Pedro Dias acusa um militar da GNR de agressão e o outro de matar casal por acidente

A versão não convenceu a procuradora que acompanhou o julgamento e pediu, nas alegações finais que se seguiram, que Pedro Dias fosse condenado à pena máxima, ou seja, 25 anos de prisão.

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Sergio Azenha

Foi com uma voz serena e pausada que Pedro Dias rompeu esta quinta-feira no Tribunal da Guarda o silêncio que manteve durante todo o processo. Falou já no final do julgamento, depois de toda a prova ter sido apresentada, para assumir que matou um militar da GNR com 29 anos, mas apenas porque este o agrediu com violência. Reconheceu igualmente ter atirado a matar sobre o outro militar que o abordou na madrugada de 11 de Outubro de 2016, já durante a fuga, numa altura em que este se “atira” a si. Mas nega ter assassinado um jovem casal, Liliane e Luís Pinto, que se dirigia para uma consulta de infertilidade em Coimbra quando com ele se cruzou na fuga.

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Foi com uma voz serena e pausada que Pedro Dias rompeu esta quinta-feira no Tribunal da Guarda o silêncio que manteve durante todo o processo. Falou já no final do julgamento, depois de toda a prova ter sido apresentada, para assumir que matou um militar da GNR com 29 anos, mas apenas porque este o agrediu com violência. Reconheceu igualmente ter atirado a matar sobre o outro militar que o abordou na madrugada de 11 de Outubro de 2016, já durante a fuga, numa altura em que este se “atira” a si. Mas nega ter assassinado um jovem casal, Liliane e Luís Pinto, que se dirigia para uma consulta de infertilidade em Coimbra quando com ele se cruzou na fuga.

A versão não convenceu a procuradora que acompanhou o julgamento e pediu, nas alegações finais que se seguiram, que Pedro Dias fosse condenado à pena máxima, ou seja, 25 anos de prisão. O mesmo pedido fez Pedro Proença, advogado dos dois militares, que apontou várias incongruências à versão de Pedro Dias. "O que assistimos hoje foi uma tentativa de homicídio ao carácter das vítimas, reagiu.

Atingidos por tiros da GNR?

Pedro Dias não foi categórico a dizer o que aconteceu ao casal Pinto, sugerindo que os dois foram mortos por disparos acidentais dados pelo militar, António Ferreira, que, por instantes, teria escapado ao seu controlo e se apoderara da arma que retirara ao colega que antes baleara mortalmente.

Contou que, na fuga, quando estavam parados na berma da estrada, na viatura da GNR, parou um carro e de dentro saiu um senhor aflito. Não percebeu o que disse, mas sabe que, por instantes, o militar que tinha sob ameaça de uma arma, escapa ao seu controlo e apodera-se de uma das pistolas que colocara no banco traseiro da viatura.  "O senhor Ferreira dá um tiro sobre o tejadilho do carro da patrulha", conta, dizendo que mais tarde ouviu mais dois ou três disparos. "Não percebi logo o que se tinha passado", afirma. Mas de uma coisa tem a certeza: não disparou contra o casal. Reconhece contudo ter-se apoderado do carro onde seguiam.

Conta que logo de seguida conseguiu apontar uma arma à cabeça de António Ferreira e, mais tarde, quando este se “atira” a si, dispara a matar. Nessa altura, revela, pensou em matar-se. Mas diz não o ter feito para que houvesse uma testemunha dos acontecimentos daquela madrugada, já que, na altura, estava convencido de que os restantes envolvidos estavam mortos.

Sobre o episódio que este na origem de tudo, o homicídio do militar de 29 anos, assume ser da sua responsabilidade, mas insiste que ocorreu num quadro de agressão. Diz que este lhe bateu com as algemas, uma das vezes na cabeça. Foi atingido por murros, pontapés, um deles nos testículos, e uma joelhada na zona lombar. "Puxo da minha arma para que aquilo acabasse", afirma. E insiste: "O meu objectivo não era matá-lo, mas fazer com que ele terminasse aquelas agressões."

Dormia numa zona isolada

O juiz questionou-o sobre se tinha a arma pronta a disparar e Pedro Dias assumiu que sim, sem explicar porquê. Antes, contou que estava a dormir pelas 2h30 quando foi abordado pelos militares da GNR numa zona isolada, junto à zona industrial de Vila Chã, em Aguiar da Beira. Pediram-lhe para sair do veículo e perguntaram-lhe várias vezes o que estava ali a fazer, já que era um local muito suspeito. Insiste que estava apenas a descansar, porque quase se tinha despistado pouco antes.

Pedro Dias negou ainda ter agredido uma mulher que era filha da dona de uma casa, em Moldes, onde se refugiou por alguns dias. Admitiu que se apercebeu que a mulher ia entrar na casa e a puxou para dentro. Mas não lhe bateu. Garante que durante a confusão os dois caíram no chão. Reconhece que desde o início a mulher ficou muito aflita e "começou logo a berrar muito". Um homem que estava por perto, veio socorrê-la e teve o mesmo destino. "Puxei esse senhor para dentro da casa", acrescenta. Admitiu ter amarrado os dois, ter-lhe incutido medo e ameaçado, porque precisava de umas horas de adianto. Diz que foi obrigado a amordaçar a mulher, porque ela não se calava. "Fui buscar duas batatas pequenas, lavei-as e forrei-as com pano", contou. Assegurou, contudo, que a intenção nunca foi matá-los, mas apenas impedir que o denunciassem.