Quarteirão municipal do Bairro Alto espera estacionamento prometido há anos

Edifício onde funcionou o jornal A Capital está devoluto há 16 anos. O projecto de construção do silo "não foi abandonado", diz a EMEL.

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O quarteirão fica entre as ruas do Norte e do Diário de Notícias, no Bairro Alto Nuno Ferreira Santos

Foi há mais de década e meia, num dia de Agosto, que a Polícia Municipal apareceu no Bairro Alto para esvaziar o edifício que albergara A Capital e que, nos últimos tempos, servia de casa aos Artistas Unidos. Por motivos de segurança, disse-se então, as portas de um quarteirão entre as ruas do Norte e do Diário de Notícias fecharam de vez e não mais voltaram a abrir, apesar da promessa de ali vir a ser criado um silo de estacionamento automóvel.

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Foi há mais de década e meia, num dia de Agosto, que a Polícia Municipal apareceu no Bairro Alto para esvaziar o edifício que albergara A Capital e que, nos últimos tempos, servia de casa aos Artistas Unidos. Por motivos de segurança, disse-se então, as portas de um quarteirão entre as ruas do Norte e do Diário de Notícias fecharam de vez e não mais voltaram a abrir, apesar da promessa de ali vir a ser criado um silo de estacionamento automóvel.

Seis anos depois dessa promessa, feita pelo segundo executivo de António Costa, continuam os prédios sem uso, com as portas emparedadas, à mercê da vegetação selvagem que toma conta dos imóveis quando não há gente lá dentro.

Numa visita recente ao Bairro Alto com o pretexto de falar sobre lixo na cidade, os vereadores do PSD chamaram a atenção para aqueles edifícios, onde as placas nas paredes não enganam: Património Municipal. “A prioridade da câmara não tem sido fazer estacionamento para moradores”, lamentou o vereador João Pedro Costa. “A EMEL tem dinheiro. Cabe-lhe construir silos e parques para moradores”, disse ainda o eleito social-democrata, avançando até com outra ideia: “Se calhar seria mais interessante uma solução mista, com lugares de estacionamento e habitação de renda acessível”.

O que se passou, então, para que o silo automóvel anunciado em Julho de 2012 – e com abertura prevista para dali a dois anos – continue ainda a ser miragem?

“A escritura de transmissão realizou-se em 2013, mas até ao momento ainda não foi possível iniciar a adaptação e construção desses edifícios”, disse um assessor de comunicação da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL). “A EMEL desenvolveu um processo para equacionar a construção de lugares de estacionamento em altura, que entre as várias diligências incluiu a validação com diferentes entidades da realização de um concurso de ideias para idealizar a melhor solução de maximização e aproveitamento do espaço existente, concurso que se realizou em seguida.”

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Neste prédio funcionou o jornal A Capital, que encerrou definitivamente em 2005 (quando já não ocupava o edifício) Nuno Ferreira Santos

4,2 milhões de euros em obras

O concurso de ideias foi ganho pelo atelier do arquitecto Vítor Carvalho Araújo, mas o projecto esbarrou depois nas tais entidades. Naquele local, explicou a mesma fonte da EMEL, “existe uma particular atenção por entidades especializadas na preservação do património”, o que esteve na origem da falta de consenso. Para o silo se tornar uma realidade é preciso luz verde da câmara, da Direcção-Geral do Património Cultural, da EPAL, da EDP e da Autoridade Nacional de Protecção Civil.

Previa-se, em 2012, que o silo viesse a ter 179 lugares de estacionamento, metade deles para residentes do bairro, que é um dos quatro onde a circulação automóvel e o estacionamento são condicionados. A EMEL tenciona tomar medidas semelhantes na Madragoa e na Praça do Comércio, como o PÚBLICO já noticiou, embora se desconheçam mais pormenores sobre esta última zona.

Actualmente, diz a empresa, há “cerca de 100 lugares para estacionamento na via pública” dentro do Bairro Alto e mais em parques próximos, como é o caso do Parque Camões e do Parque Calçada do Combro, frequentemente cheios. Além disso, a EMEL deixa ainda os moradores estacionar fora dos limites da zona condicionada – mas isso pode ser fraco consolo num local que é dos mais procurados da cidade, seja de dia ou de noite. “Demorei menos a mudar-me do Norte para Lisboa do que a encontrar um lugar na zona 33”, disse uma residente durante a visita do PSD. A zona 33 é a imediatamente contígua ao Bairro Alto, incluindo o Príncipe Real, Rato e São Bento.

Segundo a EMEL, o processo de criação do silo automóvel “não foi abandonado, estando a EMEL a analisar a possibilidade de voltar a contactar as diferentes entidades oficiais necessárias para o retomar já no próximo ano”. Para os próximos três anos estão orçamentados 4,2 milhões de euros em obras de infra-estruturas no Bairro Alto.