Pedro Teixeira da Mota está num Impasse. E ri, para não chorar

Em Impasse, Pedro Teixeira da Mota confessa não saber ser completamente adulto. É um “espectáculo de comédia stand up egocêntrico” — até porque seria estranho falar “do ponto de vista de uma miúda afegã”. O jovem comediante já esgotou três salas

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Nelson Garrido

Pedro Teixeira da Mota e a Internet são “grandes amigos”, mas o comediante não lhe conta tudo nos vídeos que faz para o Facebook e YouTube, nas fotografias do Instagram ou no podcast semanal Ask.TM, que ocupa o top dos mais ouvidos em Portugal. As melhores piadas ficam reservadas para o “público mais fiel”, que esgotou as três datas que acolhem o primeiro espectáculo a solo do comediante lisboeta: no Tivoli, em Lisboa, esta terça e quarta-feira (14 e 15 de Novembro), e no Hard Club, no Porto, no sábado (dia 18). 

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Pedro Teixeira da Mota e a Internet são “grandes amigos”, mas o comediante não lhe conta tudo nos vídeos que faz para o Facebook e YouTube, nas fotografias do Instagram ou no podcast semanal Ask.TM, que ocupa o top dos mais ouvidos em Portugal. As melhores piadas ficam reservadas para o “público mais fiel”, que esgotou as três datas que acolhem o primeiro espectáculo a solo do comediante lisboeta: no Tivoli, em Lisboa, esta terça e quarta-feira (14 e 15 de Novembro), e no Hard Club, no Porto, no sábado (dia 18). 

Não lhes chama fãs porque quem tem fãs “são os Pearl Jam”. Chama-lhes simplesmente pessoas que apreciam o suficiente o seu trabalho para “comprar o bilhete, tirar o tempo para ir ter ao teatro, estar lá 20 minutos à espera que comece e depois conduzir de voltar para casa”. É com estas que tem “um contrato”: elas “pagam 12 euros pelo bilhete”, ele fá-las rir. Isto porque seguir o trabalho que desenvolve nas redes sociais “é muito fácil”. “Põem gosto, adeus, já estão a ver outra coisa.”

Talvez por isso seja aos “fãs que não chama fãs” que confidencia estar, aos 23 anos, num Impasse. Ou melhor: “Aos 23 anos tudo é um impasse.” A situação é recorrente. “Eu vou ao mecânico e vou ser eu a pagar o arranjo com o dinheiro que fiz. Mas não percebo o que é que ele está a dizer e depois tenho de perguntar ao meu pai o que é que são as velas.” Continua: “E, nas finanças, qual é a diferença entre o IRS e o IRC? Por um lado já pago, por outro não sei bem o que estou a pagar”, descreve ao P3, na esplanada do Hard Club, onde vai actuar, no Porto.

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O comediante na sala do Hard Club, no Porto, onde vai actuar Nelson Garrido

No palco vai falar das suas “fragilidades”, de “como é não saber lidar com certas situações” e sobre aquelas “tantas vezes em que estamos nisto de ser adulto, mas não sabemos bem ser adulto”. “É um espectáculo de comédia stand up muito egocêntrico”, avisa. “É sobre mim, sobre coisas que me acontecem e sobre o que eu acho. Não ia estar a falar do ponto de vista de uma miúda afegã” — essa perspectiva fica para um segundo solo, brinca.

O mesmo registo, piadas diferentes

Pedro Teixeira da Mota garante que quem o segue nas redes sociais — tem mais de 61 mil seguidores no Facebook — vai gostar “ainda mais” de o ver ao vivo. “É o feedback que tenho sempre, sou muito melhor ao vivo do que na Internet.” Um ranking das suas qualidades seria mais ou menos assim: “em primeiro lugar o stand up, em segundo o podcast, terceiro os textos e, por último, os vídeos”, enumera, sem precisar de pensar muito.

Ironicamente, foi a fazer vídeos com os Bumerangue, por brincadeira, que se apresentou ao mundo, isto é, à Internet (o grupo entretanto terminou e cada um dos membros começou os seus próprios projectos a solo). “Os vídeos dependem imenso da edição e eu não sou editor de vídeo”, sublinha o jovem, licenciado em Gestão — e, que se tudo correr bem, nunca vai fazer nada disso. “Posso ter uma ideia muito boa e o vídeo estar muito bom, mas se não mudei o plano no momento certo aquilo não vai funcionar tão bem.”

Já no stand up, tudo depende dele. “Sou eu que escrevo os textos, sou eu que interpreto, sou eu que faço as caras, as vozes, as pausas. É muito mais cru e esse é que é o verdadeiro teste para o comediante”, assegura. O mais próximo disso, no virtual, é o podcast de meia hora, todos os domingos, em que responde a perguntas que os seguidores lhe fazem nas várias redes sociais e fala de “assuntos bizarros”. “Eu ali estou mesmo eu e é onde estou mais entusiasmado agora”, confessa.

Um produto da Internet que se quer fora dela

Sem Internet, chegaria a comediante? “Hoje em dia, sem Internet?!”, pergunta de volta, como se o cenário que propomos fosse inimaginável. “Sem Internet ninguém consegue”, responde. “Ninguém me vai apanhar num jardim a contar piadas, achar-me hilariante e de repente vão mil pessoas ver-me não sei onde”, ironiza. “Não, dantes funcionava de maneira diferente, se calhar tinhas de ir bater às portas dos cafés e dizer: ‘olha, tenho umas piadas, vou contá-las’. Os tempos mudam. Hoje em dia, o tempo é da Internet e eu sou um produto da Internet”, diz, mais sério. E explica: “A minha profissão é stand up comedian, faço stand up e depois conteúdos para a Internet para as pessoas virem ver os meus espectáculos ao vivo.” O “derradeiro objectivo”, reconhece, “não é ter dois mil gostos numa fotografia, é encher o Tivoli e o Hard Club — como por acaso aconteceu”.

Até porque não há “só comediantes das redes sociais”. “Se eu agora fizer uma hora de stand up e não valer nada não sou comediante. Tem que se conciliar tudo”, acredita. “Tenho que ter fotografias boas, vídeos interessantes, tenho que ser bom em edição, bom a falar em entrevistas, bom no stand up. 

Isto e não ceder aos temas mais falados do dia, acrescenta. “Não gosto de fazer humor de actualidade porque morre, desaparece. Daqui a uma semana já ninguém quer saber do WebSummit”, garante. “Recentemente, por exemplo, houve a polémica do Urban ter fechado. São tantas pessoas a falar, todos os ângulos já foram vistos, todos os trocadilhos com ‘em vez de pedir factura vou pedir fractura’, ‘vou aparecer lá não é com cartão de cidadão, é com cartão de utente’ já foram feitos.”

E depois do Impasse?

A felicidade de ter um vídeo viral “não se compara” à de ter esgotado três salas. Por isso é que, “se tudo correr bem”, as perspectivas são “fazer coisas maiores, em salas maiores e em mais cidades”. O objectivo não é “trabalhar para um nicho”. “Quero que o maior número de pessoas me conheçam e gostem de mim”, diz. E, quem sabe, “encher o Coliseu e o Altice Arena”. Podemos garantir que, desta vez, Pedro Teixeira da Mota estava mesmo a falar a sério.