Feira do sector têxtil junta 6000 compradores no aeroporto

Tendências de vestuário, moda e inovação mostram-se de novo no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, com uma participação especial oriunda de Marrocos.

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O piso 3 do aeroporto Francisco Sá Carneiro será o palco principal do evento DR

A família têxtil portuguesa reúne-se a partir de quarta-feira no piso das partidas do principal aeroporto da região Norte. Não é para dizer adeus a ninguém, mas sim para receber cerca de 6000 compradores, portugueses e estrangeiros, inscritos no salão Modtissimo, que volta a realizar-se no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

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A família têxtil portuguesa reúne-se a partir de quarta-feira no piso das partidas do principal aeroporto da região Norte. Não é para dizer adeus a ninguém, mas sim para receber cerca de 6000 compradores, portugueses e estrangeiros, inscritos no salão Modtissimo, que volta a realizar-se no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

A edição 53.ª desta feira bianual levanta voo em overbooking, se se quiser recorrer à linguagem da aviação. Isto porque os 4500 metros quadrados que serão ocupados por mais de 400 colecções não chegam para todos os interessados. Cinco deles ficaram de fora por falta de espaço, confidenciou um dos responsáveis do evento – o único do mundo têxtil a ter lugar num aeroporto.

Manuel Serrão, administrador da Selectiva Moda (que é a entidade responsável pela internacionalização do têxtil e vestuário português), diz ao PÚBLICO que a organização esperar bater o recorde de presenças da edição 2018, e salienta a presença significativa de compradores oriundos de Espanha, da Alemanha, da Holanda e da Rússia.

O director-geral da Associação Têxtil de Portugal (ATP) destaca, por seu lado, o papel inédito de uma comitiva de Marrocos, cujo Governo enviou para o Porto o ministro da Indústria, Moulay Hafid Elalamy. Esta deslocação a Portugal é o corolário do acordo de cooperação assinado em 2017, pela ATP e a congénere marroquina, a AMITH, aquando da visita do primeiro-ministro, António Costa, a Rabat.

Esta comitiva africana irá visitar o Citeve e o CeNTI, dois centros de investigação que trabalham para a fileira têxtil, e depois passará pela feira, igualmente acompanhada pelo secretário de Estado da Economia, João Neves, em representação do executivo português.

O objectivo desta presença, diz Paulo Vaz, "é essencialmente uma acção de relações públicas da parte dos nossos colegas marroquinos, que demonstraram o interesse de se aproximarem de Portugal". Esta aproximação surge numa "lógica de complementaridade", visto que boa parte da fileira têxtil marroquina assenta na confecção, que está no final da cadeia produtiva, ao passo que "Portugal tem a fileira toda, estruturada e sofisticada", mas "começa a ter dificuldades na confecção".

Dada a "proximidade geográfica" entre os dois países, os representantes portugueses consideram que, ao abrigo do acordo de 2017, esta edição do Modtissimo "pode permitir às empresas portuguesas estabelecer parcerias" comerciais com congéneres em Marrocos, na senda do que aliás algumas empresas portuguesas já fazem.

Uma indústria com peso (e desafios)

A feira dura dois dias, quarta e quinta-feira, e abre poucos dias depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter apurado os números finais das exportações têxteis em 2018, um ano que fechou em alta para o sector nacional. As vendas ao exterior voltaram a bater recordes, ascendendo a 5314 milhões de euros, com Espanha a manter-se como principal cliente. Apesar da quebra de 3,9% (menos 68 milhões de euros face a 2017), o vizinho ibérico continua a ser o maior destino das vendas portuguesas lá fora, com uma quota de exportações de 31,9%.

Outra presença a merecer destaque é a da Alemanha, dado que a indústria têxtil deste país é de "alta tecnicidade". O sector do vestuário não é tão importante quanto noutros países, ganhando mais expressão o fornecimento de produto a áreas tão distintas como o desporto, a protecção, a mobilidade, o sector automóvel e a aviação.

Nessa matéria, como destaca ainda Manuel Serrão, a edição deste ano também servirá para apresentar os projectos desenvolvidos pelo Citeve e pelo CeNIT em parceria com empresas portuguesas deste sector. São inovações tecnológicas, que terão um espaço próprio no iTechStyle Showcase, para o qual foi reservada a área anteriormente destinada aos serviços de Alfândega naquele aeroporto.

Serão mostrados 30 tecidos, 14 produtos, dez empresas de acessórios e ainda mais alguns artigos que, no início de Fevereiro foram distinguidos em Munique, na mais recente edição da ISPO, a maior feira do mundo para artigos de desporto e roupa desportiva. Um dos distinguidos foram as botas Sordo, da Berg Outdoor, feita com materiais sustentáveis. Neste âmbito, destaque ainda para o Green Circle by iTechStyle, um espaço reservado à sustentabilidade. 

O calendário do salão que servirá de palco a colecções, produtos e empresas portuguesas – bem como algumas estrangeiras – inclui ainda o Fórum Tendências de Tecidos, para os produtos moda da época Primavera/Verão 2020, o Fórum Criança, o Fórum Novos Talentos, para jovens criadores, e um programa de seminários, conferências e workshops.

Um trabalho recentemente divulgado pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia mostra que as fileira têxtil, couro e calçado "são mais relevantes para a economia portuguesa do que em qualquer outra economia da zona euro", no que toca a valor acrescentado, emprego e trabalho. São também os sectores com maior potencial de geração de emprego em Portugal. "Cada milhão de dólares de incremento na procura interna (ou externa) de têxteis, couro e calçado, pode gerar 12,2 novos postos de trabalho (11,8 no caso de a variação marginal ser na exportação)", conclui o estudo Cadeias de Valor Global e Especialização Vertical: o caso das exportações portuguesas de têxtil, couro e calçado (PDF aqui).

Ainda assim, a produtividade destes sectores em Portugal é a mais baixa de entre todas as economias da zona euro, segundo o mesmo estudo. O que mostra que o têxtil tem ainda caminho a percorrer. Por agora, vai promover-se interna e externamente no aeroporto, e propiciar um espaço onde é possível fechar negócios quase até à porta de embarque.