“A universidade pública envelheceu. E isso é perigoso”

Para o reitor da Universidade Aberta, um modelo de ensino que passa por um professor entrar numa sala e dar a aula "já acabou".

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O reitor da Universidade Aberta considera que os alunos, hoje, são mais exigentes Sebastião Almeida

Os professores da Universidade Aberta não são mais novos do que os professores das outras instituições do ensino superior público, mas têm de ser bem mais fortes no domínio das competências digitais. Têm também de ter “uma visão estratégica completamente diferente do que é o processo de educação”, frisa o reitor Paulo Silva Dias, em entrevista ao PÚBLICO.

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Os professores da Universidade Aberta não são mais novos do que os professores das outras instituições do ensino superior público, mas têm de ser bem mais fortes no domínio das competências digitais. Têm também de ter “uma visão estratégica completamente diferente do que é o processo de educação”, frisa o reitor Paulo Silva Dias, em entrevista ao PÚBLICO.

Quem são os professores da Universidade Aberta?
São os professores que seguem a carreira normal do ensino superior. São exactamente os mesmos dos que estão noutros lados. Têm o mesmo percurso académico, os mesmos graus, o mesmo estatuto da carreira docente universitária. Têm de fazer as mesmas provas.

Mas têm de ter mais competências digitais?
Têm de ter muito mais. Há uma única diferença que é fundamental: um professor do ensino à distância tem de ter um forte domínio da pedagogia deste modelo de ensino e tem de ter um domínio tecnológico.

São mais novos do que nas outras instituições do ensino superior?
Não. Estamos a envelhecer todos. Olhe para mim. Não se esqueça que a universidade pública portuguesa foi sujeita a uma redução brutal do seu orçamento, com uma dificuldade enorme de renovação dos quadros. A universidade pública envelheceu. Bastante. E isso é perigoso. Estamos agora num momento de relativa abertura. Uma certa tentativa para conseguir rejuvenescer, contratar novos quadros, mas vai ser um processo de recuperação difícil. 

Voltando às diferenças, direi que um professor do ensino à distância tem de ter uma visão estratégica completamente diferente do que é o processo de educação. Não pode ser uma pessoa acomodada. Tem de ser criativo, aberto à inovação. Não entra numa sala e dá uma aula. Isso acabou. Mesma na universidade presencial já acabou.

Bem...
O problema é não se ter ainda percebido que já acabou. Mesmo a universidade presencial vai ter de alterar radicalmente o seu modo de estar. O aluno de hoje é muito mais exigente em termos de processos de comunicação, de interacção. O que se tem de fazer é construir a experiência de conhecimento. Não é fazer uma transferência de conhecimento. E isso é muito desafiador.

Quantos professores têm?
Cerca de 140. Depois temos um volume grande de tutores, que é variável. Que também têm formação específica para trabalhar connosco. Temos de ter tutores porque um professor não vai trabalhar com 500 alunos. Um professor trabalha no máximo com 60. Há um professor responsável pela unidade curricular e depois vai tendo os tutores necessários para garantir que há interacção com os alunos. Temos uma média de 200 tutores, o que dá um rácio [professor/aluno] muito interessante. Há aqui uma palavra-chave: hoje o ensino à distância é proximidade.