“Acho totalmente errado que não se tenha feito uma nova avaliação psicológica”

O psicólogo forense e professor da Universidade do Minho Rui Abrunhosa Gonçalves critica o facto de o tribunal não ter pedido uma nova perícia médico-legal a Pedro Dias. Não tem de resto dúvidas que o diagnóstico inicial de psicopatia se confirmou durante o julgamento.

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Como avalia esta sentença?
Acho que era o desfecho previsível. A defesa faz o papel dela e queria obviamente que ele fosse condenado por homicídio privilegiado, que é aquele homicídio praticado pela pessoa que não estava no pleno discernimento e uso das suas faculdades. Isso só se colocaria se estivéssemos perante alguém com uma doença mental, que neste caso nunca foi diagnosticado, pelo menos que se saiba. E há que atender à natureza dos actos. 

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Como avalia esta sentença?
Acho que era o desfecho previsível. A defesa faz o papel dela e queria obviamente que ele fosse condenado por homicídio privilegiado, que é aquele homicídio praticado pela pessoa que não estava no pleno discernimento e uso das suas faculdades. Isso só se colocaria se estivéssemos perante alguém com uma doença mental, que neste caso nunca foi diagnosticado, pelo menos que se saiba. E há que atender à natureza dos actos. 

Mas acho totalmente errado que não se tenha feito uma perícia adicional de cariz médico-legal, de avaliação psicológica forense, que serviria para identificar o melhor possível as características da patologia deste homem. Estes são os casos em que se deve periciar para que não haja a mínima dúvida de que estamos perante alguém que de forma consciente fez o que fez.

Considerou, em Outubro de 2016, que face aos factos que são do conhecimento público, tudo indica que Pedro Dias “se trata de um psicopata”. Depois da forma como se entregou à polícia e do que tem sido noticiado sobre o julgamento, mantém esta opinião?
Sim, no âmbito daquilo que foi conhecido e depois se deu como provado, nestes casos só há uma possibilidade à partida: é uma desordem de personalidade grave, do tipo da psicopatia. E isso foi corroborado no julgamento. Por exemplo, o facto de ele ter acusado um dos militares da GNR [de agressão, tendo sido isso, alegou, que o motivou a disparar sobre ele]: isto só poderia ter partido da cabeça de alguém que tenta aligeirar a sua culpabilidade. 

E toda a encenação à volta da sua entrega às autoridades é típica do funcionamento de um psicopata. É o tentar desviar as atenções daquilo que é mais importante. O que leva o cidadão comum a questionar: "Talvez aquele indivíduo não tenha cometido os crimes, porque senão não iria colocar-se desta maneira em frente às câmaras de televisão". Mas isso fez parte de uma encenação, onde também há a questão da imagem, do querer ser visto pelos outros.

É nesta base que estes indivíduos actuam: tentam impressionar pelas suas palavras e pela sua postura, causando nos outros, por vezes, alguma perturbação, dúvida, inquietude. Coisa que eles não têm: se fossem um bocado mais inquietos porventura não fariam aquilo que fazem.

Como é que a justiça trata pessoas com este tipo de condição?
Repare-se que aqui a investigação criminal tinha as vítimas e uma testemunha muito importante daquilo que fez o Pedro Dias. Por isso, o processo tinha tudo para ser, tanto quanto posso afirmar, limpo. Agora resta que se cumpra a lei.