Mãe, pai! Está escuro… Tenho medo!

Aprender a dormir sozinho e permanecer a noite completa no seu quarto é uma das importantes conquistas no desenvolvimento de qualquer criança e que o ajudará a ser um adulto mais seguro e confiante.

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Sensivelmente, aos três anos, quando a criança inicia a fase da imaginação, começam a surgir os primeiros medos Roberto Machado Noa/LightRocket via Getty Images

É comum a criança começar a ir para o quarto dos pais no meio da noite e pedir socorro por causa do lobo mau escondido debaixo da cama.

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É comum a criança começar a ir para o quarto dos pais no meio da noite e pedir socorro por causa do lobo mau escondido debaixo da cama.

Na sua maioria, as crianças manifestam medos transitórios típicos de determinada idade e que se dissipam naturalmente ao longo do seu desenvolvimento. O medo faz parte do desenvolvimento emocional do ser humano e é uma resposta frequente e adaptativa perante ameaças reais ou imaginárias.

Sensivelmente aos três anos, quando a criança fortalece a fase da imaginação e ainda não consegue distinguir a realidade da fantasia, começam a surgir os primeiros medos, habitualmente relacionados com monstros, fantasmas, estar sozinho ou medo do escuro. É geralmente com esta idade que começa a surgir ou a intensificar-se o medo de dormir sozinho, sendo à noite e no escuro que as suas fantasias e receios, provenientes da exploração do imaginário, adquirem formas variadas e assustadoras. Nestes momentos de angústia, a solução mais fácil e rápida é correr para a cama dos pais para se sentirem seguros.

O que parece ser um pedido inofensivo poderá provocar alterações psicológicas na criança e na relação afetiva do casal. A necessidade de ter companhia para dormir possibilita a construção de um padrão de comportamento de exagerada dependência dos pais com impacto na sua autonomia.

Aprender a dormir sozinho e permanecer a noite completa no seu quarto é uma das importantes conquistas no desenvolvimento de qualquer criança e que o ajudará a ser um adulto mais seguro e confiante. A forma como os pais reagem perante estes medos também afetará a capacidade de a criança adormecer e a qualidade do seu sono.

É fundamental ensinar o seu filho a lidar com o medo durante a infância para se preparar convenientemente para o futuro e, de acordo com a literatura, existem algumas estratégias que poderão ajudar os pais a apoiar o filho a conquistar esta autonomia.

Ouça atentamente e respeite aquilo que a criança tem para lhe dizer.

Aquilo que para o adulto poderá parecer insignificante, para a criança tem um impacto diferente, o que a assusta é real e tem sentido. Ao perceber que consegue falar sobre os seus medos e que o adulto tem disponibilidade para a ouvir, passa a conseguir controlar-se. Tendo um impacto significativo no seu sentimento de segurança, bem como no seu crescimento pessoal.

É importante desmistificar o medo, passando a mensagem de que é um sentimento normal e que todas as pessoas sentem ou já sentiram medo em diversas ocasiões da sua vida. Aproveite estes momentos para partilhar os medos que teve quando era criança e como os conseguiu vencer.

Estabeleça limites, regras e rotinas.

Para qualquer criança, para além da necessidade de sentir e vivenciar o amor incondicional dos pais, é também essencial sentir os limites, regras e rotinas para se conseguir gerir as suas próprias emoções e ganhar autoconfiança. Assim, é imprescindível manter a disciplina e estabelecer rotinas sobre os horários de comer, dormir e acordar. Ao perceber que existe previsibilidade, a criança irá sentir mais confiança também na hora de dormir. É importante também organizar e criar uma rotina relacionada com o deitar que poderá passar por um banho, ouvir uma história ou uma música relaxante.

Algumas coisas que ajudam a sentir segurança na hora de dormir.

Permita o uso de objetos que transmitam conforto e segurança (como os peluches ou um “spray antimonstros”), assim a criança irá sentir-se acompanhada e tranquila, focando a sua atenção no objeto e desviando o pensamento sobre os assuntos que lhe causam medo.

Deixe uma luz de presença acesa no quarto. A luz transmite um sentimento de controlo e poder sobre o espaço que a rodeia.

O quarto deve ser um espaço que dê segurança à criança. Retire todos os objetos que possam causar algum receio e evite as sombras nas paredes (para qualquer criança, uma sombra de um boneco rapidamente se transforma num monstro).

No momento de ir dormir, acompanhe a criança até à cama, mas não se deite com ela. Fique por perto e poderá ler-lhe uma história ou partilhar um momento positivo desse dia.

Garanta que vai estar por perto se for necessário e retire-se do quarto antes de a criança adormecer.

Evite atividades estimulantes na hora de dormir.

Para garantir uma boa qualidade do descanso noturno da criança, é essencial manter bons hábitos de sono e adotar comportamentos que não sejam demasiado estimulantes antes de dormir, como ver televisão, jogar nos tablets ou até ingerir bebidas ou comidas açucarados. O acesso à televisão, a imagens ou jogos na Internet, por exemplo, poderá levar à criação de imagens mentais irreais e assustadoras, o que irá provocar uma maior ansiedade na hora de dormir.

Valorize a criança por ser capaz de dominar os seus próprios medos.

É importante encorajar a criança para o sucesso, bem como valorizá-la, através do elogio e da partilha de afetos a cada conquista.

E se não passar?

Esta fase costuma ser transitória, mas não existe uma idade e tempo exato para que isso aconteça, pois depende do desenvolvimento emocional de cada criança. Entretanto, se a insegurança se prolongar, nomeadamente a partir dos sete anos, tornando-se um medo patológico, ou se os pais tiverem dificuldade de lidar com a situação, recomenda-se a procura de ajuda especializada.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico.