“Apesar das picadelas”, Presidente angolano garante que não vai parar combate à corrupção

João Lourenço comparou o ataque à corrupção a mexer “num ninho de marimbondos” (espécie de vespa).

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João Lourenço e Marcelo Rebelo de Sousa Danie Rocha/PÚBLICO
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O Presidente de Angola, João Lourenço, garantiu esta quinta-feira, em Lisboa, que não vai recuar no combate à corrupção, estratégia que envolve o repatriamento de capitais que saíram de forma ilícita do seu país.

Numa conferência de imprensa em Belém, por ocasião da visita oficial a Portugal, João Lourenço comparou o ataque à corrupção a mexer “num ninho de marimbondos” (espécie de vespa). Depois de dizer que já sentia algumas “picadelas”, afirmou que isso não o faria recuar e que era “preciso destruir” esse ninho.

"Quando nos propusemos a combater a corrupção”, sublinhou, “sabíamos que precisávamos de ter muita coragem”, mas “somos milhões e contra milhões ninguém combate”. Em Angola, frisou, há 28 milhões de habitantes, mas o número de corruptos “é bastante reduzido”.

Imediatamente antes, respondendo às questões dos jornalistas, João Lourenço tinha-se escusado a comentar no estrangeiro a conferência de imprensa de quarta-feira do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, e a intervenção de Isabel dos Santos, que alertou para o que disse ser uma possível "crise política profunda em Angola".

Por parte do presidente português, Marcelo afirmou apenas que a questão do repatriamento de capitais, para a qual Angola tem legislação própria que permitirá o resgaste de forma coerciva de “bens incongruentes” identificados no estrangeiro, “não deixará naturalmente de ser ponderada e acompanhada atentamente” em Portugal, “quer da óptica da aplicação do direito angolano, internamente, quer da óptica da sua repercussão nas relações com Portugal”.

Marcelo visita Angola em 2019

Ao lado do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, João Lourenço anunciou que serão assinados esta sexta-feira, no Porto, 12 "instrumentos de cooperação", e que não são mais porque outros acordos ficam reservados para a visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Luanda. “Não pretendemos esgotá-los enquanto o Presidente Marcelo não visitar Luanda", afirmou João Lourenço, revelando assim a deslocação do Presidente português ao seu país, em data ainda a anunciar. Sobre os acordos, foi Marcelo Rebelo de Sousa quem nomeou as áreas de intervenção, que passam pela justiça, economia, educação e saúde.

Na intervenção inicial, após as cerimónias oficiais que marcaram o primeiro de três dias da viagem de Estado, João Lourenço destacou a necessidade de Angola diversificar a sua economia para lá do petróleo, objectivo para o qual disse querer contar com os empresários portugueses. “Contamos sinceramente com o contributo dos homens de negócios portugueses”, sublinhou, recordando que “Angola está a viver uma nova fase, com importantes reformas”.

“Amanhã, no Porto, teremos oportunidade de vermos, a nível dos chefes de governo, a continuidade desta cooperação económica que queremos profunda”, destacou. Entre os temas a serem abordados no fórum económico que decorre esta sexta haverá dois painéis, um dedicado às infra-estruturas e logística (fundamentais o desenvolvimento do país) e outro à agricultura, pescas e indústria, sectores-chave para Angola.

Assumir responsabilidades

Durante a fase de perguntas dos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa foi confrontado com uma questão incómoda por parte dos angolanos. O jornalista quis saber se "Portugal nunca pensou em reparar" o período "negro que marcou a relação entre Angola, os povos angolanos e o Estado português".

O Presidente não se engasgou e disse que não se fica pelo mais fácil, que é pedir desculpa sem assumir responsabilidade. "Também reconheço, e reconhecemos todos, olhando retrospectivamente, aquilo que houve de menos positivo ou errado na nossa história ou de injusto para outros na nossa história". Marcelo referiu-se depois, concretamente, a "perseguições religiosas, perseguições sociais, escravatura, outras formas de dominação ou de exploração".

"É muito mais importante assumir a responsabilidade plena por aquilo que de menos bom houve na nossa história. Eu assumo, e assumo como cidadão e assumo como Presidente da República Portuguesa, sem complexos, como assumo o muito de bom que fizemos ao longo da nossa história", acrescentou.

Irritante afastado

Numa referência ao recente diferendo entre os dois países, e que envolveu o julgamento do antigo vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, no caso Fizz (o processo já foi remetido Luanda, conforme pretendido pelas autoridades locais), Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, “ultrapassadas incompreensões, umas mais antigas, outras mais recentes” era agora “mais fácil encontrar caminhos”.

Esse foi também o tom de João Lourenço, ao afirmar que vinha a Portugal “falar do presente e do futuro das relações entre os dois países”. Com a visita oficial que esta quinta-feira se inicia, o chefe do governo angolano diz “corrigir algo” que parece anormal: “o facto de termos deixado passar um período bastante longo sem que tivesse havido a visita de chefes de Estado”. “Os amigos devem visitar-se”, afirmou, acrescentando que “alguma coisa terá falhado nesta busca permanente de alimentar uma amizade entre dois países”, uma vez que a última visita ocorreu em 2009, com a vinda do então presidente José Eduardo dos Santos.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, a visita de João Lourenço, que chegou à presidência há pouco mais de um ano, “encerra um intervalo longo demais” e dá o pontapé de saída para um novo ciclo que diz ser “promissor”.

Antes do encontro com os jornalistas, o Presidente angolano foi agraciado por Marcelo Rebelo de Sousa com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique que é o mais alto grau da Ordem e é concedido pelo Presidente da República a chefes de Estado estrangeiros. A mulher do Presidente de Angola foi condecorada com a Grã-Cruz da mesma ordem. 

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