Identificadas características das células cancerosas que podem ser o seu calcanhar de Aquiles

Identificadas características nas células cancerosas que pode ajudar no combate à doença.

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À esquerda, células saudáveis (com quatro centríolos) e, à direita, células cancerosas, com muitos centríolos (nesta há 16) Gaëlle Marteil

Uma equipa internacional de investigação liderada por Mónica Bettencourt Dias, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, identificou características importantes das células cancerosas, que podem ajudar na luta contra o cancro.

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Uma equipa internacional de investigação liderada por Mónica Bettencourt Dias, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, identificou características importantes das células cancerosas, que podem ajudar na luta contra o cancro.

Os investigadores descobriram, segundo o estudo publicado esta quarta-feira na revista científica Nature Communications que na maioria dos subtipos agressivos de cancro ocorre um aumento do número e do tamanho de umas estruturas minúsculas que existem nas células chamadas centríolos.

Num comunicado divulgado pelo IGC explica-se que os centríolos são cerca de cem vezes mais pequenos do que um fio de cabelo e que têm sido considerados o “cérebro” da célula, porque desempenham papéis cruciais na multiplicação, no movimento e comunicação entre células. Desde a sua descoberta, há mais de um século, que se propôs que o aumento anormal no número destas estruturas podia induzir cancro.

A equipa da bióloga Mónica Bettencourt Dias – que é a nova directora do IGC, substituindo este ano o britânico Jonathan Howard – tem investigado a incidência de anomalias nos centríolos em células cancerosas humanas. Para este trabalho, a equipa – que envolveu cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S, no Porto), do Instituto de Medicina Molecular (em Lisboa), do Instituto Português de Oncologia e ainda do Instituto do Cancro Dana-Faber (nos Estados Unidos) – analisou células cancerosas oriundas de nove tecidos diferentes.

“Esses são processos normalmente alterados no cancro e permitem a sobrevivência e multiplicação das células cancerosas”, explica o instituto, acrescentando que o número e tamanho dos centríolos são “altamente controlados” nas células normais. O que os investigadores descobriram foi que nas células cancerosas os centríolos são frequentemente mais longos e em maior número do que nas células normais.

“Mais importante, a equipa observou que o excesso de centríolos é mais prevalente em formas agressivas do cancro da mama, como o triplo negativo e do cólon. Descobriram também que os centríolos mais longos são excessivamente activos, o que perturba a divisão das células e pode levar à formação de cancro”, diz-se no comunicado.

Gaëlle Marteil, a primeira autora do estudo e investigadora do laboratório de Mónica Bettencourt Dias, acrescentou ainda, citada no comunicado: “Os nossos resultados confirmam que uma desregulação no número e tamanho dos centríolos dentro das células está associada a características malignas. Esta descoberta pode ajudar a estabelecer as propriedades dos centríolos como uma forma de classificar tumores de modo a determinar prognósticos e prever o tratamento adequado.”

Continuando esta investigação, a equipa está agora a explorar novos mecanismos e terapêuticas que possam actuar sobre os centríolos no cancro, para que as características das células cancerosas possam ser usadas como o seu calcanhar de Aquiles.