Na Nicarágua, Masaya é o centro da resistência ao regime de Ortega

A ofensiva das forças pró-Governo em Masaya provocou o pânico. Apresentadores de televisão choraram em directo.

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Em 1979, esta cidade esteve no centro de uma revolução que levou o partido do Presidente Daniel Ortega ao poder. Mas agora, cidadãos com morteiros construídos por eles próprios, armas feitas com tubos de metal e barricadas estão a levar a cabo uma revolta contra o partido do líder septuagenário da Nicarágua. Uma grande ofensiva contra a cidade foi lançada esta terça-feira - de militares, polícias e civis armados leais ao Presidente. 

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Em 1979, esta cidade esteve no centro de uma revolução que levou o partido do Presidente Daniel Ortega ao poder. Mas agora, cidadãos com morteiros construídos por eles próprios, armas feitas com tubos de metal e barricadas estão a levar a cabo uma revolta contra o partido do líder septuagenário da Nicarágua. Uma grande ofensiva contra a cidade foi lançada esta terça-feira - de militares, polícias e civis armados leais ao Presidente. 

A cidade de Masaya, a cerca de 24 km a sudeste da capital, Manágua, anunciou que não reconhece o Governo de Ortega. Os seus habitantes defenderam essa declaração com uma resistência bem organizada mas pouco armada que enfrentou a investida das forças de segurança do Estado e apoiantes do Governo para recuperar a cidade.

Quase 300 pessoas morreram na Nicarágua desde que em Abril começaram protestos a nível nacional. Foram provocados inicialmente por uma reforma do sistema de segurança social (entretanto suspensa) mas alargaram-se rapidamente para incluir pedidos de mais democracia e a demissão de Ortega, que acabou com os limites de mandatos na Constituição, proibiu vários partidos da oposição e governa com a sua mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente.

Grupos de defesa de direitos humanos criticaram o Governo por uso excessivo da força na resposta às manifestações. O Governo negou as acusações.

A batalha por Masaya foi a primeira entre as forças do Governo e manifestantes, e pode ser um ponto de viragem no conflito.

“Esta é uma luta pela democracia, pelo restabelecimento da separação de poderes”, disse um dos homens em várias barricadas na auto-estrada no flanco Leste da cidade, que apenas fala sob o seu nome de guerra, Comandante Zeta. “Esta ditadura chegou longe demais.”

Responsáveis da polícia nacional disseram que não tinham informação sobre o que se passava na cidade, enquanto as forças leais a Ortega lançavam uma ofensiva e voltavam a controlar parte da cidade, levando os revoltosos a concentrar-se em Monimbo, o bairro indígena onde começou a rebelião.

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Daniel Ortega foi a Manaya participar nas comemorações da "retirada estratégica" dos sandinistas em 1979, quando saíram da capital para esta cidade RODRIGO SURA/EPA

Os revoltosos são estudantes, antigos guias turísticos, e outros cidadãos, e metade das forças sob as ordens do Comandante Zeta tinham uma arma, algumas artesanais, outras retiradas da polícia. “Estes cães estão a matar-nos, só nos estamos a defender usando as suas armas”, justificou.

Se houve mortes do lado dos rebeldes, também houve do lado da polícia – embora esta tenha declinado confirmar as suas baixas.

Os combatentes e civis dizem que a resistência armada é necessária porque não podiam viver mais sob o regime de Ortega e temiam graves repercussões se a cidade fosse recapturada.

“Em mais lado nenhum na Terra a mulher do Presidente poderia ser vice-presidente”, diz Silvio Estrada, habitante de Masaya que diz ter perdido os dedos em interrogatórios das forças do ditador Anastasio Somoza, há cerca de 40 anos.

Os combates mostram uma viragem na cidade cujos habitantes costumavam sair à rua para receber Ortega quando este a visitava. Tornou-se famosa como o local de refúgio dos guerrilheiros sandinistas se refugiaram e reagruparam durante os bombardeamentos do Governo em Junho de 1979.

Alguns habitantes mantêm-se fiéis ao Partido Sandinista, como os grupos pró-Governo que patrulham os limites da cidade. Dizem que os protestos são resultado da intervenção da CIA, lembrando o apoio dos EUA às forças contra o governo sandinista nos anos 1980. “É uma enorme conspiração, como a Guerra Fria”, disse um combatente pró-Governo que não quis dizer o nome. “Estou com esta luta porque sei que são estrangeiros que estão a financiar isto [o protesto] e a instigar”, disse outro. O Governo diz que não controla estas milícias, mas enquanto os dois membros da milícia falavam, um outro membro do grupo despia o uniforme de polícia e vestia o uniforme informal, preto, do grupo.

A insurreição espalhou-se muito para além de Masaya, que foi a primeira cidade a barricar-se. Outras cidades já o fizeram e declararam a sua autonomia. Mas em Masaya a situação é especial e enquanto as forças do Governo avançavam, cada vez mais perto do bairro de Monimbo, espalhou-se o pânico na Nicarágua. Apresentadores de telejornal começaram a chorar em directo, pedindo intervenção contra o que muitos temem que possa vir a ser um massacre.

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Resistência na comunidade indígena de Monimbo, em Masaya Oswaldo Rivas/REUTERS

A Igreja Católica mandou uma delegação de bispos à cidade, chefiada pelo arcebispo de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes. Milhares acompanharam-nos pelas ruas, cantando o antigo espiritual When The Saints Go Marching In.

“É a mesma história a que sobrevivemos há 40 anos quando a Guarda Nacional de Somoza assassinou jovens dissidentes”, disse Tania Albaga, que vive em frente ao memorial aos rebeldes sandinistas mortos. “Não há nada de novo debaixo do sol – a história repete-se”.

Exclusivo PÚBLICO/Washington Post