudantes de Jornalismo e entrevistaram candidatos do PS antes de interromperem António Costa.

Foto
Mário Cruz/Lusa

Dois dos jovens ambientalistas que interromperam o discurso de António Costa no jantar comemorativo do 46.º aniversário do Partido Socialista (PS), esta segunda-feira, 22 de Abril, fizeram antes do incidente breves entrevistas aos candidatos socialistas às europeias Margarida Marques e Carlos Zorrinho.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Dois dos jovens ambientalistas que interromperam o discurso de António Costa no jantar comemorativo do 46.º aniversário do Partido Socialista (PS), esta segunda-feira, 22 de Abril, fizeram antes do incidente breves entrevistas aos candidatos socialistas às europeias Margarida Marques e Carlos Zorrinho.

“Um rapaz com o gravador do telemóvel e uma rapariga com uma máquina fotográfica fizeram-me perguntas sobre o que defendia o PS em matéria de alterações climáticas. Com base no nosso manifesto, procurei demonstrar-lhes que era uma das nossas grandes prioridades”, disse à agência Lusa Margarida Marques.

Idêntica entrevista, de acordo com a ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeus, terá sido também feita logo no início do jantar ao eurodeputado socialista Carlos Zorrinho. Estes pedidos de entrevistas com candidatos socialistas ao Parlamento Europeu confirmam a versão da organização do PS, segundo a qual estes jovens ambientalistas do grupo Extinction Rebellion, que protestaram contra a construção do aeroporto do Montijo, entraram no jantar de aniversário deste partido, no Centro de Congressos de Lisboa, identificando-se como estudantes de jornalismo.

No site do movimento Extinction Rebellion defende-se, entre os princípios do movimento, a acção directa não violenta e a desobediência civil como formas de contestação ao “colapso ambiental”.

No jantar de aniversário do PS, o secretário-geral, António Costa, falou aos militantes do seu partido após os discursos do líder da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, Duarte Cordeiro, da secretária-geral da Juventude Socialista (JS), Maria Begonha, e do presidente do PS, Carlos César, que duraram cerca de 30 minutos.

Durante este tempo que mediou o início do jantar-comício (às 20h45) e o começo do discurso de António Costa, os membros do grupo ecologista terão estado sempre perto do palco, junto das mesas onde se sentavam dirigentes históricos do PS — caso de Ferro Rodrigues ou de Jorge Sampaio, ministros e candidatos socialistas ao Parlamento Europeu.

Logo no segundo minuto da intervenção, António Costa foi interrompido por um jovem em protesto contra a construção do aeroporto do Montijo, enquanto outros lançavam aviões de papel e uma rapariga exibia um cartaz onde se lia “Mais aviões? Só a brincar”. A segurança actuou cerca de 30 segundos depois e o líder socialista retomou o seu discurso.

Vários dirigentes socialistas disseram à Lusa que, inicialmente, quando viram aviões de papel a planar junto à tribuna do orador, chegaram a pensar que se tratava de “uma coreografia original montada pela JS”. “Só me apercebi que era mesmo a sério, que era mesmo um incidente, quando vi o rapaz pegar no microfone do secretário-geral”, contou uma das deputadas do PS que se sentou numa das mesas centrais do jantar.

Para vários dirigentes socialistas contactados pela Lusa, neste episódio “houve uma falha de segurança”, num evento em que o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, esteve presente enquanto militante socialista.

Ainda em relação à forma como actuaram os jovens do movimento ecologista, Margarida Marques afirmou à agência Lusa que não desconfiou que a entrevista que lhe pediram fosse possivelmente fictícia, apenas para disfarçar a posterior acção mediática junto de António Costa.

“Se são ambientalistas e estão realmente empenhados na defesa de algumas causas, acho muito bem. Se há outros movimentos que os incentivam ou manipulam, isso já me deixa muito preocupada”, declarou a ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeu e quarta na lista europeia socialista.