Na Índia, o combate às notícias falsas faz-se porta a porta

Numa das zonas mais pobres da Índia, a polícia está a bater às portas para alertar para o perigo das informações falsas espalhadas pelo WhatsApp. Dezenas de pessoas já morreram em todo o país devido a ondas de pânico causadas por boatos.

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Reuters/DADO RUVIC

As autoridades indianas estão a recorrer a técnicas clássicas de contacto pessoal directo para combater um flagelo tecnológico moderno, visitando habitantes de áreas rurais do país para, porta a porta, explicar que não podem acreditar em todas as informações que recebem através da Internet. 

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As autoridades indianas estão a recorrer a técnicas clássicas de contacto pessoal directo para combater um flagelo tecnológico moderno, visitando habitantes de áreas rurais do país para, porta a porta, explicar que não podem acreditar em todas as informações que recebem através da Internet. 

Em causa estão sobretudo boatos, notícias falsas e vídeos manipulados ou retirados do seu contexto original que dão origem a ondas de pânico e de linchamentos que já causaram a morte a dezenas de pessoas desde Abril (e pelo menos 25 só este Verão). 

O principal instrumento para a difusão destes boatos é a aplicação WhatsApp, que conta com mais de 200 milhões de utilizadores na Índia. Naquele país, a internet móvel está cada vez mais acessível devido à venda de telemóveis chineses em segunda mão, a custos muito reduzidos. Aliada a elevados índices de iliteracia, a tendência comporta riscos frequentemente fatais.

No estado indiano de Telangana, porém, onde se localizam algumas das áreas mais pobres de todo o país, as autoridades estão a ganhar a guerra contra as notícias falsas, como conta a BBC.

A estação britânica descreve ruas vazias durante a noite perante o temor de ameaças fictícias. Através do WhatsApp, circulavam desde Abril vídeos e mensagens áudio a alertar para ladrões de órgãos humanos e para raptores de crianças. Para além de populações inteiras fechadas em casa, os boatos levaram a ataques a várias pessoas supostamente suspeitas de tráfico de órgãos ou de rapto de crianças (em todos os casos, as vítimas não tinham qualquer relação com os alegados crimes).

Ali, em Telangana, uma chefe da polícia local, Rema Rajeshwari, decidiu combater offline um flagelo online. Recorrendo aos cerca de quatro mil “polícias de aldeia” (a polícia comunitária comum na Índia rural) para bater às portas de cada casa e explicar o que era uma notícia falsa e que partilhá-la é um crime. 

Foram intensificadas as patrulhas nocturnas, para dissipar os receios das populações, e foram distribuídos os contactos telefónicos dos agentes. Ao mesmo tempo, estes foram adicionados a grupos populares do WhatsApp para vigiar o seu conteúdo e alertar para a presença de boatos.

Foram ainda formados grupos de animação cultural para cantar e interpretar pequenas peças humorísticas a alertar para os perigos das notícias falsas.

Se no resto da Índia (e noutros países, como na Birmânia e no Sri Lanka, tanto através do Whatsapp como do Facebook) os boatos continuam a matar, na área rural de Telangana sob a jurisdição de Rajeshwari deixou de haver registo de mortes causadas por ondas de pânico difundidas através do WhatsApp.

É uma de várias tácticas possíveis. Noutras partes da Índia, ensaiam-se outras estratégias. Em Kerala, por exemplo, o combate às notícias falsas faz-se nas salas de aula. A nível nacional, o Governo recorre a medidas mais drásticas, ditando o encerramento temporário do WhatsApp quando existe a ameaça de ondas de violência causadas por boatos.

Texto editado por Pedro Guerreiro