Depois das obras em Arroios, o medo é ter de começar do zero

Obras da estação de Arroios arrastam-se há ano e meio. Os tapumes colocados na Praça do Chile afastaram clientela e obrigaram alguns comerciantes a fechar as lojas. Entre medos e inseguranças, os lojistas só querem saber quando as obras estarão terminadas. O metro responde que lá para Maio de 2019.

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Na parte sul da Praça do Chile, em Lisboa, os tapumes colocados há mais de um ano continuam no mesmo sítio. As obras do metro, iniciadas em Julho de 2017, arrastam-se no tempo e os moradores e comerciantes de Arroios vêem a sua vida na freguesia cada vez mais complicada. Alguns lojistas não tiveram outro remédio senão encerrar os seus estabelecimentos devido à falta de clientela originada pelo encerramento da estação de Arroios, e os moradores são obrigados a desviar os percursos para os Anjos ou Alameda. 

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Na parte sul da Praça do Chile, em Lisboa, os tapumes colocados há mais de um ano continuam no mesmo sítio. As obras do metro, iniciadas em Julho de 2017, arrastam-se no tempo e os moradores e comerciantes de Arroios vêem a sua vida na freguesia cada vez mais complicada. Alguns lojistas não tiveram outro remédio senão encerrar os seus estabelecimentos devido à falta de clientela originada pelo encerramento da estação de Arroios, e os moradores são obrigados a desviar os percursos para os Anjos ou Alameda. 

Lidório Pina, de 68 anos, é um dos últimos resistentes na praça. A Galifrango conta 57 anos e Lidório já leva 45 a virar frangos. Desde que as obras no metro começaram, o negócio familiar teve uma “quebra de 50%”, aponta. “Vivemos do pessoal que vem de metro e que sobe e desce a avenida para comprar frangos. Agora temos aqui este mamarracho”, diz, referindo-se aos tapumes que impedem a vista para a churrasqueira.

O Metropolitano de Lisboa, em declarações ao PÚBLICO, afiança que a obra tinha como data de conclusão inicial Março de 2019, mas que “vicissitudes técnicas de várias ordens” obrigaram a ajustamentos no prazo, alargando a empreitada até Maio e “mantendo-se, no entanto, a previsão de abrir a estação no primeiro semestre de 2019”.

O presidente da empresa, Vítor Domingues dos Santos, ao PÚBLICO, adianta que “surgiu uma pequena situação que se viu que tinha de ser alterada no projecto, e o empreiteiro, a propósito disso, propôs outra alteração”. Como tal, sublinha, estudaram e validaram as alterações com o projectista e efectuaram um aditamento “que foi assinado há mais ou menos duas ou três semanas e que prorrogou o prazo de entrega em cerca de mês e meio”.

Junto à estátua do navegador Fernão de Magalhães, já fecharam três espaços comerciais. A Blue Kids, uma loja de roupa infantil, encerrou quatro meses depois do início das obras, e a perfumaria Via Vitória teve o mesmo destino em Outubro. A tabacaria, do outro lado da praça, sucumbiu igualmente à falta de clientes.

Manuel Oliveira, de 76 anos, é morador na zona e conta que, por ali, já tem havido alguns assaltos. Os tapumes, de noite, tornam a zona isolada e, até há uns meses, não havia iluminação no local. Lidório Pina afirma que os comerciantes não estão contra as obras mas que, fruto delas, “não há ninguém” ali.

Moradores descontentes

Carla Salsinha, ex-presidente da União de Associações do Comércio e Serviços (UACS), é também a cara da Aga-Cri, uma loja de vestuário de cerimónia sediada na praça desde 1976. A proprietária considera que já houve uma altura em que a obra estava bastante activa mas que agora, “se não está parada, está a 50%”. Antes, via os trabalhadores a almoçar no exterior, mas de há três meses para cá que garante não ver muita gente.

Sobre a situação que se vive na zona, Carla diz que os moradores estão descontentes. Não há policiamento nocturno e reina uma sensação de insegurança junto de alguns vizinhos mais idosos. Em matéria de negócios, Salsinha regista uma quebra de metade do volume de negócio, à semelhança dos restantes proprietários. “As pessoas acham que fechámos. Os clientes sentem-se confusos”, atira.

Grande parte do comércio da praça são negócios de família que estão ali há, pelo menos, 20 anos e que vêm a perder clientes. E pior, considera a lojista, não são só os comerciantes da praça que sofrem. Um pouco mais à frente, na Morais Soares, o dono do supermercado Japão mostra-se também afectado pelas obras.

Isenção de taxas para comerciantes

Os comerciantes da zona reivindicam a necessidade de a câmara os isentar das taxas de publicidade e ocupação da via pública. Sobre esse tema, a autarquia é peremptória e afirma que, “de acordo com os regulamentos municipais, são aplicadas reduções, isenções ou suspensões temporárias das taxas devidas pelo exercício de actividades económicas, quando estas sofram alterações na sua actividade, provocadas por intervenção directa do Município, nomeadamente enquanto decorram obras de infra-estruturas na rede viária ou outras”.

Apesar de as obras não serem da responsabilidade do município, a câmara de Lisboa “entende que é importante aplicar a isenção de taxas aos comerciantes daquela zona pelo que será apresentada em reunião de câmara nas próximas semanas uma proposta nesse sentido com vista a ser aprovada na Assembleia Municipal”, afirma uma fonte oficial do gabinete de vereação dos transportes e mobilidade.

Ainda que o metro garanta que as obras estarão terminadas no segundo semestre de 2019, os comerciantes temem o pior e receiam que a obra ultrapasse o prazo apontado. “É terrível para nós. Com dois anos de obras, as pessoas perderão o hábito de passar aqui”, lamenta Carla.

A requalificação da praça, inserida no programa da autarquia “Uma Praça em Cada Bairro”, é outra preocupação dos vendedores e moradores. Carla diz que “teoricamente a câmara faria logo a obra de recuperação da praça”, mas que já ouviu que o processo poderá não seguir esses passos. “Já ouvimos outra versão em que a praça será reposta como está e que só depois haverá uma consulta pública e após isso é que será intervencionada”.

A mesma fonte do gabinete de vereação disse ao PÚBLICO que, quando as obras da responsabilidade do metro terminarem, seguir-se-ão os trabalhos de requalificação da Praça do Chile. Está previsto o alargamento de passeios e a construção de uma rotunda com três vias de trânsito, entre outras melhorias ao espaço. Alguns objectivos passam também pelo aumento das áreas verdes permeáveis, melhoria e adaptação da iluminação pública e um ajuste da sinalização e da semaforização.

“Já foram realizadas duas sessões públicas sobre este projecto no Café Império. Uma, em Dezembro de 2014 com o objectivo de ouvir a população sobre os problemas e as sugestões para a área de intervenção e depois a segunda sessão, em Março de 2015, na qual foram apresentadas as opções de intervenção face às questões levantadas no primeiro debate e posteriormente compatibilizadas com o projecto”, diz o executivo. Exclui, assim, a necessidade de levar o projecto novamente a consulta pública.

Enquanto as obras avançam, a zona transforma-se. Na Parreirinha do Chile, os clientes são fiéis e o negócio mantém-se, diz José Cardoso, ali estabelecido há 50 anos. Mas nas portas vizinhas, os receios são outros: “Quando isto acabar, será quase como começar do zero”, diz Carla Salsinha.

Com Luís Villalobos