Organização diz que “não se revê” em episódio de racismo que levou à interrupção de debate

Segundo os relatos, ainda antes de acabar o debate, uma funcionária da entidade organizadora do evento dirigiu-se a um dos oradores dizendo “Vê lá se te despachas”, tendo tido uma atitude de desprezo ao longo da sessão. A APEL emitiu um pedido de desculpa aos intervenientes nesta segunda-feira.

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O painel do debate de sábado DR

O debate sobre activismo que decorreu na tarde de sábado na Feira do Livro, em Lisboa, a propósito do livro Racismo no País dos Brancos Costumes (que nasceu de um trabalho de investigação do PÚBLICO), terminou mais cedo do que o esperado, com a interrupção de uma funcionária da APEL, entidade responsável pela organização do evento. Alegando que já passava da hora estipulada, a funcionária interrompeu o debate e “começou a mandar calar directamente os intervenientes”, conta a responsável pela editora Tinta da China, Bárbara Bulhosa. A APEL “lamenta profundamente” o sucedido e emitiu um pedido de desculpa aos intervenientes nesta segunda-feira.

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O debate sobre activismo que decorreu na tarde de sábado na Feira do Livro, em Lisboa, a propósito do livro Racismo no País dos Brancos Costumes (que nasceu de um trabalho de investigação do PÚBLICO), terminou mais cedo do que o esperado, com a interrupção de uma funcionária da APEL, entidade responsável pela organização do evento. Alegando que já passava da hora estipulada, a funcionária interrompeu o debate e “começou a mandar calar directamente os intervenientes”, conta a responsável pela editora Tinta da China, Bárbara Bulhosa. A APEL “lamenta profundamente” o sucedido e emitiu um pedido de desculpa aos intervenientes nesta segunda-feira.

“É frequente nos debates fazerem-nos sinais de que estamos a ultrapassar o tempo ou perto disso”, começa por dizer a jornalista do PÚBLICO, autora do livro e moderadora do debate, Joana Gorjão Henriques, dizendo que sabia ter à mesa “palestrantes incisivos, directos, capazes de incomodar com o seu discurso”. O painel contava com a presença da activista Ana Tica, de Beatriz Dias, da Djass, Mamadou Ba, do SOS Racismo, e Raquel Rodrigues, da Femafro.

“O que não sabia era que as suas palavras iriam incomodar tanto ao ponto de alguém com a camisola da organização os querer silenciar, numa tentativa de humilhar e de querer afirmar que não pertenciam àquele espaço.” Num comunicado enviado ao PÚBLICO, a APEL diz que “não se revê de nenhum modo na atitude assumida pela sua colaboradora, que dava apoio logístico à sessão de apresentação”, referindo ainda que tomou medidas para “evitar a repetição de incidentes deste teor”.

“Vê lá se te despachas!”

A editora Bárbara Bulhosa descreve o que aconteceu: “O problema surgiu quando, às 14h49, começou a mandar calar directamente os intervenientes. Aproximou-se do palco e disse ao Mamadou Ba, que estava a falar: ‘Vê lá se te despachas!’” O episódio ganhou visibilidade precisamente quando foi relatado pela responsável da editora Tinta da China no Facebook, publicação que soma nesta segunda-feira mais de 800 partilhas.

“A senhora insiste em interrompê-lo de um modo que eu nunca vi alguém de uma organização interromper. De tal forma fiquei atónita e imobilizada com a cena que decidi, já depois de a editora ter ido reclamar com a senhora, que então iríamos terminar para não deixar os convidados ainda mais desconfortáveis ou armar uma discussão no palco”, explica Joana Gorjão Henriques.

Segundo os relatos de quem estava na plateia, a colaboradora tinha passado o debate a tecer comentários de desagrado com os intervenientes, chegando a referir-se a eles como “essa gente”. “Há ainda uma outra dimensão: a postura física, o olhar e a perversa agressividade tão características do racismo”, descreve a jornalista do PÚBLICO.

“Eu saltei da primeira fila e abordei a senhora voluntária dizendo-lhe peremptoriamente que não podia mandar calar um convidado que estava a falar para uma plateia cheia”, diz Bárbara Bulhosa. “Que não pode tratar por tu um desconhecido, que em 12 anos de Feira do Livro nunca tal me tinha acontecido”, acrescenta.

“Alguém que veste a camisola de uma organização sentiu que podia mandar calar e maltratar convidados, tentando exercer o seu pequeno poder”, prossegue Joana Gorjão Henriques. Segundo a jornalista, foram logo apresentadas 15 queixas no livro de reclamações da Feira do Livro.

“Que a lição sirva para que mais nenhum funcionário de qualquer feira do livro se sinta no direito de mandar calar alguém por ser negro”, conclui Joana Gorjão Henriques.