Poucos querem ir para o superior e isso pode explicar maus resultados das ilhas nos exames

Escolas dos Açores e das Madeira continuam na metade inferior do ranking do ensino secundário.

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Rui Gaudêncio

A escola secundária Antero de Quental, em Ponta Delgada, número 142.º do ranking, e a secundária Francisco Franco, lugar 220.º, no Funchal, são as excepções. As médias dos exames nacionais do 12.º ano em 2018 voltaram a colocar as escolas das duas regiões autónomas na metade inferior de uma tabela em que entram 585 estabelecimentos de ensino do país, aqueles que entram no ranking de escolas do PÚBLICO.

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A escola secundária Antero de Quental, em Ponta Delgada, número 142.º do ranking, e a secundária Francisco Franco, lugar 220.º, no Funchal, são as excepções. As médias dos exames nacionais do 12.º ano em 2018 voltaram a colocar as escolas das duas regiões autónomas na metade inferior de uma tabela em que entram 585 estabelecimentos de ensino do país, aqueles que entram no ranking de escolas do PÚBLICO.

Na Calheta, uma pequena vila a 30 quilómetros a leste do Funchal, a básica e secundária local deu um valente trambolhão. Caiu do 232.º lugar de 2017 para o 473.º do ano passado. A média global dos exames realizados às oito disciplinas desceu de 10,60 para 9,49 valores. Logo ela, que vinha a subir na lista, onde em 2016 era a 303.ª escola.

Bernardo Gouveia, presidente do conselho executivo da escola, não consegue encontrar uma explicação. A equipa docente é sensivelmente a mesma dos últimos dez anos. O contexto socioeconómico também não mudou. A oferta educativa até foi sendo reforçada. Sobram os alunos.

“Temos poucos alunos a fazer os exames, por isso qualquer oscilação, mesmo que ligeira, reflecte-se na plataforma de equilíbrio”, diz, levantando a cabeça das folhas de papel onde, entre números e quadros, um gráfico ilustra o desempenho da Secundária da Calheta nos últimos 10 anos do ranking do PÚBLICO.

Em 2018, continua, tivemos resultados mais baixos em História e Matemática, que podem ajudar a explicar esta descida. Mas, ressalva, a escola é muito mais do que uma linha ascendente ou descendente num papel. “Os rankings não traduzem aquela que é a nossa realidade”, acrescenta, sustentando que o projecto educativo da escola passa por corresponder às expectativas dos alunos. Muitas vezes, elas não passam pela entrada no ensino superior. “Não fazemos qualquer selecção. Eles têm total liberdade para escolher para onde querem orientar os estudos.”

Dos cerca de 1050 alunos, perto de 69% recebem apoio da Acção Social Escolar. O emprego qualificado não abunda num concelho que é essencialmente rural. Mesmo assim, a escola tem feito um esforço em alargar horizontes e apresentar escolhas. “Temos cerca de 25 clubes, que vão desde televisão ao teatro”, elenca o director da Secundária da Calheta, que fica, literalmente, paredes-meias com o Mudas - Museu de Arte Contemporânea da Madeira.

O espaço, desenhando pelo arquitecto Paulo David, Medalha Alvar Aalto em 2012, tem sido, em alguns aspectos, uma extensão da escola, mas ainda assim insuficiente para entusiasmar os alunos.

Rendimento das famílias é factor inibidor

Noutra ilha, noutro arquipélago, problemas semelhantes. A básica e secundária de Lajes do Pico, nos Açores, é nas regiões autónomas aquela que apresenta piores resultados. A média nos exames nacionais de 7,83 valores foi a mais baixa nos últimos três anos daquela escola, que surge no lugar 581.º no ranking. Rafael Pereira, presidente do conselho executivo, não está surpreendido.

“Os alunos não valorizam os exames, porque não pretendem ingressar no ensino superior”, sintetiza ao PÚBLICO, precisando que no passado apenas 20 concorreram à universidade. Desses, seis ficaram num dos três polos (Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta) da Universidade dos Açores. “Do ponto de vista de um agregado familiar que tenha um rendimento mensal de 1200 euros, é muito complicado ter um filho a estudar na universidade”, acrescenta, apontando razões geográficas e de cariz económico como leitura destes resultados.

No Pico, a entrada na universidade significa, no mínimo, mudar de ilha. No máximo, rumar para o continente. “Só em transportes aéreos os custos são elevados”, indica o responsável pela escola, que prefere destacar outros dados daquele estabelecimento de ensino, como a elevada taxa de conclusão do secundário ou mesmo os resultados da entrada no ensino superior. “Todos os alunos que se candidataram entraram na primeira fase.”

De volta à Madeira, o secretário regional de Educação, Jorge Carvalho, destaca também outros números. “Das 15 escolas que propuseram alunos a exames nacionais, dez apresentam média positiva no total das provas realizadas”, sublinha, acrescentando que nas 18 disciplinas em que se realizaram exame, 15 registaram média positiva.

Carvalho reconhece que a média global nacional é superior à madeirense, mas acredita que uma “análise mais detalhada” vai resultar em “indicações positivas” que apontem caminhos para a melhoria contínua na educação. “[É isso] que a região persegue”.

Também nos Açores, os rankings são “encarados com cautela”. O secretário regional de Educação e Cultura, Avelino Meneses, considera que nos resultados verificados no ensino secundário não “estão ainda reflectidas as políticas educativas” implementadas no arquipélago.

“O ProSucesso [Plano Integrado de Promoção do Sucesso Escolar], iniciado em 2015/2016, vem demonstrando que as políticas educativas levadas a cabo na região autónoma dos Açores têm superado as metas que haviam sido propostas atingir em 2021”, argumenta o secretário açoriano, adiantando que o governo regional não se “resigna” com estes resultados. “Estamos a concentrar esforços, analisando a incidência das dificuldades registadas e delineando a nível regional e ao nível de cada escola as estratégias que conduzam à sua superação.”