Angola é deles e Portugal é nosso

Angola precisa de Portugal na mesma medida em que Portugal precisa de Angola: é na normalidade diplomática que os dois países poderão reafirmar o que têm de comum. Tudo o resto é conversa patrioteira ou ressabiada.

Diz a experiência histórica e a sabedoria diplomática que na relação entre países não há amizades, apenas interesses, e de uma vez por todas era bom que Portugal e Angola metessem esta ideia na cabeça. Só quando os dois países forem capazes de sustentar o seu diálogo neste padrão de normalidade é que conseguirão matar fantasmas, enterrar desconfianças e abolir a arrogância que a cada passo se esconde por detrás dos sorrisos protocolares.

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Diz a experiência histórica e a sabedoria diplomática que na relação entre países não há amizades, apenas interesses, e de uma vez por todas era bom que Portugal e Angola metessem esta ideia na cabeça. Só quando os dois países forem capazes de sustentar o seu diálogo neste padrão de normalidade é que conseguirão matar fantasmas, enterrar desconfianças e abolir a arrogância que a cada passo se esconde por detrás dos sorrisos protocolares.

A visita de João Lourenço a Portugal pode ser o primeiro passo nessa direcção, mas bastou ouvir a primeira pergunta de um jornalista angolano ao presidente português em Belém (quando é que Portugal pedirá desculpa pelo seu passado colonial, quis saber o espertalhão) para se perceber que ainda há muito caminho a percorrer.

Nenhum presidente do mundo teria tantas televisões em directo como João Lourenço e isso não se explica pela grandeza do comércio externo (Angola é hoje oitavo destino das nossas exportações), nem pela dimensão da comunidade portuguesa em Angola – importante, mas aquém da do Reino Unido, para não falar na França ou em outros. Não é, pois, pela intensidade do enlace que os dois países dedicam tanta atenção um ao outro. Há por aí uma obsessão mútua relacionada com um passado mal resolvido a atrapalhar. Mas há também uma necessidade pragmática de o meter na gaveta. Ora, essa necessidade é boa notícia.

Se João Lourenço está em Portugal é pelas melhores razões: por interesse. Ainda que a China, a Alemanha ou a França tenham mais dinheiro para financiar Angola, o saber técnico dos portugueses em domínios como a agricultura, a disponibilidade para as pequenas empresas do Norte arriscarem investimentos ou a facilidade de contactos prestada pela língua são instrumentos que tornam a relação necessária de parte a parte.

Os tempos em que a soberba portuguesa olhava para a pobreza angolana como o campo para uma segunda expansão, ou os dias da troika em que a arrogância angolana olhava para Portugal como um lugar miserável e tão desejoso de capital que chegara a hora de ajustar as contas pela opressão colonial, perderam sentido. O pragmatismo e o empenho de João Lourenço numa Angola melhor hão-de ajudar a demolir tabus assim.

Angola é deles e Portugal é nosso, Angola precisa de Portugal na mesma medida em que Portugal precisa de Angola: é na normalidade diplomática que os dois países poderão reafirmar o que têm de comum. Tudo o resto é conversa patrioteira ou ressabiada.