NBC termina programa de Megyn Kelly, acusada de racismo

Tinha chegado à NBC há um ano, vinda da Fox News e por 69 milhões de dólares, a meio de uma guerra com Donald Trump. Mas Megyn Kelly nunca alcançou as audiências esperadas, e sai agora sem glória por causa de um comentário sobre o acto de pintar a cara de negro.

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Megyn Kelly acabou por pedir desculpa pelos seus comentários: "Estava errada" LUSA/JIM LO SCALZO

A cadeia de televisão norte-americana NBC decidiu esta sexta-feira cancelar o programa da jornalista Megyn Kelly (que a estação foi buscar à Fox News em 2017 por 69 milhões de dólares) devido à polémica em torno de uma declaração da apresentadora que foi considerada racista. Em causa estão as palavras da jornalista sobre o hábito de usar máscaras de Halloween assentes em estereótipos raciais — concretamente, pintar a cara de negro (ou blackface, termo pelo qual o acto é referido nos EUA).

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A cadeia de televisão norte-americana NBC decidiu esta sexta-feira cancelar o programa da jornalista Megyn Kelly (que a estação foi buscar à Fox News em 2017 por 69 milhões de dólares) devido à polémica em torno de uma declaração da apresentadora que foi considerada racista. Em causa estão as palavras da jornalista sobre o hábito de usar máscaras de Halloween assentes em estereótipos raciais — concretamente, pintar a cara de negro (ou blackface, termo pelo qual o acto é referido nos EUA).

Kelly defendeu que a prática não é necessariamente um acto racista e recordou a sua infância, afirmando que, antigamente, pintar a pele de negro “não era um problema”. No entanto, actualmente, o blackface é um acto considerado racista por largos sectores da sociedade norte-americana.

As afirmações foram feitas durante o seu programa matinal, num debate em que apenas participavam comentadores brancos e em que se discutia se seria aceitável usar um disfarce de Halloween assente em estereótipos raciais (a Noite das Bruxas, uma festividade muito popular nos EUA, celebra-se a 31 de Outubro).

“Arranjas problemas se fores uma pessoa branca que pinta a cara de preto no Halloween, ou uma pessoa negra que pinta a cara de branco. Mas quando eu era criança, não havia problema, desde que estivéssemos disfarçados de uma personagem”, afirmou a jornalista.

Kelly recordou depois o caso de uma estrela de um reality show que tinha pintado a cara de negro para se mascarar como a cantora Diana Ross. “Quem é que não adora a Diana Ross? Ela queria parecer a Diana Ross por um dia. Não entendo como é que isso foi considerado racista no Halloween”, disse.

As críticas à jornalista não tardaram a surgir, tanto através das redes sociais como pela voz de outros repórteres. E houve quem recordasse o seu historial de declarações controversas. Em 2013, ainda na Fox News, Kelly afirmou que o Pai Natal só poderia ser representado por pessoas brancas. “Crianças que nos estão a ver aí em casa: o Pai Natal só pode ser branco. Jesus também era branco", afirmou, sendo posteriormente forçada a pedir desculpa.

Também desta vez, a apresentadora acabou por pedir perdão no próprio dia, no programa Nightly News da NBC: “Quero começar com duas palavras: Peço desculpa. Defendi a ideia [do blackface] dizendo que desde que fosse respeitosa e parte de um disfarce de Halloween não seria um problema. Estava errada e lamento”.

Uma prática com uma história

No contexto norte-americano, o hábito de pintar a cara de negro por parte de pessoas brancas remonta à época em que os negros estavam proibidos de participar em peças de teatro, e em que personagens negras eram interpretradas por actores brancos de rosto e corpo pintados. As pinturas, inicialmente feitas com carvão, tinham uma carga fortemente estereotipada e ofensiva e visavam ridicularizar os afro-americanos.

Com o despontar da luta dos negros norte-americanos pelo fim do racismo, da discriminação e da segregação racial, o blackface começou a cair em desuso. Mas nunca desapareceu completamente, e continua a surgir sobretudo no Halloween.

Em Portugal, recentemente, a prática foi motivo de debate nas redes sociais quando o comediante Eduardo Madeira retratou a tenista Serena Williams num sketch humorístico no programa Cinco Para a Meia-Noite, da RTP, pintando a cara de negro e imitando um sotaque africano estereotipado. 

A ascenção e queda de Megyn Kelly

A polémica desta semana vem pôr termo a uma passagem pouco feliz da jornalista pela NBC, onde chegou em 2017, numa altura em que tinha todas as atenções mediáticas sobre si. Kelly vinha da Fox News, um canal noticioso próximo do Presidente norte-americano Donald Trump, onde a jornalista era uma das raras vozes a fazer frente ao republicano, o que lhe granjeou notoriedade. 

Um desses momentos aconteceu ainda durante a campanha para as presidenciais de 2016, quando Kelly confrontou Trump com o seu longo historial de insultos misóginos. O republicano acabaria por insultá-la mais tarde, dizendo que a jornalista estava de tal forma enraivecida que o "sangue" lhe saia "dos olhos" e "de outro sítio".

Foi nesse contexto que Kelly saiu da Fox News, onde estava há 12 anos, e partiu para NBC, onde conduzia um programa diário em nome próprio, agora cancelado. Assinou um contrato de três anos no valor de 69 milhões de dólares. Segundo a imprensa norte-americana, deverá receber essa soma na sua totalidade, apesar da saída precoce e de o seu programa nunca ter atingido o nível de audiências esperado pelo canal.