Crianças migrantes em Itália obrigadas a prostituir-se para conseguir atravessar fronteira

Desde o início de 2017 que 1900 raparigas foram abusadas na região fronteiriça italiana, denuncia a ONG Save The Children.

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As raparigas estão numa situação particularmente exposta a abusos sexuais Goran Tomasevic / Reuters

A troco de uma passagem segura para o território francês, as crianças migrantes no norte de Itália estão a prostituir-se, revela uma investigação da organização humanitária Save The Children. A situação tem piorado nos últimos meses e não se concentra apenas na região fronteiriça mas estende-se também a outras áreas da Itália.

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A troco de uma passagem segura para o território francês, as crianças migrantes no norte de Itália estão a prostituir-se, revela uma investigação da organização humanitária Save The Children. A situação tem piorado nos últimos meses e não se concentra apenas na região fronteiriça mas estende-se também a outras áreas da Itália.

A cena é cada vez mais comum. Crianças, provenientes sobretudo de países da África subsariana, como a Nigéria ou o Sudão, pedem boleia aos automobilistas que se preparam para atravessar a fronteira na direcção de França. Os que param pedem dinheiro, somas que variam entre os 50 e os 150 euros. As menores, que chegaram até ali depois de terem pago aos traficantes de seres humanos, invariavelmente respondem que não têm dinheiro. A alternativa é pagarem com favores sexuais.

A travessia da fronteira não é frequentemente sinónimo de que estão a salvo. Em várias ocasiões a polícia francesa deteve grupos de menores e obrigou-as a entrar em comboios com destino a Itália, em violação dos tratados europeus.

As raparigas jovens estão “especialmente expostas a um risco muito sério de abuso e exploração”, alerta a directora do programa italiano da Save The Children, Raffaela Milano, no relatório citado pelo The Guardian. “São meninas muito jovens, e particularmente em risco, que estão entre o fluxo invisível de migrantes menores desacompanhados em trânsito na fronteira italiana no Norte que, numa tentativa para se reencontrarem com os seus familiares ou conhecidos noutros países europeus, não têm possibilidade de viajar em segurança e legalmente”, explicou Milano.

Desde o início de 2017 e Março deste ano mais de 1900 raparigas foram abusadas sexualmente na região fronteiriça italiana, das quais 160 eram comprovadamente menores – as restantes tinham acabado de fazer 18 anos ou fizeram passar-se por maiores de idade.

“É inaceitável que no nosso país crianças e adolescentes acabem nas mãos de redes de abusadores sem escrúpulos”, lamentou Raffaela Milano. O relatório refere casos de crianças migrantes integradas em redes de prostituição noutras regiões italianas, como o Véneto, Abruzzo, Marcas, Sardenha, e também na área de Roma.

Mais de 18 mil pessoas chegaram a Itália através do Mediterrâneo desde o início do ano, de acordo com os dados da Organização Internacional das Migrações, que revelam uma queda acentuada face ao mesmo período do ano passado (94 mil). A maioria foge de países em guerra ou onde são perseguidas, mas também à fome e à miséria.

A situação das crianças concentradas perto da fronteira entre Itália e França agravou-se depois de as autoridades locais terem desmantelado um campo improvisado perto de Ventimiglia. A ausência de um local onde, apesar das más condições de vida, havia algum nível de segurança forçou os menores a deambular pelas cidades mais próximas, muitas vezes colocando-se em situações “degradantes, promíscuas e perigosas”, nota o relatório.