Fraude fiscal obriga ministro da Cultura espanhol a apresentar demissão

Màxim Huerta tomou posse há menos de uma semana, mas a divulgação de uma sentença judicial sobre a utilização de uma empresa para pagar menos impostos levou à sua queda.

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Màxim Huerta LUSA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

O novo ministro da Cultura espanhol, Màxim Huerta, apresentou a sua demissão menos de uma semana depois de ter tomado posse. Na base da decisão está um escândalo de fraude fiscal desvendado horas antes.

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O novo ministro da Cultura espanhol, Màxim Huerta, apresentou a sua demissão menos de uma semana depois de ter tomado posse. Na base da decisão está um escândalo de fraude fiscal desvendado horas antes.

Esta terça-feira o jornal El Confidencial divulgou que Huerta foi condenado a pagar mais de 365 mil euros à Autoridade Tributária espanhola em 2014. A condenação, que foi confirmada no ano passado, surgiu por ter utilizado uma empresa de fachada para pagar menos impostos entre 2006 e 2008.

Durante este período, Huerta era apresentador de televisão, tendo criado uma sociedade fictícia com o único propósito de declarar os fundos recebidos enquanto jornalista. Ou seja, o agora ex-ministro da Cultura pagou os impostos referentes a estes vencimentos através desta empresa, o que significa pagar quase metade da percentagem cobrada a uma pessoa singular. Além disso, cobrou despesas à sociedade que não estavam directamente relacionadas com a sua actividade.

Ao todo, a Autoridade Tributária calculou que Huerta defraudou o Estado em mais de 218 mil euros.

Pouco tempo depois do anúncio, o presidente do Governo, Pedro Sánchez, substituiu Huerta por José Guirao Cabrera, ex-director do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofía, em Madrid.

Depois de se deslocar ao Palácio da Moncloa para apresentar a demissão a Sánchez, Huerta garantiu, em declarações aos jornalistas, que está inocente mas “às vezes é preciso retirar”, disse. “É isso que estou a fazer”.

Logo após a publicação da notícia, Huerta deu indicações de que não iria apresentar a demissão, tal como foi prontamente exigido pelo Partido Popular e pelo Podemos: “Este assunto não foi como ministro. Foi como Màxim Huerta. Aconteceu comigo como com tantos outros jornalistas”, disse, citado pelo El País. “Não houve má-fé. Não ocultei nada. Estou ciente das minhas obrigações fiscais.”

Huerta tomou posse como ministro da Cultura no dia 7 de Junho tendo sido nomeado para o cargo por Pedro Sánchez, líder do PSOE, que subiu à chefia do Governo depois de conseguir fazer aprovar uma moção de censura contra Mariano Rajoy no Parlamento.

Falando numa "caça às bruxas", Huerta afirmou nesta quarta-feira que se retira por uma questão de transparência: "Vou-me embora porque, tal como o presidente [do Governo], estou convencido de que precisamos de transparência".

"Paguei esta multa duas vezes: primeiro às Finanças e pago-a pela segunda vez aqui, agora, porque a inocência não vale de nada ante esta matilha", disse. "Para defender o que amas, às vezes é preciso retirar-se. Amo a cultura mais do que nada".

O jornalista e escritor torna-se assim o ministro que esteve menos tempo no cargo em toda a história democrática de Espanha.