Rússia oferece retirada segura a rebeldes em dia sangrento em Ghouta

Quase 80 pessoas morreram na segunda-feira, o mais mortal para civis desde a declaração de um cessar-fogo. Depois da ofensiva terrestre, Kremlin propõe fuga em segurança dos rebeldes presentes no enclave localizado nos arredores de Damasco.

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A contagem de mortos no leste de Ghouta, na Síria, continua e nunca o número de mortos atingiu um valor tão alto num período de 24 horas. Segundo diferentes agências de notícias – AFP e Associated Press – na segunda-feira morreram pelo menos 77 pessoas naquele enclave. Nesta terça-feira, o Kremlin propôs à oposição armada do regime de Bashar al-Assad uma retirada em segurança de Ghouta.

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A contagem de mortos no leste de Ghouta, na Síria, continua e nunca o número de mortos atingiu um valor tão alto num período de 24 horas. Segundo diferentes agências de notícias – AFP e Associated Press – na segunda-feira morreram pelo menos 77 pessoas naquele enclave. Nesta terça-feira, o Kremlin propôs à oposição armada do regime de Bashar al-Assad uma retirada em segurança de Ghouta.

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Boa parte do material de apoio humanitário que seguia nos camiões da ONU foi apreendido pelas forças do governo de Damasco EPA/Mohammed Badra

A ajuda humanitária que estava a ser canalizada para o enclave foi retirada depois do dia mais sangrento para a população civil desde o início do cessar-fogo naquela região controlada pela oposição a Bashar al-Assad. Foi a primeira vez que uma coluna humanitária conseguiu entrar em Ghouta desde o início da ofensiva de Damasco na região.

A UNICEF revelou entretanto que desde o início deste ano, em pouco mais de dois meses, pelo menos mil crianças morreram ou ficaram gravemente feridas, referem as agências internacionais.

De nada valeram às dezenas de civis que perderam a vida na segunda-feira a trégua humanitária diária de cinco horas imposta pelo Presidente russo, Vladimir Putin, e o cessar-fogo de 30 dias em todo o território sírio aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU. Nem para as 12 pessoas que terão morrido no domingo, mas cujos corpos só foram encontrados um dia depois, quando ali chegou a caravana de 46 camiões com ajuda humanitária das organizações Cruz Vermelha, Crescente Vermelho e Nações Unidas. Com as vítimas destes últimos dois dias, o número de mortos em Ghouta nas últimas duas semanas aproxima-se dos 800.

Em Fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprovou um cessar-fogo de 30 dias mas excluiu da decisão as operações militares contra grupos considerados “terroristas”, incluindo o Daesh, a Al Qaeda, a Jabhat Fateh al-Sham (anteriormente conhecido como Frente Al-Nusra), e “todos os outros indivíduos, compromissos, e entidades associadas” a estas organizações.

Segundo a agência francesa de notícias AFP, o apoio à população civil teve de ser encurtado devido ao contínuo surto de violência. Isto depois de, também na segunda-feira, se ter ficado a saber que o executivo de Damasco condicionou fortemente a entrada da ajuda humanitária naquele enclave, tendo retirado a maior parte do material médico que seguia nos camiões da ONU, como por exemplo, a insulina, kits de diálise e material para auxílio de feridos e para cirurgias.

De Genebra, as Nações Unidas anunciaram que estão a planear enviar novamente coluna de ajuda humanitária, esta semana, depois de apenas 14 dos 46 camiões terem conseguido descarregar a ajuda, devido aos bombardeamentos da localidade de Douma.

“Depois de quase nove horas no interior, a decisão tomada foi sair por motivos de segurança e para evitar por em risco as equipas humanitárias”, disse esta terça-feira aos jornalistas Jens Laerke do Gabinete de Coordenação das Questões Humanitárias (OCHA) das Nações Unidas. Na quinta-feira, haverá uma nova tentativa de fazer chegar a ajuda ao leste de Ghouta.

Kremlin oferece retirada segura aos rebeldes

Durante o fim-de-semana, as tropas de Assad, apoiadas por Moscovo, iniciaram a ofensiva terrestre na região depois de duas semanas de intensos bombardeamentos – repetindo a estratégia utilizada noutras zonas da Síria, como Alepo, ao longo da guerra que vai no seu sétimo ano.

Numa questão de dias, e segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, o exército sírio recuperou o controlo de um terço do enclave localizado nos arredores de Damasco.

Agora, o exército russo ofereceu à oposição armada uma retirada segura de Ghouta, abrindo caminho à rendição dos rebeldes.

De acordo com a Reuters, o Ministério da Defesa russo propôs que os rebeldes possam deixar a região de forma segura com as suas famílias e armas pessoais.

“O Centro de Reconciliação Russo garante imunidade a todos os combatentes rebeldes que tomem a decisão de deixar Ghouta Oriental com armas pessoais e juntamente com as suas famílias”, diz o comunicado divulgado pelo ministério russo, acrescentando que serão providenciados os veículos para a fuga dos militantes e que a segurança em todo o percurso será garantida.

À Reuters, Wael Alwan, porta-voz de um dos principais grupos rebeldes, o Failaq al-Rahman, disse que Moscovo está a “insistir na escalada militar e a impor o deslocamento forçado”, o que considerou ser um “crime”. Alwan garante ainda que não houve qualquer contacto com o Kremlin relativamente à proposta apresentada.

A estratégia que está a ser aplicada pelo Governo sírio e pelos seus aliados russos no enclave de Ghouta assemelha-se à utilizada, por exemplo, em Alepo, onde uma ofensiva terrestre se seguiu a semanas de intensos bombardeamentos e cercos militares. Também aí foi proposto aos rebeldes a sua retirada em segurança o que levou à sua rendição.

A iminente queda dos rebeldes em Ghouta será a maior derrota para a oposição a Assad desde, precisamente, Alepo. Com a perda de controlo do enclave, os rebeldes perdem a capacidade de atingir Damasco com os seus morteiros.

De acordo com os media controlados pelo Estado sírio, a oposição armada tem atingido a capital vitimando dezenas de civis. Com base nestas informações, o Kremlin acusou os Estados Unidos de desrespeitar o cessar-fogo ao não fazer nada para impedir os ataques dos rebeldes sobre Damasco.

Por sua vez, no domingo, Washington responsabilizou directamente a Rússia pela morte de civis na Síria.