A Benfeita está a arrancar eucaliptos onde eles “nascem como cabelos na cabeça”

Comunidade juntou-se para sensibilizar para a necessidade de iniciar a reflorestação no terreno e para as espécies que o vão invadindo.

Fotogaleria

O dia 15 de Outubro amanheceu, este ano, com o céu pluvioso e clima frio, por contraste com a atmosfera abafada e quente que há um ano se sentia na Benfeita, uma aldeia de Arganil. O fogo consumiu então grande parte das encostas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O dia 15 de Outubro amanheceu, este ano, com o céu pluvioso e clima frio, por contraste com a atmosfera abafada e quente que há um ano se sentia na Benfeita, uma aldeia de Arganil. O fogo consumiu então grande parte das encostas.

Um ano volvido, a comunidade que vive na freguesia está preocupada com a proliferação dos eucaliptos e mimosas, que estão a despontar em terrenos antes povoados por pinheiros e castanheiros. Assim, numa acção simbólica para marcar o aniversário do incêndio, cerca de 20 residentes, entre estrangeiros e portugueses, juntaram-se para arrancar eucaliptos na zona de protecção da Mata da Margaraça, que também ardeu no ano passado.

“Se quisermos tirar, tem de ser agora”, avisa a holandesa Harriët Zwartsenberg, que há cinco anos vive na aldeia de Pardieiros. De galochas e impermeável, o grupo vai puxando à mão e amontoando as pequenas árvores. “Temos aqui sítios em que nascem como cabelos na cabeça”, descreve o presidente da Junta de Freguesia da Benfeita, José Pinheiro, que marcou também presença. Entende que a falta de controlo no terreno como sendo “bastante problemática” e que a situação “ficou pior” com o incêndio. Não se fazendo nada, “daqui a quatro anos temos um barril de pólvora”. Com apenas quatro funcionários, a junta, que abarca nove aldeias de cerca de 350 habitantes no total, está condicionada.

Para Miguel Hernandéz, um argentino de 42 anos a viver em Portugal há seis, “o problema é a indiferença” face ao problema. “Isto é um suicídio, é o faroeste dos eucaliptos”, diz, enquanto aponta para as encostas das proximidades da mata, onde os rebentos abundam.

Kristina Webber, uma alemã de 47 anos que vive na aldeia da Cerdeira, conta que a actividade de arrancar eucaliptos já ocupa parte do tempo das pessoas da comunidade. No entanto, dada a dimensão do problema, isso não chega. “Tem de haver uma conversa nacional sobre esta monocultura”, defende Wendy Howard, uma bióloga escocesa de 61 anos que vive na Benfeita há oito anos. Há faixas do território que atingiram “situações precárias”, sendo por isso necessário “regressar a uma floresta autóctone”, com espécies que ajudem a fixar a água. 

Se nos trabalhos de recuperação a tónica está a ser colocada na primeira habitação, Miguel Hernandéz lembra que, quando o incêndio chega, “a natureza não distingue. Aqui ardeu tudo por igual”. Kristina lembra que esta acção é um esforço para prosseguir “depois da catástrofe”. Mas não é suficiente. Precisam de ajuda. <_o3a_p>