Tim Bale: “Partidos britânicos estão a reorientar-se para a extrema-esquerda e para direita iliberal”

Professor da Universidade de Queen Mary diz que as dissidências no Partido Conservador e Partido Trabalhista sugerem que o sistema partidário britânico corre “o risco de se partir”.

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Tim Bale defende um segundo referendo DR

Tim Bale, analista e professor de Política Britânica da Universidade de Queen Mary de Londres, vê na desfiliação de 11 deputados dos dois maiores partidos do Reino Unido uma reacção à sua reorientação política recente, e para posições mais extremadas, no âmbito do “Brexit”. E defende que um segundo referendo à saída dos britânicos da União Europeia seria “a forma mais justa” de resolver o impasse político do país.

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Tim Bale, analista e professor de Política Britânica da Universidade de Queen Mary de Londres, vê na desfiliação de 11 deputados dos dois maiores partidos do Reino Unido uma reacção à sua reorientação política recente, e para posições mais extremadas, no âmbito do “Brexit”. E defende que um segundo referendo à saída dos britânicos da União Europeia seria “a forma mais justa” de resolver o impasse político do país.

O que é que estas cisões nos partidos nos dizem sobre ao actual estado da política britânica?
Mostram-nos que os dois maiores partidos do Reino Unido estão a reorientar-se para a extrema-esquerda e para a direita iliberal e que já não conseguem obter o apoio de muita gente que sempre os considerou a sua casa. E sugerem que o sistema partidário britânico, tal como o conhecemos, corre o risco de se partir.

Que impacto podem ter estas deserções no processo do “Brexit” no Parlamento?
Já sabíamos a orientação de voto de todos estes desertores, antes de abandonarem os respectivos partidos. São anti-“Brexit” e pró-“People’s Vote” (segundo referendo). A única diferença que podem trazer ao processo será, por isso, moral, e não matemática. Acredito que possam vir a reforçar a posição dos deputados que se manterão tanto no Partido Conservador, como no Partido Trabalhista, no sentido de alertar os seus respectivos líderes de que têm de mudar de rumo, se quiserem evitar a fuga de mais deputados para o novo grupo. Nesse sentido, May será pressionada a rejeitar um “Brexit” sem acordo e Corbyn a defender abertamente um segundo referendo.

Enquanto eleitor britânico, como é que acha que se deveria resolver o actual bloqueio político? Qual seria a solução mais justa?
A forma mais justa de resolver o impasse sobre o “Brexit” seria através de um segundo referendo. Mas a disparidade entre o que se tornaram os partidos e o que muitos eleitores querem é muito mais difícil de resolver. Poderá resultar em novos partidos a tentar ultrapassar esses obstáculos ou em mudanças no sistema eleitoral britânico, da actual maioria simples para um sistema de representação proporcional.