Vogue deixa de trabalhar com modelos menores de idade

A revista norte-americana abordou a questão num artigo da edição de Setembro, publicado online esta quinta-feira.

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LUSA/FRANCK ROBICHON

Numa peça da edição de Setembro que já foi publicada na edição online, a revista norte-americana Vogue admite que, "em conjunto com um número de outras publicações, teve um papel na normalização da utilização de crianças – já que é isso que são – vestidas e apresentadas como adultos glamorosos", declarando agora que não o fará mais.

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Numa peça da edição de Setembro que já foi publicada na edição online, a revista norte-americana Vogue admite que, "em conjunto com um número de outras publicações, teve um papel na normalização da utilização de crianças – já que é isso que são – vestidas e apresentadas como adultos glamorosos", declarando agora que não o fará mais.

"Não é correcto para nós, não é correcto para os nossos leitores e não é correcto para jovens modelos que competem para aparecer nas nossas páginas. Embora não possamos reescrever o passado, podemos comprometer-nos com um futuro melhor", pode ler-se ainda no artigo.

É uma mudança em linha com o código de conduta em produções fotográficas anunciado em Janeiro pelo grupo editorial Condé Nast que, entre outras questões, declarava que qualquer modelo tem de ser maior de idade – excepto se a utilização de um menor for essencial para o artigo em questão, em cujo caso deve estar na companhia de um adulto responsável. Em teoria, esta decisão significa que modelos como Kaia Gerber (filha de Cindy Crawford) não poderá aparecer em produções fotográficas da Vogue até Setembro de 2019 – data em que completa 18 anos.

Em conjunto com a revista norte-americana, também o Council of Fashion Designers of America (CFDA) apoiou a decisão de aumentar a idade mínima aconselhada para modelos trabalharem – até agora 16 anos – para os 18. "Os jovens modelos ainda estão a desenvolver-se. Podem ter falta de confiança, força, experiência e maturidade necessárias para lidar com as pressões deste trabalho", afirma o presidente e CEO do CFDA, Steven Kolb. "Os homens e mulheres corajosos que se chegaram à frente para falar sobre a cultura de assédio sexual em certas partes da indústria da moda obrigaram-nos a fazer uma reavaliação", acrescenta.

O movimento #MeToo também teve impacto na indústria da moda, expondo casos de modelos vítimas de assédio sexual ou colocadas em potenciais situações de perigo. A Condé Nast (que além da Vogue detém outras publicações como a Vanity  Fair e a GQ) anunciou logo em Outubro 2017 que iria deixar de trabalhar com Terry Richardson devido às várias acusações de agressão sexual que há anos recaiam sobre o fotógrafo – as quais sempre negou – e em Janeiro deste ano o grupo dispensou também futuras colaborações com Mario Testino e Bruce Weber.

As agências DNA Models e The Society Management comprometeram-se também, a partir deste mês, a deixar de propor modelos menores de idades para desfiles na América do Norte, anuncia ainda a Vogue. No caso da DNA Models, abre-se apenas uma excepção para modelos menores actualmente agenciados que já tenham participado numa semana da moda.

Em Setembro do ano passado, a Kering e a LVMH – dois dos maiores grupos de marcas de luxo – assinaram um documento conjunto em que se estipulava uma série de regras auto-impostas para o bem-estar e saúde das modelos. Comprometeram-se, por exemplo, a trabalhar apenas com maiores de 16 anos e estabeleceram que modelos entre os 16 e 18 devem estar sempre acompanhados por um responsável, que não podem trabalhar entre as 22h e 6h da manhã e que as suas agências têm de assegurar que estão a cumprir os deveres escolares. Em Maio de 2017 entrou ainda em vigor uma lei francesa que obriga as modelos a apresentarem um certificado médico que prove que estão em bom estado geral de saúde física – e não excessivamente magras –, de modo a poderem trabalhar.