Kiev e separatistas trocaram mais de 300 prisioneiros de guerra

A operação ocorreu poucos dias depois de os EUA terem anunciado o início do fornecimento de armamento letal para o Exército ucraniano.

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A Ucrânia e as forças rebeldes que controlam parte do Leste do país levaram a cabo a maior troca de prisioneiros desde o início do conflito. Mais de 300 pessoas foram incluídas na troca que foi mediada pelos líderes ucraniano e russo e pelo chefe da Igreja Ortodoxa Russa.

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A Ucrânia e as forças rebeldes que controlam parte do Leste do país levaram a cabo a maior troca de prisioneiros desde o início do conflito. Mais de 300 pessoas foram incluídas na troca que foi mediada pelos líderes ucraniano e russo e pelo chefe da Igreja Ortodoxa Russa.

Kiev enviou cerca de 230 pessoas para as áreas controladas pelos grupos separatistas, nas regiões de Donetsk e Lugansk, que em troca concordaram em libertar 75 detidos. Inicialmente foi anunciado um número superior de prisioneiros envolvidos na operação, mas alguns preferiram permanecer nas zonas onde já se encontravam, diz a BBC. A troca ocorreu no checkpoint de Maiorsk, perto da cidade de Gorlivka, na linha de contacto entre os dois territórios.

“Não é possível imaginar o que significa para uma mãe não ver o filho durante três anos e meio”, disse ao canal ucraniano 112 a mãe de Alexandr Oliinik, preso pelos rebeldes desde o Verão de 2014.

São esperadas novas trocas de prisioneiros durante o próximo ano, disse à agência russa TASS o enviado ucraniano nas conversações de paz, Viktor Medvechuk. Permanecem 103 pessoas detidas pelos grupos rebeldes, segundo o Governo ucraniano.

Há mais de um ano que esta troca de prisioneiros estava a ser negociada entre Kiev e os grupos separatistas, com a mediação directa do Presidente russo, Vladimir Putin, e do líder da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Cirilo. O dirigente da Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE), Martin Sajdik, que tem monitorizado o cumprimento do cessar-fogo, disse que a operação é “um passo importante” e tem “um valor simbólico numa época de celebrações”. O Natal ortodoxo é assinalado a 7 de Janeiro.

A troca de prisioneiros é um dos poucos pilares do Acordo de Minsk – assinado no início de 2015 e que visa assegurar um cessar-fogo que abra caminho à resolução do conflito – que tem conhecido algum sucesso. O regime de tréguas em vigor há vários meses é quebrado quase diariamente, embora desde Fevereiro os combates se mantenham a uma intensidade baixa.

Apesar do sinal de confiança entre os dois lados demonstrado pela troca de prisioneiros, é pouco provável que se esteja mais próximo de uma solução política para um conflito que já causou mais de dez mil mortos e desalojou milhões de pessoas.

Os EUA e a União Europeia acusam a Rússia de apoiar militarmente os grupos rebeldes e fazem depender o levantamento das sanções económicas e a normalização das relações com Moscovo do cumprimento do Acordo de Minsk.

Armas para Kiev

Na semana passada, o Departamento de Estado dos EUA deu luz-verde ao fornecimento de armamento letal à Ucrânia. A decisão foi duramente criticada por Moscovo, que a considera um obstáculo à paz.

Esta era uma ambição antiga de Kiev que, no entanto, encontrou sempre resistência por parte da anterior Administração norte-americana – mesmo perante os avanços territoriais por parte dos rebeldes até à assinatura do Acordo de Minsk. A chegada de Donald Trump à Casa Branca, pressionado para adoptar uma postura mais dura em relação a Moscovo em virtude das investigações à alegada interferência russa em seu favor nas eleições presidenciais, tornou possível cumprir os desejos das autoridades ucranianas.

O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, disse que a decisão é uma “vacinação transatlântica contra o vírus da agressão russa”. Segundo a ABC News, os EUA vão vender 210 mísseis anti-tanques e 35 lança-rockets, num negócio no valor de 47 milhões de dólares (39 milhões de euros).

Apesar das garantias norte-americanas de que o armamento será “de natureza inteiramente defensiva”, a decisão irá “alimentar uma nova carnificina” e “atravessa-se no caminho do diálogo entre Kiev e Moscovo”, disse o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros, Grigorii Karasin.