CP deixa passageiros em terra no Algarve

Falta de material circulante leva à supressão de comboios, mas autocarros de substituição não servem todas as estações e apeadeiros.

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Nuno Ferreira Santos

Em dez dias foram suprimidos 36 comboios no Algarve. As velhas automotoras que circulam entre Vila Real de Sto. António e Lagos estão exauridas, avariam frequentemente, e a empresa vê-se na contingência de suprimir circulações praticamente todos os dias.

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Em dez dias foram suprimidos 36 comboios no Algarve. As velhas automotoras que circulam entre Vila Real de Sto. António e Lagos estão exauridas, avariam frequentemente, e a empresa vê-se na contingência de suprimir circulações praticamente todos os dias.

A maior parte das supressões ocorrem no troço entre Vila Real de Sto. António e Faro, sendo que a parte de Barlavento, entre Faro e Lagos, tem sido mais poupada.

Contudo, os autocarros que a CP aluga para substituir os comboios que não consegue efectuar, não asseguram o transporte a todos os passageiros pois, entre Vila Real e Lagos, apenas páram em Tavira, Olhão e Bom João, deixando de fora as estações e apeadeiros de Monte Gordo, Cacela, Conceição, Porta Nova, Luz, Livramento e Fuzeta. Nestas paragens, como não há funcionários nem qualquer informação, os clientes da CP (alguns deles com passes mensais) nunca sabem se têm comboio ou não.

A CP diz que “na linha do Algarve, as estações de VRSA, Tavira, Olhão, Faro e o apeadeiro de Bom João representam mais de 70% do movimento de passageiros deste troço” e que o transporte alternativo por rodovia, se procurar assegurar todas as estações e apeadeiros, “implica tempos de trajecto muito elevados que nalguns casos poderá representar o dobro do tempo despendido”.

A mesma fonte oficial da empresa explica ainda que “as condições de acessibilidade e manobra de transporte rodoviário pesado no acesso à maioria dos apeadeiros são bastante difíceis ou, nalguns casos, inexistentes”. E acrescenta que “o transporte coletivo rodoviário de passageiros nesta região, mesmo em circunstâncias normais (e neste momento existem obras na EN 125 no sub-troço Tavira – Conceição), tem performances inferiores, em termos de tempos de percurso, ao modo ferroviário na totalidade do troço Faro – VRSA”. Razões que, conclui, explicam que o transbordo rodoviário não percorra todas as estações e apeadeiros da linha.

Ainda segundo a CP, em resposta a questões do PÚBLICO, foram suprimidos na linha do Algarve entre Janeiro e Setembro deste ano 716 comboios, sendo que no mês de Agosto, no pico do Verão, foram suprimidos 41.

A empresa reduziu a sua oferta nesta linha em 5 de Agosto, mas voltou a repô-la a 30 de Setembro. No entanto, não tem conseguido assegurar os horários regulares, tendo-se a situação agravado no mês de Outubro. Só entre 4 e 14 de Outubro, durante dez dias, foram suprimidos 36 comboios, dos quais 33 entre Vila Real de Sto. António e Faro e três entre Faro e Lagos.

A situação é do conhecimento da AMT (Autoridade da Mobilidade e dos Transportes), que é a entidade reguladora do sector, mas esta nunca se pronunciou sobre as supressões, nesta e noutras linhas do país, as quais começaram em Janeiro de 2017, tendo-se agravado no Verão deste ano.

O PÚBLICO perguntou à CP qual a estratégia da empresa para ultrapassar estes problemas no curto prazo, tendo-se esta limitado a responder que “a CP e o governo já anunciaram publicamente as medidas que estão em curso”.

A compra de novos comboios, o aluguer de mais automotoras a Espanha e a contratação de 102 trabalhadores para a EMEF (empresa que faz a reparação e a manutenção dos comboios da CP) são algumas dessas medidas, mas nenhuma delas tem efeitos no curto prazo