Relatório censurado deixa Parlamento de Londres furioso com Governo de May

O ministro David Davis pode vir a ser acusado de crime de obstrução à acção legislativa, o que poderá levar à sua suspensão ou expulsão da Câmara dos Comuns.

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O ministro David Davis não confia nos deputados britânicos Eric Vidal/REUTERS

O Governo britânico tentou manter em segredo, até dos próprios deputados, uma ampla avaliação do impacte económico da saída do país da União Europeia. E quando se viu finalmente forçado a entregá-la ao Parlamento, fê-lo sob a forma de um documento de 850 páginas, com muitas passagens censuradas. O Parlamento britânico está em pé de guerra contra o executivo de Theresa May.

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O Governo britânico tentou manter em segredo, até dos próprios deputados, uma ampla avaliação do impacte económico da saída do país da União Europeia. E quando se viu finalmente forçado a entregá-la ao Parlamento, fê-lo sob a forma de um documento de 850 páginas, com muitas passagens censuradas. O Parlamento britânico está em pé de guerra contra o executivo de Theresa May.

Ministro para o "Brexit", David Davis corre o risco de ser considerado culpado de obstruir a acção parlamentar, depois de na segunda-feira ter entregue uma cópia do relatório em papel, após várias batalhas com políticos da oposição que reclamavam a divulgação de “58 estudos sobre como o ‘Brexit’ iria afectar os vários sectores económicos britânicos”. Da publicidade ao aeroespacial, da agricultura às telecomunicações, esperava-se que cobrisse cerca de 90% da economia e 58 sectores.

Não se sabe bem o que contêm as 850 páginas, uma vez que só foi entregue uma única cópiam que deve ser posta numa sala de leitura aberta aos deputados. Mas a convicção geral é que está a ser sonegada informação. “Estes documentos editados não estão de acordo com a resolução aprovada pela Câmara dos Comuns” que exigiu a sua divulgação, afirmou o deputado trabalhista Hillary Benn, da comissão parlamentar do “Brexit”.

“Isto não é um jogo. São as decisões mais importantes que este país tem de tomar em muitas décadas”, sublinhou no Parlamento Keir Starmer, coordenador da política para o “Brexit” dos Trabalhistas.

David Davis não se apresentou no debate no Parlamento esta terça-feira, mas escreveu uma carta à comissão parlamentar para o “Brexit” a dizer que o relatório tinha sido censurado porque não tinha tido garantias de que os deputados manteriam os pormenores sensíveis do documento em segredo, o que poderia deixar a diplomacia britânica em desvantagem nas negociações.

O seu vice, Robin Walker, foi ao Parlamento explicar de viva voz que foram apagadas informações que possam ter valor comercial e que possam causar dano à estratégia de negociações britânica com Bruxelas. Além disso, foi dizer que nunca houve 58 relatórios diferentes, como pediram os deputados. Os dados recolhidos foram organizados durante três semanas de uma forma “acessível e informativa”, disse.

Face à sugestão de que os deputados poderiam permitir fugas de informação sensível, o trabalhista Hillary Benn reagiu com indignação. Keir Starmer respondeu que a falta de transparência é um mal maior: “Na minha experiência, os maiores erros acontecem quando as decisões não são escrutinadas.”

A entrega de um documento censurado, e o assumir por parte do ministro de que receia que o Parlamento permita fugas de informação, pode levar os Trabalhistas e o Partido Nacional Escocês a iniciar o processo para seja considerado que Davis cometeu o crime de obstrução à acção legislativa do Parlamento. O que poderá levar à suspensão ou expulsão do ministro de Theresa May (conservadora) da Câmara dos Comuns. O seu futuro será decidido numa reunião da comissão do "Brexit" a marcar "para breve".