Temos banda

Nem sempre NU está à altura da ambição a que se propôs, mas há sempre algo a salvar as canções menos memoráveis.

Foto
First Breath After Coma: um universo em expansão

Mantêm o nome de uma canção dos Explosions in the Sky, mas os First Breath After Coma estão já longe, muito longe, dessa inspiração pós-rock. Drifter (2016) já mostrava que a banda da fértil cena de Leiria queria pisar outros territórios, mas o que ouvimos em NU é outra coisa, mais desafiante, inclassificável, em automaravilhamento: eis uma banda a testar os seus próprios limites, a enamorar-se da experiência e, feliz com o que atingiu, a reivindicar uma linguagem sua.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Mantêm o nome de uma canção dos Explosions in the Sky, mas os First Breath After Coma estão já longe, muito longe, dessa inspiração pós-rock. Drifter (2016) já mostrava que a banda da fértil cena de Leiria queria pisar outros territórios, mas o que ouvimos em NU é outra coisa, mais desafiante, inclassificável, em automaravilhamento: eis uma banda a testar os seus próprios limites, a enamorar-se da experiência e, feliz com o que atingiu, a reivindicar uma linguagem sua.

Nullable object must have a value.
ARTIGO_SIMPLES

Se as pensativas guitarras de Please, don’t leave ainda nos podem levar para o pós-rock, tudo o resto da canção é um universo em expansão: cantoria gospel alienígena (o Bon Iver de 22, A Million podia andar aqui), costura de vozes a produzir tapeçaria rítmica. É só um exemplo de que NU é mesmo um abalo sísmico no percurso da banda. Outras provas: Change é uma balada com bateria épica, vozes entre Moments in love dos Art of Noise e os Jungle (na celebração do refrão, banhado a ouro de sintetizadores: “We’re calling for a change/ Don’t rest now”); Heavy apresenta-se como um colosso quase antimelódico, com sintetizadores a impor peso militarista, e anti-rítmico, tal o desconchavo da bateria – há também de ser épica, com vozes no limiar do operático; Uneasy, onde tudo se desenrola com a graça dos inspirados, faz dos mesmos sintetizadores ferramentas pop; e I don’t want nobody repete notas escassas de teclados até ser um mantra ambient triste, existencialista (“86 billion brain cells in silence/ Waiting for some spark, someone”, cantou-se antes).

Concebido ao longo de seis meses, período durante o qual os elementos da banda viveram juntos numa casa ao lado do estúdio de gravação, NU, que é também um filme (todos os membros do grupo são parte do projecto audiovisual Casota Collective), é óbvio produto de labor, tentativa e erro, experimentação. “Esta decisão [viver juntos] acabou por marcar um período bonito nas nossas vidas, que se reflectiu no álbum”, disse a banda ao PÚBLICO. “Foi raro estarmos todos a criar ao mesmo tempo, mas também não era frequente o estúdio estar vazio.”

Nem sempre NU está à altura da ambição a que se propôs, mas há sempre algo a salvar as canções menos memoráveis, sejam os sopros opulentos de Howling for a chance ou as guitarras possuídas pelo fuzz no final de Feathers and wax. Temos banda.