Ajuda humanitária chega à região síria de Ghouta sem a maior parte do material médico

Um comboio humanitário de 46 camiões chegou ao enclave da oposição sem insulina, kits de diálise e material para tratamento de feridos e para cirurgias. Forças de Assad já controlam um terço da região.

Fotogaleria
Reuters/SOCIAL MEDIA
Fotogaleria
LUSA/YOUSSEF BADAWI
Fotogaleria
LUSA/YOUSSEF BADAWI

Pela primeira vez desde o início da intensa ofensiva do regime de Bashar al-Assad, que começou em Fevreiro, chegou à região síria de Ghouta uma caravana humanitária destinada às cerca de 400 mil pessoas que se encontram neste enclave rebelde nos arredores de Damasco. Porém, as forças governamentais retiraram a maior parte do material médico transportado pelos 46 camiões.

A chegada da ajuda enviada pela Cruz Vermelha, Crescente Vermelho e Nações Unidas ficou marcada pelas acusações de violação do cessar-fogo anunciado pela Rússia, principal aliado de Assad, e pela ONU.

Ali al-Za’tari, coordenador da ajuda humanitária da ONU para a Síria, que acompanhou a entrada dos camiões, disse à Reuters que estava insatisfeito por ter ouvido explosões enquanto os veículos entravam na região. “Precisamos que seja garantido que podemos entregar a assistência em boas condições. O comboio humanitário não é suficiente”, explicou.

A Reuters diz que o Governo de Damasco retirou a maior parte dos materiais médicos dos camiões da ONU - por exemplo a insulina, kits de diálise e material para tratamento de feridos e para cirurgias. Za’tari disse que o comboio humanitário arrancou com materiais médicos suficientes para assistir pelo menos 70 mil pessoas. Porém, sem o que foi retirado, só vai servir para 27,500 pessoas.

Nos últimos dias o Exército sírio iniciou a ofensiva terrestre na região de Ghouta, depois de duas semanas de intensos bombardeamentos para recuperar um dos territórios ainda controlados pela oposição armada ao regime de Assad. De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (organização com sede em Londres e activistas no terreno), numa questão de dias as tropas de Damasco recuperaram o controlo de um terço de Ghouta Oriental.

Um dos três principais grupos rebeldes, o Jaish al-Islam, cuja presença na Sìria  se centra sobretudo em Ghouta, admitiu que a “política de terra queimada” do Governo forçou os militantes a recuar e a reagruparem. Porém, ameaçou regressar para recuperar o território perdido.

Os rebeldes estão prestes a sofrer a maior derrota desde a queda de Alepo, no final de 2016. Sem o controlo de Ghouta, os grupos opositores a Assad perdem a capacidade de atingir Damasco. De acordo com a comunicação social controlada pelo Estado sírio, nas últimas duas semanas os rebeldes atingiram a capital com morteiros e provocaram a morte de dezenas de pessoas.

Esta situação serviu de mote para a resposta de Moscovo às duras acusações dos Estados Unidos, que responsabilizou directamente a Rússia pela morte de civis na Síria. O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, afirmou nesta segunda-feira que são os EUA que estão a desrespeitar a resolução do Conselho de Segurança da ONU que estabeleceu um cessar-fogo em todo o território sírio durante 30 dias, ao não fazer nada para evitar que os rebeldes atinjam Damasco com os seus morteiros.

No domingo, a Casa Branca divulgou um comunicado onde fez as acusações mais fortes à Rússia desde o início da guerra na Síria: “A Rússia continua a ignorar os termos [do cessar-fogo da ONU] e a matar civis inocentes a pretexto de falsas operações de contraterrorismo”.

No mesmo dia, Assad realizou uma conferência de imprensa onde classificou as afirmações que chegam do Ocidente sobre a situação humanitária em Ghouta “mentiras ridículas”.

Nas primeiras declarações públicas desde o início da ofensiva, o Presidente sírio realçou a importância do combate “contra o terrorismo”, garantindo que as operações militares no enclave vão continuar: “Vamos continuar a combater o terrorismo, e a operação em Ghouta é a continuação do combate ao terrorismo. Por isso temos de continuar com a operação e em paralelo abrir caminho para que os civis saiam”.

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, mais de 700 pessoas morreram em Ghouta e mais de 5600 ficaram feridas nas últimas semanas.

 

Sugerir correcção
Ler 19 comentários