Ryanair com 90% de adesão a greve, diz sindicato

Estavam previstos sair 51 voos de Portugal esta quarta-feira. Empresa cancelou voos antes de greve. Sindicato acusa empresa de ameaçar trabalhadores.

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No aeroporto de Madrid, passageiros tentam encontrar voos alternativos Reuters/SUSANA VERA

A taxa de adesão à greve dos tripulantes de cabine da Ryanair iniciada esta quarta-feira está até agora nos 90%, disse a meio da manhã ao PÚBLICO Luciana Passo, do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC). Às 9h, outro sindicalista do SNPVAC, Bruno Fialho, informou a LUSA que 50% dos voos totais tinham sido cancelados. A ANA não fornece dados e o PÚBLICO não conseguiu confirmar até agora o número exacto de voos cancelados.

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A taxa de adesão à greve dos tripulantes de cabine da Ryanair iniciada esta quarta-feira está até agora nos 90%, disse a meio da manhã ao PÚBLICO Luciana Passo, do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC). Às 9h, outro sindicalista do SNPVAC, Bruno Fialho, informou a LUSA que 50% dos voos totais tinham sido cancelados. A ANA não fornece dados e o PÚBLICO não conseguiu confirmar até agora o número exacto de voos cancelados.

Segundo Luciana Passo, que acrescentou que a empresa já tinha cancelado um terço dos voos antes de a greve começar esta quarta-feira, estavam previstos sair esta quarta-feira de Portugal 51 voos daquela companhia aérea. 

Os tripulantes de cabine da Ryanair de cinco países europeus, incluindo Portugal, cumprem esta semana uma greve para exigir a aplicação de leis laborais nacionais, enquanto a transportadora critica as paralisações "desnecessárias", que podem levar a reduções de trabalhadores.

Na semana passada, a companhia informou que mais de 90% dos 50 mil passageiros com voos cancelados na quarta e quinta-feira, devido à greve dos tripulantes de cabine, tinham já alternativas asseguradas, como voos remarcados ou pedidos de reembolso feitos.

Com a paralisação marcada para vários países europeus, o sindicato espera "contrariar a ditadura" que a transportadora de baixo custo impõe aos seus funcionários.

Esta quarta-feira, a empresa anunciou a redução de 20% da sua frota em Dublin, Irlanda, ameaçando 300 postos de trabalho, relacionando a medida com a queda das reservas e a greve dos pilotos no país. Informou ainda que a medida foi já comunicada à bolsa de Londres.

O grupo acrescenta que vai dar prioridade às actividades na Polónia. Em Dublin, a Ryanair vai passar assim a dispor de 24 aparelhos sendo que actualmente tem 30 aviões na capital irlandesa. A medida põe em causa os postos de trabalho de 100 pilotos e de 200 elementos do pessoal de cabine.

Na segunda-feira, na informação enviada a propósito dos resultados do primeiro trimestre fiscal, a transportadora irlandesa de baixo custo referiu que, "se estas greves desnecessárias continuarem a danificar a confiança do cliente e os futuros preços/rendimentos em determinados mercados", será então revista a operação de inverno (entre Outubro e Março)".

"Pode levar a reduções de frota em bases perturbadas e à perda de empregos em mercados onde os funcionários concorrentes estão a interferir nas negociações com os nossos funcionários e com os nossos sindicatos. Não podemos permitir que os voos dos nossos clientes sejam interrompidos desnecessariamente por uma pequena minoria de pilotos", segundo a mesma nota, que recordava a terceira paralisação de pilotos de hoje.

Ameaças, diz sindicato

Bruno Fialho adiantou também à Lusa que na terça-feira vários tripulantes de cabine portugueses receberam uma carta da empresa com ameaças. “Ontem [terça-feira] houve a pior das situações ilegais: foi uma coação sobre os trabalhadores. Foi enviada uma carta ameaçando os mesmos de que se não fossem voar em dias de folga e que batiam nos dias da greve iriam ser despedidos. Isto em Portugal é crime e não sei o que o Governo português pretende fazer sobre todas as provas que já foram apresentadas da conduta que a Ryanair tem com os trabalhadores portugueses”, adiantou.

O sindicalista destacou que a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) tem feito um bom trabalho com os meios que tem. Por isso, “apelamos ao Governo que é quem tem todos os meios possíveis para solucionar e para terminar com estas situações de abuso, como nestes casos. Há uma ameaça de despedimento caso os trabalhadores façam greve e obriga os tripulantes a trabalhar em dias de folga”, disse.

A Ryanair tem estado envolvida, em Portugal, numa polémica desde a greve dos tripulantes de cabine de bases portuguesas por ter recorrido a trabalhadores de outras bases para minimizar o impacto da paralisação, que durou três dias, no início de Abril.

O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil tem denunciado, desde o início da paralisação, que a Ryanair substitui ilegalmente grevistas portugueses, recorrendo a trabalhadores de outras bases.

A empresa admitiu ter recorrido a voluntários e a tripulação estrangeira durante a greve. Por essa razão, a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) tem, “desde a semana passada, vindo a acompanhar esta situação e a desenvolver todos os passos necessários para identificar situações que possam, eventualmente, ferir a legalidade do nosso quadro constitucional do direito à greve”, acrescentou.

No domingo, a ACT anunciou ter desencadeado uma inspecção na Ryanair em Portugal para avaliar as irregularidades apontadas pelo SNPVAC.

Lucro de 319 milhões de euros

A Ryanair anunciou ter registado um lucro de 319 milhões de euros no seu primeiro trimestre fiscal (até 30 de Junho), numa diminuição de 20%, na comparação homóloga.

A descida, segundo a companhia, deveu-se nomeadamente à diminuição do preço da tarifa média, à não contabilização das férias da Páscoa neste período, ao aumento dos custos com combustíveis, custos com trabalhadores e greves e falta de pessoal dos controladores aéreos.

Na mesma informação, a companhia aérea irlandesa notou ter implementado uma "série de iniciativas para tornar a Ryanair mais atractiva para pilotos e tripulantes de cabine", como aumentos salariais, transferências para bases preferidas, investimentos em formação e reconhecimento de sindicatos.

A companhia referiu esperar mais "greves durante o período de pico do Verão", mas que não irá aceitar "exigências não razoáveis que comprometam quer os preços baixos, quer o modelo altamente eficiente".