O torpedo rock dos Les Deuxluxes salvou o Canadá no Westway LAB

Rock brega e sujo a salvar o país convidado da edição deste ano, que terminou neste sábado com foco virado também para as bandas da casa.

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Dos quatro dias do Westway LAB, festival que ocupa um lugar mais do que essencial para serem construídas pontes em direcção à exportação musical, reserva-se para os dois últimos dias espaço em vários palcos de Guimarães para se conhecerem algumas das propostas nacionais e internacionais com potencial de ascensão. Depois de na primeira metade do evento, que arrancou na quarta-feira e terminou neste sábado, ter-se privilegiado a discussão, nas várias conferências encabeçadas por diferentes agentes nacionais e internacionais pertencentes a esta indústria, na recta final do festival o foco é apontado para os artistas.

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Dos quatro dias do Westway LAB, festival que ocupa um lugar mais do que essencial para serem construídas pontes em direcção à exportação musical, reserva-se para os dois últimos dias espaço em vários palcos de Guimarães para se conhecerem algumas das propostas nacionais e internacionais com potencial de ascensão. Depois de na primeira metade do evento, que arrancou na quarta-feira e terminou neste sábado, ter-se privilegiado a discussão, nas várias conferências encabeçadas por diferentes agentes nacionais e internacionais pertencentes a esta indústria, na recta final do festival o foco é apontado para os artistas.

Em destaque, nesta 6.ª edição, fruto de intercâmbios que o Westway LAB — parte da rede ETEP – European Talent Exchange Program e INES – Innovation Network of European Showcases —, estabelece com os seus congéneres, esteve o Canadá. Esta parceria nasceu de uma estreita ligação entre a organização com a CIMA — Canadian Independent Music Association e permitiu ao evento crescer para lá do Atlântico. No ano anterior, o país escolhido para integrar a secção Country Focus foi a Áustria. Na mira de todas as atenções estavam também três propostas nascidas em Guimarães —Captain Boy, Mister Roland e Paraguaii —, todas elas, parte do City Focus, com novos trabalhos editados.

Foi para o último dia que se reservou esta montra da prata da casa, montada no pátio do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), quartel-general do festival e onde decorrem os concertos já depois de o sol se pôr.

Uma rota feita de música

Antes disso, durante a tarde, a cidade transformou-se num palco maior para receber em vários espaços do centro histórico alguns dos concertos – estes fora das duas secções de destaque. Servem estas apresentações de convite, qual guia turístico, a que se conheça melhor Guimarães, que nestes quatro dias recebeu algumas centenas de pessoas, que de vários pontos do mundo, sobretudo da Europa, visitaram o evento.

Ainda que à distância de pouco mais de cinco minutos entre cada um deles, torna-se difícil não ser obrigado a fazer opções. A chuva, que foi caindo a espaços, tornou o passo mais lento entre os locais escolhidos, ficando mais difícil acompanhar todo o programa. Este percurso serviu para que mais uma vez se percebesse que o centro histórico de Guimarães está quase irrepreensivelmente conservado e para testemunhar, no Santa Luzia ArtHotel, o talento do guitarrista português, Francisco Sales, um dos membros da empreitada britânica composta por mais de 15 membros, Incógnito. Longe do acid jazz feito por esta sala de reuniões das Nações Unidas, nesta versão, a solo, o músico, que já furou o mercado japonês, invoca o mar e outras paisagens sonoras contemplativas com a ajuda de uma loop station a servir de “banda” de apoio. Já os belgas Mickey, no Oub’lá, conseguiram com os seus beats festivos e com um vocalista irrequieto agarrar o público que encheu o bar.

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Sarah MacDougall dr

Déjà-vu na prata da casa

Em noite com Black Mamba a servir de chamariz para a enchente, que não se concretizou, a comitiva vimaranense, num festival no radar dos vários agentes internacionais presentes, não conseguiu mais do que actuações na escala do competente. Faltou brilho ao indie/folk de Captain Boy e inovação ao country/folk/rock de Mister Roland. Com uma fusão entre o rock e uma electrónica espampanante que dispara em todas as direcções, os Paraguaii foram os que melhor se posicionaram entre as três propostas, a nível da distância que conseguiram guardar entre o que foi apresentado e o déjà-vu.

Não é também o norte-americano Tashi Wada, ao contrário do pai, Yoshi Wada, compositor japonês radicado nos Estados Unidos e um dos precursores do movimento Fluxus nas décadas de 1960 e 1970, responsável por abrir portas a algo de inovador. Porém, dentro do âmbito da música minimalista, conseguiu apresentar no Grande Auditório do CCVF — acompanhado por Corey Fogel , na percussão, e Julia Holter, que a 27 de Maio regressa ao ao mesmo local, altura em também vai a Lisboa, ao Capitólio (29 de Maio), e ao Teatro Municipal da Guarda (28 de Maio) —, uma paisagem sonora convincente. Assente na flutuação de frequências entre o agudo e o menos agudo (não se pode chamar grave), muitas vezes pode ser considerado um exercício de paciência. O recurso à gaita-de-foles intensificou o processo muitas vezes físico, que é a experiência de ouvir as suas composições.

No Canadá o rock ganha

No dia anterior, com comitiva escolhida a dedo para que se pudesse passar por vários géneros musicais, a nova música do Canadá fez-se representar em cinco propostas. Tarefa difícil de um país que deu ao mundo nomes como Arcade Fire, Neil Young ou Leonard Cohen. De duas cantautoras, Sarah Macdougall e Megan Nash, a quem ainda faltará o peso dos anos para coleccionarem histórias amargas, passando pelo indie/folk saturado dos The East Pointers — que tentaram transformar In Bloom de Nirvana, num clássico irlandês —, ao folk/rock com algum nervo dos Tribe Royal (os mais interessantes dos últimos quatro), coube a missão de salvar a nação a uma dupla – os Les Deuxluxes.

De Montreal, Anna Frances Meyer (voz e guitarra), e Etienne Barry (guitarra, bateria e ocasionalmente voz), só por serem um casal é que podiam remeter-nos para uns novos White Stripes. Longe disso. Rock’n’roll sujo e brega, a nível de imagem, com riffs pegajosos, pontes inebriantes e refrães fortes, tudo bate certo neste torpedo de distorção e atitude. Com uma vocalista endiabrada que ataca a guitarra sem palheta, e um guitarrista furioso, que ao mesmo tempo assume uma bateria composta apenas por tarola, bombo e prato de choques, deixaram claro que não basta replicar uma fórmula já testada, quando a emoção não passa para fora. Carregados de influências de rock setentista, conseguem reciclá-las em algo que é só deles. Os Les Deuluxes têm rock a correr-lhes nas veias e a gasolina extra necessária para incendiar palcos.