Marcelo recusa “triunfalismos” do Governo na análise do incêndio de Monchique

O Presidente da República sugere a criação de uma Comissão Independente, a funcionar em permanência junta da Assembleia República, para que se conheça a razão de ser dos incêndios

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LUSA/Miguel A.Lopes

O problema dos fogos continua a marcar a agenda do Presidente da República. “A batalha não terminou, o Verão ainda é longo”, avisou Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, em Monchique, durante uma vista às zonas ardidas. Sobre o que falhou neste incêndio - o maior da Europa, até ao momento - só uma investigação independente, disse, poderá apurar a verdade, e ajudar a evitar que se repitam erros. “Uma comissão independente, sob a responsabilidade da Assembleia da República”, disse, poderia ajudar a presidência da Republica e o Governo a compreenderem melhor o que se passou.  

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O problema dos fogos continua a marcar a agenda do Presidente da República. “A batalha não terminou, o Verão ainda é longo”, avisou Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, em Monchique, durante uma vista às zonas ardidas. Sobre o que falhou neste incêndio - o maior da Europa, até ao momento - só uma investigação independente, disse, poderá apurar a verdade, e ajudar a evitar que se repitam erros. “Uma comissão independente, sob a responsabilidade da Assembleia da República”, disse, poderia ajudar a presidência da Republica e o Governo a compreenderem melhor o que se passou.  

 O chefe de Estado, ao contrário do fez Governou, recusou enveredar por “triunfalismos, que não se justificam”, na análise da operação de combate ao fogo de Monchique e às medidas preventivas que foram tomadas. Quanto aos apoios anunciados pelo primeiro-ministro, destinados a recuperar casas ardidas, floresta queimada e economias desfeitas, há algumas reservas locais.

O presidente da Câmara de Monchique, Rui André, advertiu: “Não podemos ficar só pelas palavras”. Por seu lado, Marcelo Rebelo de Sousa prometeu: “Eu não me esqueço, o Governo não se esquece – e eu não me esqueço de lembrar ao Governo”, enfatizou. Numa primeira estimativa, o município calcula que são precisos mais de dez milhões para recuperar os bens perdidos.

O ministro da Administração Interna, ao lado do Presidente, limitou-se a ouvir as queixas e as reclamações. No rescaldo do incêndio, Eduardo Cabrita apressou-se a fazer o auto-elogio da  “grande vitória”, pelo facto de não ter havido perdas de vidas humanas. Arderam 27 mil hectares. No mesmo sentido, o primeiro-minstro, António Costa, falou de feitos “extraordinários” da parte dos operacionais.  

Durante o percurso pelas zonas queimadas, Marcelo Rebelo de Sousa foi ouvindo queixas à “desprotecção civil” a que foi votada a floresta e habitações. “Deixaram arder tudo, só se preocuparam em retirar as pessoas à força das suas casas”, queixou-se o vereador da câmara de Monchique, José Chaparro.

O autarca, eleito nas listas do PSD como independente, foi uma das vozes mais críticas da actuação da protecção civil e forças de segurança, falando aos jornalistas à margem da visita presidencial. “Sem triunfalismos, nem juízos críticos imediatos”, recomendou o Presidente, não poupando o Governo nem a oposição local, numa câmara dirigida pelo PSD. A proposta da criação de uma comissão independente, a funcionar de forma permanente junto da Assembleia da República, disse Marcelo Rebelo de Sousa, apareceu por acaso. “ A ideia surgiu depois da reunião no posto de comando da Protecção Civil, instalado no centro da vila de Monchique. “ Não tinha falado com o Presidente da Assembleia da República, nem com o primeiro-ministro”, precisou, após agradecer a “dedicação” dos operacionais. 

Carlos Assunção, produtor e comerciante de cortiça, foi um dos populares que aguardava o Presidente da República: “Queria dizer-lhe que perdi três pilhas de cortiça, e aquela que ardeu na árvore foi muito mais”, declarou ao PÚBLICO.  O produtor florestal, a trabalhar neste sector há 37 anos, pretendia dizer “duas ou três palavras “ sobre o que o apoquentava. “ Olhem para Monchique, não com esmolas, mas em termos futuros”, apelou, dirigindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa.

De forma inesperada, surge, de entre o pequeno grupo de populares que aguardavam Presidente, Filipe Duarte, técnico de turismo da natureza, de 56 anos, que pergunta: “Posso fazer um apelo? Entre os anos 60 a 80, Monchique era o concelho com maior taxa de suicídios do país – o meu pai suicidou-se, quando eu tinha seis meses – se não vieram já psicólogos para o terreno, em breve, esta zona volta a ser uma zona de suicídios”, enfatizou.

A propósito, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que um estudo revelou que uma “faixa significativa de jovens e crianças” ficou marcada, após o incêndio de Pedrogão. No final da jornada, em jeito de balanço, ficou a garantia de uma visita às termas das Caldas de Monchique, lá para o final do ano, chamando a atenção para as potencialidade turísticas da zona, apesar da área envolvente ter ficado em cinzas.

Do mesmo modo, em Silves, – outro dos concelhos fustigado pelos fogos – Marcelo Rebelo de Sousa visitou ontem a Feira Medieval, destacando a importância do evento no calendário turístico da região. Uma particularidade deste concelho. O primeiro comício do PSD, realizado no Algarve no pós-25 de Abril - recordou o deputado social-democrata, Cristóvão Norte - teve lugar em Monchique. Os principais oradores, foram: Marcelo Rebelo de Sousa e Cristóvão Guerreiro Norte [seu pai]. Nas eleições autárquicas de 1976, o Partido Socialista ganhou a presidência de 15 dos 16 municípios algarvios. Monchique foi a excepção à onda rosa.