Os usos e abusos da islamofobia

Tal como aconteceu com o Cristianismo no passado, o Islão lida (muito) mal com a crítica e com visões do mundo diferentes, ou que, de alguma forma, se lhe opõem. Entramos, assim, no problema da imposição das nossas visões do mundo aos outros — e da vontade de os transformar em algo igual a nós.

1. “Cada um quer impor aos outros aquele mundo que tem dentro, como se ele existisse fora de si, e que todos tenham de o ver do modo como ele o vê; e que os outros não possam ser, nesse mundo, senão como ele os vê.” Esta perspicaz cogitação filosófica de Vitangelo Moscardo, personagem de um notável livro de Luigi Pirandello (Um, ninguém e cem mil, trad. port., Cavalo de Ferro, 2017, p. 83), feita num outro contexto, aplica-se ao problema que hoje levantam o Islão e a “islamofobia”. Tal como o Cristianismo, o Islão é uma religião comunitária e proselitista, de vocação universalista. Está imbuído de verdades “absolutas”. Na sua crença, todo o ser humano nasceu muçulmano, mas, depois, muitos foram “desviados” para outras religiões ou para o ateísmo. Naturalmente, quer expandir a sua mensagem para corrigir esse desvio e salvar os afastados. Mas em sociedades democráticas, plurais e seculares muitos não querem ser “salvos”. Tal como aconteceu com o Cristianismo no passado, o Islão lida (muito) mal com a crítica e com visões do mundo diferentes, ou que, de alguma forma, se lhe opõem. Entramos, assim, no problema da imposição das nossas visões do mundo aos outros — e da vontade de os transformar em algo igual a nós, rejeitando a diferença. O termo islamofobia é parte desse problema nas sociedades multiculturais ocidentais, como mostram a sua origem e formas de utilização.

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1. “Cada um quer impor aos outros aquele mundo que tem dentro, como se ele existisse fora de si, e que todos tenham de o ver do modo como ele o vê; e que os outros não possam ser, nesse mundo, senão como ele os vê.” Esta perspicaz cogitação filosófica de Vitangelo Moscardo, personagem de um notável livro de Luigi Pirandello (Um, ninguém e cem mil, trad. port., Cavalo de Ferro, 2017, p. 83), feita num outro contexto, aplica-se ao problema que hoje levantam o Islão e a “islamofobia”. Tal como o Cristianismo, o Islão é uma religião comunitária e proselitista, de vocação universalista. Está imbuído de verdades “absolutas”. Na sua crença, todo o ser humano nasceu muçulmano, mas, depois, muitos foram “desviados” para outras religiões ou para o ateísmo. Naturalmente, quer expandir a sua mensagem para corrigir esse desvio e salvar os afastados. Mas em sociedades democráticas, plurais e seculares muitos não querem ser “salvos”. Tal como aconteceu com o Cristianismo no passado, o Islão lida (muito) mal com a crítica e com visões do mundo diferentes, ou que, de alguma forma, se lhe opõem. Entramos, assim, no problema da imposição das nossas visões do mundo aos outros — e da vontade de os transformar em algo igual a nós, rejeitando a diferença. O termo islamofobia é parte desse problema nas sociedades multiculturais ocidentais, como mostram a sua origem e formas de utilização.